paris, outubro de 2012
AK 47 é seu braço mecânico
Alá é sua muleta
Às 21h49, ele abriu fogo no Bataclan
Matou 10, 20, 80
Mas matou muito mais que isso, esse estéril escravo da violência
Maculou também as memórias suaves de multidões de sortudos
Que um dia se renderam ao óbvio
Lembranças de uma taça de vinho no Botak Café, redenção da fadiga de Sacré-Coeur
Um macaron pedante no Quartier Latin, um gibi que levou os olhos da cara em Saint-Martin
Um frio de gelar os ossos no Lapin Agile, um quase refém no cabaré
lotado de turistas japoneses perdidos
Um porre antigo no Batofar, no tempo da delicadeza
Queijos e vinhos refrigerados no lado de fora da janela do hotel, por falta de frigobar na tarifa
O terror atenta contra a tua ternura
Atenta contra a tua humanidade
Atenta contra tua memorabilia de viajante de segunda classe
Os selfies desajeitados na frente da torre
A eterna aglomeração na Gioconda
A chegada cercada de sirenes do Tour de France
As flores secas na saída do túnel, tributo à princesa britânica
A deliciosa conta de um dígito do bistrô Paul, sopa e un verre de vin pour deux
O café de todo dia no marroquino de Marcadet-Poissonnier
129 nomes desaparecidos na Sexta 13.
Sangue que escorre do Bataclan
Essa brutalidade que agora se superpõe às memórias do mundo inteiro como uma neblina de enxofre
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