‘Matou a Família e Foi ao Cinema’ agora no palco

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Imagem de uma cena da peça "Um Clássico: Matou a família e foi ao cinema", do Grupo XIX de Teatro, em São Paulo
Imagem de uma cena da peça "Um Clássico: Matou a família e foi ao cinema", do Grupo XIX de Teatro, em São Paulo - Foto: Divulgação/ Danny Fontana

Na charmosa Vila Maria Zélia, na zona leste paulistana, o Grupo XIX de Teatro decidiu revisitar, de forma criativa, duas obras emblemáticas do fim dos anos 1960: Matou a Família e Foi ao Cinema, de Júlio Bressane, que chocou a sociedade com a história de jovem sem escrúpulos da alta sociedade carioca, e Um Clássico, Dois em Casa, Nenhum Jogo Fora, de Djalma Limongi, este que foi um dos primeiros filmes brasileiros a tratar das relações homoafetivas. Mais de meio século depois, é inquietante notar a perturbadora atualidade do incômodo que os dos dois longas ainda provocam mesmo com essa recriação cênica.

Longe de ser uma mera adaptação, o espetáculo do Grupo XIX de Teatro, batizado de Um Clássico: Matou a Família e Foi ao Cinema, surge como uma peça singular, urdindo uma diálogo inusitado entre as linguagens do palco e da tela grande. Na verdade, um telão que surge de tempos em tempos para costurar o audiovisual com o jogo cênico que cinco atores (Bruna Mascarenhas, Clara Paixão, Carlos Jordão, Lucas Rocha e Walmick de Holanda) apresentarão ao público. A peça, sob a batuta de Luiz Fernando Marques, o Lubi, procura tensionar o que era projetado na tela da década dos anos 1960 e o que pulsa hoje, 2025.

Peça do Grupo XIX de Teatro – Foto: Divulgação

Trata-se de uma imersão nesse universo peculiar, propondo um olhar crítico e contemporâneoa a temas como a busca por pertencimento e a banalização da violência. É, também, uma forma de opor o desejo sempre latente por uma insurreição, seja lá por qual motivo, e uma paralisante capacidade de agir. O resultado é uma narrativa híbrida e, sim, intigrante. A presença em cena de duas mulheres, dois homens e um narrador projeta o tempo todo um jogo de espelhos entre passado e presente. Cabe ao espectador construir muitos dos significados que são apenas lançados no ar.

É irônico que em um mundo, mas particularmente em um País, que soterra antigos cinemas de rua, e que muitos acabam sendo ocupados por templos evangélicos, tocar em temas homoafetivos é um sinal de alerta: o passado em preto e branco ainda guarda as mesmas matizes do conservadorismo reacionário.

Um Clássico: Matou a Família e Foi ao Cinema é um convite à desacomodação, a abandonar nossos próprios imobilismos diante de inúmeras urgências do real. A curta temporada da peça na Vila Maria Zélia, com sessões duplas e preços acessíveis, é um chamado para mirar um espelho distorcido, mas revelador do nosso tempo presente.

Um Clássico: Matou a Família e Foi ao Cinema. Com o Grupo XIX de Teatro. Na Vila Maria Zélia, sábados e domingos (16 e 18 horas) até 27 de abril; sessões extras dia 21 (segunda-feira). Ingressos a 40 reais (Sympla).

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