O baú do Baleiro

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Foto: Silvia Zamboni

O maranhense Zeca Baleiro lança em todas as plataformas digitais, na sexta-feira 1º de setembro, o disco Arquivo_Duetos 1. Ao menos por enquanto o álbum não terá edição física. A compilação reúne 11 gravações que o maranhense divide com nomes nacionais e estrangeiros: em ordem alfabética, Alessandra Maestrini, Bernard Fines, Blubell, Dandara, Edgard Scandurra, Fagner, GOG, Higo Melo, Kana, Nicola Són, Paulo Monarco, Samantha Navarro, Susana TravassosWado.

“Em 2017 meu primeiro disco completa 20 anos. Eu resolvi remexer nos arquivos que eu tenho e havia um material consistente, que valia a pena botar no mundo. Assim surgiu essa série de lançamentos, eu não sei quantos álbuns serão”, revelou o cantor e compositor em entrevista coletiva concedida pelo YouTube. “A primeira ideia que surgiu foi o álbum de colaborações, de duetos, porque havia muitos. Coisas que fiz para trilhas de filmes, colaborações em discos de outros artistas, outros artistas que colaboraram em discos meus, projetos especiais. Nesse primeiro volume tem dois franceses, a uruguaia Samantha Navarro, a portuguesa Susana Travassos, a japonesa Kana, é um disco bem colorido, cheio de nuances, foi isso que me moveu a fazer essa coletânea. Dá para fazer pelo menos uns quatro álbuns com essas coisas de arquivos desses 20 anos.”

Foto: Silvia Zamboni

O disco faz parte das comemorações pelos 20 anos de carreira de Baleiro, contados a partir do disco de estreia, Por Onde Andará Stephen Fry?, lançado em 1997. “Eu já trabalhava com música dez anos antes, pode-se dizer que tenho 30 anos de carreira. Quando se fala em carreira geralmente se fala em carreira discográfica. Essa fase anterior não conta muito, em termos gerais. Mas pelo menos desde 1987 eu trabalho com música profissionalmente, primeiro fazendo trilhas para teatro lá em São Luís do Maranhão. Tenho uma demo que talvez eu transforme num vinil, precisa de muitas autorizações. Foi a demo que gerou a gravação de meu primeiro disco”, continuou a abrir o baú.

É a primeira vez em 20 anos que um disco de Baleiro não terá edição física. Indago-lhe se é um sinal dos tempos ou um ponto fora da curva em sua carreira. “Sinal dos tempos, uma experiência. O artista tem que estar aberto para essas coisas. Eu sou dos mais apegados com o formato físico. Sou um colecionador, um cara que tenho apego pelo formato, pelo encarte, por ler as letras. Mas você tem que se permitir certas experiências. Nem digo se moldar, pois não estou me moldando a nada. Quando surgiu essa conversa eu achei interessante, vamos ver até onde isso chega. Lançar uns dois ou três álbuns com material de acervo e ver até onde isso vai.”

Ele não prevê uma turnê específica para Arquivo_Duetos 1. “É um show difícil de levar para turnê, eu teria que levar pelo menos 11 artistas junto comigo. São 11 faixas, algumas com dois cantores. O que eu devo fazer é incorporar algumas dessas canções no repertório de meus shows. Isso naturalmente vai acontecer. Mas uma turnê específica desse disco, não. É um retrato, um instantâneo de um período da carreira”, ponderou.

Lançamento de seu próprio selo, o Saravá Discos, Arquivo_Duetos 1 tem de jazz cigano (“Que Amor É Esse?”, dueto com Alessandra Maestrini) a rap (“O Peso da Palavra”, com GOG e Higo Melo), passando por versão em francês para composição de Baleiro (“Le Reste on S’en Fiche”, para “Skap”, com Bernard Fines). Indago-lhe algumas ausências sentidas, entre tantas notáveis parcerias. Ele responde mantendo a habitual elegância: “Infelizmente não dá para botar tudo. Alguns critérios você tem que criar. Um deles é a própria qualidade da faixa. Às vezes você até gosta da música, mas se não gostei da minha performance ali, é um critério. Não quero fazer durar esse desconforto. Outra é quantidade: é uma limitação numérica. Mesmo sendo digital, não acho aceitável fazer 16 músicas. Tem que haver a perspectiva de um disco físico, 35, 40 minutos no máximo, que é o tempo que acho que as pessoas têm disponível. Os critérios são muito pessoais”.

Ele deu pistas do que os fãs podem esperar num segundo volume de duetos, já em vias de finalização, além de outros discos com faixas pescadas de seu baú. “O volume 2 terá as gravações que restaram e um terceiro volume de dispersas ou raras e dispersas, que foram canções que ficaram no meio do caminho. Por exemplo, gravei “Baioque”, do Chico Buarque, para a trilha da novela Joia Rara, mas a música não foi aprovada. Eu fiz um rock e a expectativa era de uma coisa mais acústica, o briefing não foi bem dado. Eu li que o Roberto [Carlos] ia fazer um disco só com novos compositores, fiz uma canção e mandei. Tempos depois eu fiquei sabendo que a música não chegou às mãos do Roberto. Depois revi a demo e fiz ao vivo com meu pianista, o [Adriano] Magoo, e por que não? O Roberto não vai gravar mesmo [risos]. Sobras de estúdio, uma música do Tom Zé que eu gravei e não foi ao disco. Bem alinhadas dá para construir uma quase narrativa”, antecipou.

O primeiro single de Arquivo_Duetos 1 a ser disponibilizado no youtube foi “Que Amor É Esse?”, composto para a trilha sonora do filme O Amor no Divã, de Alexandre Reinecke. Narra a briga de um casal que se separa. Lembrei-me de “Tua Cantiga”, de Chico Buarque, que antecipou Caravanas, seu novo disco, e rendeu ao compositor uma polêmica nas redes sociais e adjetivos como “machista” e “antiquado”.

Perguntei ao maranhense se ele havia acompanhado a repercussão e sua opinião sobre o assunto. “Acompanhei com certa preguiça, achei falta de assunto. Polêmica nas redes geralmente é falta de assunto. É difícil você ver algo que vá fazer diferença em nossas vidas. É um verso inócuo, é um personagem. O poeta tem a liberdade da fala, abre as picadas para quem não tem essa voz. Se você começa a se vigiar demais, onde a gente vai chegar? Eu me preocupo, em certa medida. Eu tenho uma patrulha em casa, dois filhos adolescentes, que têm uma preocupação com o politicamente correto. Eu já não tenho nenhuma [risos]”, finalizou.

CAPA_DUETOS_1

Repertório de Arquivo_Duetos 1

  1. “Que Amor É Esse?”, com Alessandra Maestrini
  2. “A Tardinha”, com Blubell
  3. “Corações Ternos”, com Nicola Són e Edgard Scandurra
  4. O Peso da Palavra”, com GOG e Higo Melo
  5. “O Mundo”, com Susana Travassos
  6. “A Canção Brasileira”, com Fagner
  7. “Le Reste on S’en Fiche”, com Bernard Fines
  8. “Arenal”, com Samantha Navarro
  9. “Zás”, com Wado
  10. “Tem Dó”, com Paulo Monarco e Dandara
  11. “O Primeiro Passo”, com Kana

 

(Texto publicado originalmente no blog de Zema Ribeiro.)

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