A banda Dirty Projectors, que tem entre suas vocalistas a sublime Deradoorian

Uma curiosa coincidência tem me chamado a atenção há alguns anos. Em quase todos os discos aos quais eu me apeguei recentemente, a música número 5 era sempre a melhor.

Pegue o exemplo do disco The Flaming Lips and Heady Fwends, um dos meus prazeres secretos. A música Children of the Moon (com participação do Tame Impala) é simplesmente sensacional.

Meu disco de cabeceira do Dirty Projectors, Sweet Lo Magellan, tem como faixa número cinco a inacreditável Just From Chevron.

A melhor faixa do álbum de estreia do Alabama Shakes, You Ain’t Alone, o blues mais janisjopliano surgido em mais de 40 anos, é a número cinco da bagaça.

E Mi Negrita, do discaço do Devendra, Mala, é justamente a faixa número cinco.
A melhor do novo álbum dos Black Keys é Year in Review. Número? Cinco, é claro.

A melhor do disco de estreia do Royal Blood é qual? A cinco, Blood Hands.

Até discos que não fizeram nenhuma diferença, por serem medianos, entraram na onda.
Acabo de ouvir El Pintor, o novo álbum do Interpol. É meia boca, mas a faixa número cinco, My Blues Supreme, foge à regra: é muito boa.

O CD Cantoras do Brasil, que chegou outro dia aqui (uma coletânea do Canal Brasil), tem brasileiras da nova geração interpretando clássicos de cantoras da velha geração. Tem Mallu Magalhães, Nina Becker, Mariana Aydar, Gabi Amarantos, etc. Mas a melhor faixa não tem nem discussão: é a número 5, Lulina cantando História Difícil, clássico de Ademilde Fonseca.

Claro que vai pintar forte discordância, é da lei.
Não vou ficar chateado, podem discordar à vontade.

Hoje, meio encafifado, fui aos discos clássicos para ver se a maldição já se anunciava no passado. Batata! Peguem por exemplo Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, e me perguntem: qual é a cinco? Claro, The Great Gig in the Sky, uma das canções mais influentes dos últimos 50 anos.

E peguem um dos melhores álbuns de rock’n’roll da História, Exile on Main Street, dos Stones.
Qual é a faixa número cinco? Tumbling Dice, que eles tocaram com Bruce Springsteen em Lisboa, em maio.

Doideira? Então digam qual é a quinta faixa de Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets? Elementar, meus caros: Balada do Louco.

É claro que essa minha tese não resiste a um interrogatório mais apurado.
Eu entregaria logo que, no meu disco favorito do Jorge Mautner, Pra Iluminar a Cidade, a minha música de estimação é a número seis, Anjo Infernal. Mas como o ano está quase acabando, a chance de vocês conseguirem a minha impugnação por tese enganosa é quase zero. 

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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