Elton Medeiros (1930-2019)

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Elton entre Paulinho da Viola e Clementina de Jesus

“Uns com tanto/ outros tantos com algum/ mas a maioria sem nenhum.” Novamente muito atuais, os versos de “Maioria sem Nenhum” (1966) foram lançados por Elton Medeiros em seu álbum de estreia, Na Madrugada, dividido com o jovem Paulinho da Viola, então com 23 anos. Elton tinha 36 anos, e cuidava de metade das faixas de Na Madrugada, em sambas como “Sofreguidão” (parceria com o mestre então reaparecido Cartola), “Mascarada” e “Samba Original” (ambas com Zé Keti) e “Perfeito Amor” (com Hermínio Bello de Carvalho).

De óculos, à direita de Paulinho da Viola, na capa do primeiro LP do Conjunto A Voz do Morro, “Roda de Samba” (1965)

“Maioria sem Nenhum” consolidava a verve de Elton para o samba de protesto, influência da fase Opinião da nascente MPB, quando a capixaba bossa-novista Nara Leão associara-se ao carioca Zé Keti e ao maranhense João do Vale, para transmutar a bossa no folk nacional a que se convencionou chamar canção de protesto. De Elton, Nara gravou, em 1964, o clássico “O Sol Nascerá” (outra parceria com Cartola), também conhecido como “A Sorrir”.

Elton vinha já de trajetória reta, como integrante do Conjunto A Voz do Morro (de que participaram, em várias formações, Paulinho, Zé Keti, Jair do CavaquinhoAnescar do Salgueiro Nelson Sargento, entre outros) e do Conjunto Rosa de Ouro, de acompanhamento das cantoras  Aracy Côrtes Clementina de Jesus no show Rosa de Ouro (1965).

Com A Voz do Morro, Elton lançou “Mascarada”, “Injúria” (com Cartola), “Sorri” (com Zé Keti) e “Tanta Tristeza” (com Kleber Santos), entre outros sambas. Do espetáculo dirigido por Hermínio, nasceram sambas históricos de Elton, como “Rosa de Ouro” (com Hermínio e Paulinho), “Quatro Crioulos” (com Joacyr Santana) e “Clementina, Cadê Você?”.

O disco com Paulinho não fez deslanchar a história solo do quase veterano, que prosseguiu como integrante dos Cinco Crioulos, que lançaram três LPs de samba duro entre 1967 e 1969, com Anescar, Jair, Sargento e Mauro Duarte como integrantes. Ali, Elton compôs “Aurora de Paz” (com Cacaso), “Desculpar, Não Desculpei” e “Aquela Nega” (ambas com Nuno Veloso). A carreira individual só se iniciou de fato em 1973, com o álbum Elton Medeiros, com versões de autor para “Mascarada”, “Pressentimento”, “Fotos e Fatos”, “Mascarada”,  “O Sol Nascerá”, “Sei Chorar”…

Notório tocador de caixa de fósforo, ele gravaria apenas mais três álbuns solo entre 1980 e 2005, além de discos-projeto dedicados à obra de Cartola, com Márcia (1998) e com Nelson Sargento (1999), e um LP dividido por quatro com Nelson CavaquinhoCandeia Guilherme de Brito (Quatro Grandes do Samba, de 1977, onde apresentou “Sem Ilusão”, “Chove e Não Molha” e “Rita Maloca”).

O compositor foi gravado por muita gente: MPB 4 e Quarteto em Cy (“Mascarada”, 1964), Elizeth Cardoso (em três faixas de Elizete Sobe o Morro, de 1965; “Camisa Branca”, 1970), Jair Rodrigues (“Mascarada”, 1966), Dalva de Oliveira (“Folhas no Ar”, 1968), Doris Monteiro (“Se o Carnaval Acabar”, 1968), Elza Soares (“Folhas no Ar”, 1968), Roberto Silva (“Pressentimento”, 1968), Marília Medalha (“Pressentimento”, 1969), Clara Nunes (“Meu Sapato Já Furou”, 1974), Maria Creuza (“Chega pra Lá”, 1975), Eliana Pittman (“Perfeito Amor”, 1976), Célia (“A Mesma Estória”, 1977), Márcia (“Avenida Fechada”, 1977), Cristina Buarque (“Vida”, 1978), Alcione (“A Ponte”, 1980)…

Os parceiros também gravaram sambas compostos com Elton: Paulinho da Viola (“Moemá Morenou”, 1971; “Nova Alegria”, 1975; “Sentimento Perdido”, 1978; “Onde a Dor Não Tem Razão”, 1981) Cartola (“Peito Vazio”, em 1976), Tom Zé (“Tô” e “Mãe”, 1976), Martinho da Vila (“Lusofonia”, 2000). Em anos mais recentes, vozes como as de Alice CaymmiÁurea MartinsCida MoreiraClara MorenoFabiana CozzaTeresa Cristina Zélia Duncan têm colaborado para manter vivo o cancioneiro de Elton Medeiros, morto aos 89 anos, neste 4 de setembro de 2019.

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