Um jazz que se alimenta de sertão, um sertão que se embebeda de fusion. A música instrumental dos jovens Pedro Martins, guitarrista brasiliense de 26 anos, e Michael Pipoquinha, contrabaixista cearense de 24 anos, é uma suave viagem entre polos sonoros empreendida a partir de tradições arraigadas e prospecções originais – na nobilíssima linhagem que teve em outros tempos Ron Carter e Jim Hall, Niels-Henning Pedersen e Joe Pass, Charlie Haden e Pat Metheny.
A junção de Pipoquinha e Martins marca um raro encontro artístico. Martins é jovem, mas tem uma trajetória estrelada – em 2015, ganhou o primeiro prêmio no concurso de guitarra do Montreux Jazz Festival, deixando muito impressionados os jurados (entre eles, os lendários John McLaughlin e Kurt Rosenwinkel). Rosenwinkel então o convidou para integrar um grupo de turnê, que acabou tocando na abertura de shows de Eric Clapton pela Europa. Em seguida, Pedro foi parar no palco do Crossroads Festival, em Dallas, mantido por Clapton. Baixista desde os 13 anos, Pipoquinha é um prodígio, discípulo de Arthur Maia (saudoso contrabaixista, de Niterói) e Arismar do Espírito Santo (aclamado multi-instrumentista), fã contumaz de Jaco Pastorius.
Juntos, lançaram agora Cumplicidade (sob patrocínio do programa cultural da Petrobras), um disco de profunda pesquisa harmônica, encantado em sua contracorrente, que conta com participações da cantora Mônica Salmaso (em “Bolero de Satã”) e Toninho Horta (em “Mr. Herbie”). As músicas que tocam, que vão de “Azeitona” (Hermeto Pascoal) e “Desilusão” (Dominguinhos/Anastácia) a “Ninho de Vespa” (Dori Cammi e Paulo Cesar Pinheiro) e “Bolero de Satã” (Guinga), permitem vislumbrar a lava das junções perfeitas.