Palmares recusa vencedores do concurso para seu novo logotipo

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A presença rarefeita e sem representatividade de negros no governo Bolsonaro tem servido para a negação das lutas afirmativas e reforçar a imagem conveniente da docilidade histórica

A Fundação Cultural Palmares, entidade vinculada da Secretaria Especial de Cultura do governo federal, recusou nesta segunda-feira, 22, as três propostas vencedoras do concurso aberto em 18 de agosto pela própria gestão atual para definir um novo logotipo para a instituição. O presidente da Fundação, Sérgio Camargo, empenhado em questionar toda a luta afirmativa do povo negro no Brasil, decidiu que iria trocar o atual logotipo da Palmares, uma estilização do machado de Xangô – um dos principais orixás do candomblé, e um símbolo que ratifica a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira.

A publicação da recusa saiu nesta segunda-feira, 22, no Diário Oficial da União. As três propostas foram escolhidas por um júri que teve orientação e representantes do próprio Sérgio Camargo, mas ele não ficou satisfeito com o resultado. Não se sabe quais são os logotipos recusados, mas as razões alegadas para o cancelamento são que não cumpriram os requisitos de “adotar formas e cores que remetam única e exclusivamente à Nação brasileira, considerando também a condição de Estado laico do Brasil” e não foram apresentados em duas versões (multicolorida e preto e branco).

Os escolhidos pelo júri, que agora têm 5 dias úteis para contestar a decisão, estavam em disputa pelo prêmio de R$ 20 mil pela classificação em primeiro lugar pelos novos logotipo e logomarca institucional. O aviso de que “não houve vencedores” foi assinado por Marcos Petruccelli, diretor de Fomento e Promoção da Cultura Afro-Brasileira da Fundação Cultural Palmares. A questão da laicidade é empregada erroneamente (e deliberadamente) pela direção da Palmares: todas as manifestações culturais das pessoas que foram trazidas ao Brasil como escravizadas estão diretamente associadas às celebrações religiosas e rituais de origem africana.

Sem apoio algum de entidades de representação da cultura e da cidadania, o presidente da Fundação Palmares passa os dias nas redes sociais fazendo piadas grosseiras com ativistas e artistas e ameaçando destruir o legado da instituição – a última dele é a intenção manifesta de mudar o nome da Palmares para Fundação Princesa Isabel. Essa intenção desqualifica toda a luta abolicionista, repassando para a vontade exclusiva do Império, e para um suposto ato de magnanimidade dos brancos, a grande conquista do povo negro (que levou três séculos, teve muito sangue derramado e teve o saldo de quase 5 milhões de pessoas escravizadas).

Investigado pelo TCU, sem poder nomear servidores na fundação (por decisão da Justiça do Trabalho, que acolheu acusação de assédio moral) e isolado em sua torre de marfim, respondendo a dezenas de processos, Camargo tornou-se provavelmente o mais virulento e descontrolado funcionário da cúpula da Cultura no governo Bolsonaro. E olha que é uma disputa fraticida.

 

ATUALIZAÇÃO (13h47):

Há alguns minutos, pressionado pela repercussão desta reportagem, o presidente da Fundação Palmares escreveu o seguinte no Twitter

 

 

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