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“O violão planta e colhe belas amizades”, me diz Turíbio Santos por e-mail, anunciando a participação do também maranhense João Pedro Borges no próximo Festival Vale do Café, de 19 a 28 de julho, em Vassouras/RJ, evento que também terá a presença do percussionista Ricardo Costa e homenagens ao violonista Francisco Frias, o Bolinha, falecido este ano.
Mas conversávamos sobre outro encontro de Turíbio Santos e João Pedro Borges – dois dos nomes mais importantes do violão brasileiro em todos os tempos, ambos nascidos em São Luís do Maranhão: com o gigante Baden Powell, referência para ambos e para qualquer violonista que se preze.
O encontro se deu em 1986, no Festival de Violão da Martinica, que teve direção artística do cubano Leo Brouwer, outra referência no instrumento, e foi dedicada ao Brasil. Conforme conta a biógrafa de Baden Powell, “encarregado de montar a programação, o violonista Turíbio Santos convidou uma variada e rica amostra de violonistas brasileiros”, com as presenças de, entre outros, Elomar, João Omar, Xangai, Geraldo Azevedo, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, César Faria, Carlos Lyra e Henrique Annes.
Mas Dominique Dreyfus, autora de “O violão vadio de Baden Powell” [Ed. 34, 1999] come mosca, ao não citar a presença de João Pedro Borges no concerto de encerramento: “A última noite do festival da Martinica era de Baden. Ele fez seu recital solo. Cara fechada, todo de branco, Baden subiu ao palco e deu o seu recado, friamente. Quando os aplausos – em tom convencional – silenciaram, Baden chamou Turíbio Santos. E foi então que tudo aconteceu. Juntos, os dois grandes violonistas presentearam o público com um grandioso recital de choro”, registra.
E continua: “Um daqueles momentos privilegiados de magia e perfeição, quando os músicos esquecem a plateia, o palco e se perdem no puro prazer de tocar juntos, com rara cumplicidade. Um desses momentos excepcionais, que só acontecem uma vez na vida…”, no que tem razão.
Biógrafa também de Luiz Gonzaga, Dominique Dreyfus registra ainda a opinião de Turíbio Santos sobre a obra de Baden Powell: “O violão de Baden é uma invenção dele. Baden Powell é uma coisa única. É impossível haver seguidores dele. Pode ter imitadores de segunda categoria, mas seguidores não. Ele construiu o universo musical dele, de um extremo bom gosto, espetacular, com uma noção de sonoridade fora de série. Um som muito bonito que ele é capaz de tirar de qualquer violão. Ele não tem esse negócio de ‘meu violão’, de ‘eu só gosto desse instrumento’. Ele pega qualquer um que lhe caia nas mãos e tira aquele som extraordinário. Uma coisa curiosa é o processo de criação dele. Porque ele sempre diz que a função nobre da música é ser compositor. Ou seja, tudo leva à composição. Ele é um compositor extremamente melódico. Ele não é um compositor de harmonia, feito Tom Jobim. Para Baden, o que interessa é a melodia. A harmonia depende do que ele está pretendendo, buscando com a melodia. Em todas as músicas dele, a melodia é muito forte. Por isso é muito difícil para outro violonista tocar as músicas de Baden Powell. Eu já gravei músicas de João Pernambuco, de Dilermando Reis, de Garoto. De Baden nunca consegui. Não consegui porque ia ficar careta, ia faltar aquela ‘salsa’ que ele mesmo coloca nas músicas. Até Rafael Rabello, que era um violonista espetacular, sempre evitou o repertório de Baden Powell”.