A cantora portuguesa Mimicat
Virada Cultural 2015 traz a São Paulo a nata da novíssima música portuguesa para shows no Ibirapuera e em casas fechadas. Entre as atrações, conheça a diva Mimicat, uma Amy Winehouse do Tejo
A cantora Mimicat é uma das boas surpresas da nova cena ebulitiva de Lisboa, mais cosmopolita e ambiciosa do que já foi costume na capital portuguesa. Se o leitor duvida, essa é a chance de “desduvidar”: um esquadrão dessa nova música está desembarcando esse mês para a Virada Cultural em São Paulo (veja programação completa abaixo). Gente como Souls of Fire, Mimicat e o visceral grupo The Black Mamba – que já esteve no Rock in Rio, em 2013, ao lado da cantora Áurea, mas foi num horário tão infeliz que ninguém viu.
Mimicat só tem um disco, For You, do ano passado (o segundo está a caminho, ela assegura, em entrevista). O nome real dela é Marisa Mena, tem 30 anos e nasceu em Coimbra, local onde nossos ex-presidentes posam com aqueles chapéus engraçados de Doutores Honoris Causa. Mimicat já foi crooner da banda Casino Royal, mas estourou mesmo com o seu primeiro disco solo. Voz densa e enevoada por um fog evocativo dos anos 1940, consegue passar com deliciosa despretensão pela soul, pelo jazz e pelo blues. Por que o apelido dela é Mimicat? “O nome veio da junção de duas alcunhas familiares: Mimi é como as crianças da minha família chamam as madrinhas, e eu tenho uma enteada de 12 anos. O Cat é uma parte pessoal”.
A Virada Cultural à portuguesa será O Vira turbinado. Abaixo, uma pequena entrevista que fiz esta manhã com a diva, que chega ao Brasil para seu primeiro show e fica entre os dias 17 e 22 cantando aqui.
Você está vindo ao mesmo tempo que o Black Mamba e outras expressões da nova música portuguesa. O que está acontecendo aí em Portugual que tornou a cena atual tão forte, em sua opinião?
Em Portugal há imenso talento e qualidade. Muitas vezes a dificuldade é tornar esse talento público e felizmente tanto eu como os Black Mamba tivemos as oportunidades certas para conseguirmos levar a nossa música às pessoas. Acho que a nova geração de músicos portugueses tem muita sorte por ter referências tão boas de outros músicos que vieram antes de nós e que acabaram por ir construindo um caminho e abertura para novos projetos. Juntando isso com as influências que cada músico tem, a sua própria personalidade e o facto de culturalmente Portugal estar a crescer, faz com que saltem a vista muitos projetos interessantes.
A cena retrô que você abraçou tem muito a ver também com as releituras que Amy Winehouse fazia. Você foi influenciada por ela?
Sim, sem dúvida. Para mim a Amy foi a melhor cantora e compositora da minha geração. Identifiquei-me muito com as canções, a melancolia das letras e a voz, claro. Ela era fantástica e marcou-me. Tive muita pena que ela não tivesse continuado.
Sua base parece ser principalmente a soul music, mas você também passa com leveza pelo jazz e pelo blues, com audíveis influências de Shirley Bassey, Ella Fitzgerald e Jill Scott. Entre as suas divas, não parecem estar Nina Simone e Billie Holiday. Estou enganado? Quem são seus modelos?
A Nina Simone e a Billie Holiday também são duas referências grandes para mim, mas sinto-me muito mais próxima dos outros nomes e a minha postura enquanto artista acho que pode ser definida como uma mistura entre as três, a Shirley, a Ella e a Jill Scott 🙂 A Shirley Bassey pela postura mais “Bond Lady atrevida”, a Ella pela voz e a Jill pelo meu lado mais ligado ao R&B e mais new soul.
Noto também que há um certo sabor de acid jazz em suas interpretações. Você foi fã dos Fugees e de Lauryn Hill?
Siiiiiim! Ainda hoje continuo a adorar a Lauren Hill. Acho que ela, enquanto vocalista dos Fugees, e depois, como cantora/compositora a solo, marcou uma geração de cantoras.
Você canta geralmente em inglês, ao contrário de suas antecessoras, como Teresa Salgueiro ou Carminho, que cantam uma música mais típica e em português. Você chegou a viver na Inglaterra ou nos Estados Unidos?
Nunca vivi em nenhum desses países, embora tenha imensa vontade! Desde pequena sempre fui muito ligada ao universo anglo-saxônico, primeiro pelos filmes e depois pela música. Senti uma ligação muito forte com o inglês muito cedo e era muito fácil para mim. E como sempre ouvi mais música em inglês do que em português acaba por ser mais natural para mim escrever em inglês, porque o meu imaginário musical funciona assim. Contudo, já escrevi dois temas em português e quando as palavras me surgem em português fico muito feliz, mas nunca forço nada!
Seu disco de estréia é o For You. Já existe um segundo álbum? O que há nele que possa significar uma evolução do primeiro?
Já tenho as canções para o segundo disco, mas para já não tenho data para começar a trabalhar nele, mas já estou cheia de idéias! Será um pouco mais arrojado do que este. O meu disco de estréia foi um disco clássico, num segundo terei uma aproximação mais moderna. A parte boa de ser artista é estar constantemente a evoluir e a fazer coisas que nos dão prazer.
Sempre que vou a Lisboa, há uma voz do Brasil acontecendo naquele momento. Já vi um show muito disputado de Vanessa da Matta, e sei que Marisa Monte e Maria Bethânia também são muito queridas. Qual é sua relação com o Brasil? Teve alguma influência daqui?
É verdade, sempre houve uma ligação muito especial entre Portugal e o Brasil e isso depois reflete-se na música e nas constantes participações entre os artistas dos dois países. Eu gosto bastante de MPB, tenho um carinho muito grande pela Elis e depois acabei por ficar fã da Maria Rita. Apesar de não ser um estilo que eu esteja sempre a ouvir, tenho algumas favoritas, uma das mais bonitas de sempre para mim, um clássico do João Gilberto, Chega de Saudade.
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