MC Caverinha Foto: FAROFAFÁ IMAGENS

A pouco conhecida gravadora e produtora GR6 (atualmente a maior de música urbana da América Latina) pagou R$ 5,5 milhões em tributos federais no Brasil em 2023, ultrapassando a principal empresa de entretenimento do setor, a T4F (Time For Fun), responsável pelas maiores turnês de artistas internacionais, como Taylor Swift e os gigantes nacionais, que pagou R$ 5,2 milhões. A companhia tem em seu portfólio alguns dos MCs mais famosos do Brasil, como MC Binn, MC Livinho, MC Don Juan, MC Dricka (mulher preta, periférica e declarada LGBTQIA+, concorreu ao BET Awards em 2021) e o caçula MC Caverinha, o Príncipe do Trap, de apenas 16 anos. São astros de outra constelação que afirmam a vitalidade da cultura das periferias e da nova realidade de afirmação racial do Brasil, e a GR6 desponta como a usina de sonhos desse universo.

MC Caverinha, que faz rimas profissionalmente desde os 11 anos (quando viralizou um vídeo que ele fez com um amigo), lançou ontem seu disco de estreia, Relatos (GR6/Som Livre), com um show na Galeria Vermelho, nas proximidades da Avenida Paulista, tendo como convidados astros veteranos como Baco Exu do Blues. Vestido com roupa exclusiva da Lacoste, acompanhado de toda a família e dando entrevista sobre um tapete de pétalas de rosas vermelhas, Caverinha é a própria imagem da autoconfiança de menino. “Sempre fui desinibido”, brincou, trollando os pais continuamente. “Nunca me apoiaram, vejam vocês!”, afirmou o MC, que tem 5 milhões de seguidores somente no Instagram. Seu trap tem uma pegada mais romântica, algum sabor de teen angst, e a capacidade de improvisação é imensa.

O nome real de Caverinha é Kauê de Queiroz Benevides Menezes, que alguns encaixaram no rótulo “trap-ostentação”, e ele tinha lançado anteriormente os singles “Não Pisa no Meu Boot” (2019) e “Cartão Black” (2021), essa última dividida com o trapper KayBlack (que é irmão de Caverinha) e com quase 140 milhões de acessos no Spotify.

Dirigida pelo empresário Rodrigo Oliveira, a potência por trás de estrelas como MC Caveirinha, GR6, possui 12 estúdios de gravação equipados com alta tecnologia e anuncia uma estrutura de produtora de 360 graus: é também editora, agenciadora, oferece assistência jurídica e media training e se cerca de um time de profissionais especializados que prometem criar e atender qualquer demanda. “Queremos que a GR6 seja um polo de produção de conteúdo, o maior da América Latina, e com muita qualidade”, disse Oliveira. FAROFAFÁ conversou brevemente com MC Caverinha:

FAROFAFÁ: Você é um jovem astro negro de um país de astros negros, um país que tem Milton Nascimento, Djavan, Emicida, Criolo. Você costuma ouvir esses que vieram antes? 

MC Caverinha: Eu acho que, mano, é desde pequeno. Meu pai também já tocava samba, tá ligado? E esse bagulho também veio bastante dele, é influência dele, de convívios e tal, e eu sempre venho escutando bastante. Emicida, Mano Brown, Seu Jorge. Seu Jorge, cê é louco?, sou muito fã dele. E trombei ele num desfile, tá ligado? Fui fazer o desfile, trombei ele no desfile, ele passou, mano, várias razão para mim. Eu falei: Meu Deus! O bagulho é muito importante para eu tá fazendo o que faço, é muito forte, porque é um cara que já viveu tudo o que eu vou viver agora, tá ligado? E me passando essa visão de experiência própria, é uma parada muito gratificante, tá ligado? Escutar isso dos caras bons.

FFF: Você falou agora há pouco: “Aqui está um preto feliz”. O que significa?

MCC: É um outro lance, é outra fita, é a sensação de quem venceu. Tá ligado? É a sensação de… Mano, tava lá atrás e hoje poder estar no topo fazendo várias fita.

FFF: E é uma vitória diferente?

MCC: Eu acho.

FFF: Mas você sempre teve essa consciência ou você tá tendo só agora?

MCC: Tô tendo agora, tá ligado? Porque antigamente, antigamente… Nem cresci muito e já tô falando antigamente. Mas, tipo, acho que é o tempo atrás, eu tinha menos idade, tá ligado? Já era mais criança, tá ligado? Não sabia muito me comportar na frente das câmeras, já era aquela pessoa mais desligada que falava, tá ligado? Hoje, eu acho que já sei falar as coisas certas, já tô com a maturidade suficiente para isso, tá ligado, certo? 

FFF: E quando você fala “a favela venceu”, você quer dizer o quê?

MCC: Você notou, certo? Que tem mais preto no jogo agora. Você tá observando algum movimento social assim. Veja, mano, o Djonga. É um cara que me inspirou pra caramba. Tá ligado? Acho que absorvi muitas letras dele, tem muita vivência que ele sempre me falou também, sempre me passou uma visão, e pá, é uma parada extremamente importante para mim, mano, tá ouvindo dos caras que já é experiente nas pistas e tá fazendo o mesmo que esses caras agora é muito bom.

FFF: Você tem um repertório, eu vejo nos vídeos e tal, no qual fala a linguagem das ruas com muita facilidade. Você parece que fala diretamente das ruas.

MCC: É igual aquele ditado: a gente sai da quebrada, mas a quebrada não sai da gente.

FFF: Você sente alguma responsabilidade especial por causa disso?

MCC: Acho que é porque já vi minha mãe, meu pai, minha família, tá ligado?, passar muito sufoco. Então já venho criando essa responsabilidade desde cedo, de não querer ver meu pai entrar na vida do crime de novo. Tá ligado, né? Meus irmãos, nunca mexer com arma, com droga, essas fita. É um bagulho que me motiva cada dia mais, tá ligado? Valeu? Tá bom?

A equipe da prodigiosa GR6, maior gravadora de música urbana da América Latina no momento

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