FAROFAFÁ faz uma provocação ao maluco que inventou que não gosta do canto da sabiá. Quem é que não gosta de… forró? Rock’m’roll? MPB? Pop? Soul? Axé? Soul? Samba? Música caipira? Música?… Vida?…
(Leia mais sobre o canto da sabiá aqui.)
1. Luiz Gonzaga, “Sabiá” (1959) – Esta é a segunda gravação do “a todo mundo eu dou psiu!” pelo pai pernambucano da matéria (a primeira foi em 1951).
2. Los Pirata, “Blackbird” (2006) – A banda paulistana canta o pássaro preto dos Beatles em pique de barulheira. Seria um sabiá negro o passarinho beatle que canta na morte da noite?
3. Carmélia Alves, “Sabiá Lá na Gaiola” (1956) – A rainha carioca do baião canta o dramalhão em 47 segundos: “Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho/ voou, voou, voou, voou/ e a menina que gostava tanto do bichinho/ chorou, chorou, chorou”.
4. Nara Leão, “Sabiá Laranjeira/ Andorinha Preta” (1975) – Dois passarinhos em um, no disco de cantigas infantis da capixaba-carioca Nara, Meu Primeiro Amor.
5. Quinteto Violado, “Assum Preto” (1974) – outro dos pássaros de Luiz Gonzaga, um blackbird, de 1950, em versão pós-tropicalista do quinteto pernambucano.
6. Gal Costa, “Acauã” (1970) – revolucionários de Luiz Gonzaga: a acauã feminina da verdadeira baiana Gal.
7. Luiz Gonzaga, “Acauã” (1952) – a versão original, pelo dono da voz.
8. Cynara e Cybele, “Sabiá” (1958) – os cariocas Tom Jobim e Chico Buarque prenunciam os tempos de exílio que o AI-5 inauguraria em 13 de dezembro (dia do aniversário de Luiz Gonzaga) – e a sabiá, interpretada por metade do baiano Quarteto em Cy, derrota as flores do paraibano Geraldo Vandré no festival da canção.
9. MPB 4, “Passaredo” (1975) – todos os pássaros do Brasil na canção de Chico Buarque e Francis Hime que nesta versão do quinteto fluminense viraria clássico do Sítio do Picapau Amarelo, em 1977.
10. Erasmo Carlos, “Panorama Ecológico” (1978) – em fase notadamente buarquiana, o carioca Erasmo amplia o passaredo – e fala também dos peixes, e das flores de Vandré.
11. Ednardo, “Pavão Mysteriozo” (1974) – um pássaro de maior monta, o pavão. Mysteriozo. E cearense.
12. Jackson do Pandeiro, “O Canto da Ema” (1957) – outro passarão paraibano, daqueles que “quando canta vem trazendo no seu canto um bocado de azar”.
13. Geraldo Azevedo, “Arraial dos Tucanos” (1979) – MPB pernambucana e eles!, os tucanos! /o\
14. Jackson do Pandeiro, “Meu Passarinho Fugiu” (1970) – bem ao gosto do forró, a tensão entre liberdade e aprisionamento – e mais um bocadinho de malícia.
15. Clara Nunes, “Sabiá” (1971) – a sabiá de Luiz Gonzaga, em versão fulgurante de pássara mineira Clara.
16. Dominguinhos, “O Canto de Acauã” (1976) – a música-e-poesia mansa da parceria pernambucana Dominguinhos-Anastácia.
17. Anastácia, “Corvo Preto” (1981) – lirismo e melodia, mesmo devotados a um pássaro de prestígio maldito.
18. Belchior, “Velha Roupa Colorida” (1976) – Blackbird, pássaro preto, assum preto, Ceará – juntos.
19. Elis Regina, “A Corujinha” (1980) – passarinheza emburrada e urbana pela gaúcha Elis, em versos do carioca Vinicius de Moraes – para crianças.
20. Gal Costa, “Passarinho (1973) – Gal trinando lá da galha do arvoredo.
21. Gilberto Gil, “Sítio do Picapau Amarelo” (1977) – ele, o pica-pau baiano – e por que não?
22. Marinês e Sua Gente, “Pica-Pau” (1966) – a genial forrozeira pernambucana Marinês e o pica-pau – onde ele mora?, no oco do pau!
23. Ney Matogrosso, “Gaivota” (1976) – também composta por Gil, o pássaro marítimo, dramático, matogrossense.
24. Wilson Simonal, “Sabiá Laranja” (1974) – engaiolado, Simonal canta o sabiá-laranjeira carioca.
25. Os Tincoãs, “Sabiá Roxa” (1973) – de Cachoeira, na Bahia, a sabiá mais afrobrasileira de todas as sabiás.
26. Alcione, “Sabiá Marrom” (1979) – sabiá marrom maranhense, mas pode chamar de Alcione.
27. Alceu Valença, “Borboleta/Sabiá” (1976) – mais uma vez o sabiá de Gonzagão, desta vez metamorfoseado em borboleta pernambucana.
28. Fagner e Nana Caymmi, “Penas do Tiê” (1998) – Fagner refaz, com Nana, o dueto que o lançou em 1973, com Nara – e as penas do tiê, em conexão Ceará-Minas Gerais.
29. Dona Ivone Lara, “Tiê” (1979) – tiê, o passarinho que desprezou o coração carioca de dona Ivone.
30. Nara Leão, “Cuitelinho” (1974) – o beija-flor, na mais pungente das interpretações.
31. Timbalada, “Beija-Flor” (1993) – Carlinhos Brown & cia. levam o passaredo ao carnaval baiano.
32. Moraes Moreira, “Pombo-Correio (Double Morse)” (1976) – mais carnaval baiano (e pernambucano), com aquele que é o leva-e-traz dos passarinhos.
33. Angela Maria, “Cu-cu-rru-cu-cu Paloma” (1965) – a pomba talvez seja o patinho feio dos passarinhos, mas não no coração fluminense de Angela.
34. Cauby Peixoto, “Ci-Ciu-Ci, Canção do Rouxinol” (1956) – nada discreto, Cauby faz o rouxinol fluminense.
35. Cascatinha & Inhana, “La Paloma” (1951) – a pomba paraguaia, caipira, paulista do interior, na mais plangente das interpretações.
36. Inezita Barroso, “Chitãozinho e Chororó” (1972) – a passarinheira paulistana Inezita apresenta e prenuncia Chitãozinho & Xororó: passarinhos paranaenses.
37. Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano, “Uirapuru” (1962) – “a mata inteira fica muda” ao canto do “sertesteiro cantador do meu sertão” – de onde são esses passarinhos pretos?
38. Carmen Miranda, “O Tico-Tico no Fubá” (1945) – …comendo todo o fubá da mais carioca das portuguesas norte-americanas.
39. Rita Lee & Tutti-Frutti, “Com a Boca no Mundo (Tico-Tico)” (1976) – virado à paulista, o tico-tico de Carmen bota a boca no mumdo 30 anos depois.
40. Elza Soares, “Cacatua” (1985) – um pássaro espalhafatoso para a carioca Elza: a calopsita.
41. Elba Ramalho, “O Peru” (1981) – a paraibana Elba apresenta, do relicário infantil de Vinicius de Moraes, o peru que pensava que era tuc…, digo, pavão.
42. Cátia de França, “Coito das Araras””(1979) – um canto paraibano adulto, e sexy, de papagaios e araras.
43. Cazuza, “Codinome Beija-Flor” (1985) – outro canto sexy, do colibri carioca Cazuza.
44. Renato Terra, “Bem-Te-Vi” (1981) – e o bem-te-vi carioca “voa livre por entre os jasmins/ e pousa no meu coração”.
45. Trio Mossoró, “Carcará” (1965) – o pássaro nordestino agressivo do maranhense João do Vale, que celebrizou a voz de trovão da baiana Maria Bethânia, aqui na versão original pelo trio potiguar.
46. Sivuca, “Fogo-Pagô” (1978) – o sertão, a seca, o drama, a Paraíba, o Sivuca…
47. Tetê Espíndola e Alzira Espíndola, “Ciriema” (1998) – o canto triste da ciriema de Mato Grosso (do Sul), parte do lindo disco de temas caipiras das irmãs Espíndola.
48. Banda de Pau e Corda, “Pássaro da Multidão” (1979) – “canta, sabiá/ ajuda a gente despertar”, Pernambuco trinando para o mundo.
49. Tim Maia, “Canário do Reino” (1972) – forró soul carioca e canto livre dos sem-dinheiro.
50. Raíces de América, “Pássaro Cativo” (1981) – o pássaro panamericano, aprisionado e pungente.
51. Caetano Veloso, “Pássaro Proibido” (1976) – o disco é de Maria Bethânia, e a voz é do mano baiano Caetano – e o pássaro é proibido.
52. Beth Carvalho, “Passarinho” (1978) – “quero viver como um passarinho/ cantar, voar sem direção”, cantou a carioca Beth, “por enquanto eu quero viver com toda liberdade”.
53. Clementina de Jesus, “Na Linha do Mar” (1973) – “galo cantou às 4 da manhã/ céu azulou na linha do mar”, num samba duplocarioca de Paulinho da Viola, “vou-me embora deste mundo de ilusão”, a promessa de morte “in the dead of night”.
54. Martinho da Vila, “Gaiolas Abertas” (1982) – o passarinho rural fluminense nos chama: “Voa, pra ser livre valem os riscos/ voa, foge lá pros altos picos”…
55. Secos & Molhados, “Voo” (1974) – liberdade para os pássaros e para as pessoas, pela banda paulista-portuguesa-matogrossense-etc. de Ney Matogrosso & cia.
56. Os Borges, “Voa, Bicho” (1980) – a família mineira dos Borges (Lô, Márcio, e mais), querida de Elis, em canção que a filha Maria Rita retomaria décadas depois: “Voa, andorinha!”.
57. Milton Nascimento e Maria Rita, “Voa, Bicho” (2002) – a sabiá paulistana canta na selva de pedra, apadrinhada pelo carioca mais mineiro do Brasil.
57. Milton Nascimento e Beto Guedes, “Norwegian Wood (This Bird Has Flown)” (1975) – Milton, o passarinho-em-pessoa, em mais uma pulsão de prisão-e-liberdade de John Lennon e Paul McCartney, conexão Liverpool-Minas Gerais.
58. Quinteto Violado, “Asa Branca” (1972) – a origem de todos os passarinhos musicais brasileiros, de 1947, na versão monumental que emocionou o coautor Luiz Gonzaga duas décadas e meia mais tarde.
59. Baiano & Os Novos Caetanos, “Entardecer na Fazenda” (1975) – os cearenses Chico Anysio, Arnaud Rodrigues, o entardecer na fazenda e o canto que as moças e os moços da cidade grande não podem (não podem?) ter.
Maravilhoso! Uma brisa de alívio entre tantos barulhos. Obrigada.
Maravilha! Brisa de alívio entre tantos barulhos! Obrigada.
Podia ter “A Ordem das Árvores”, de Tulipa Ruiz.
Amei a seleção musical que você fez.
Quanto a matéria… É pena que ainda existam tantas pessoas ignorantes e indiferentes para o reino animal e a natureza de modo geral.
Um abraço.
Leonice
Ressenti a ausência do Rouxinol souzândradiano, pescado pelo Gil e Mautner.
Sua seleção passarinheira, Pedro, é uma delícia. Parabéns e obrigada! Mas senti falta, nesse passaredo colorido e diversificado, dos passarinhos todos do Jobim (além do seu lindo Passarim). Cadê?! E o Rouxinol do Gil/Mautner?
Abraço primaveril, e que venham as aves, mais e mais…
Colecionei 60 passarinhos, Denise (Jardim!!!!), me segurando pra não colecionar 120, hahaahaha… Do Tom, só entrou o “Sabiá”, com Cynara & Cybele… Mas, sin, cê pode perceber pela brecha que o velho Tom não faz parte das minhas preferências musicais preferidas… /o\ 🙂
Abraço também!!!, obrigado!!
Preocupações menores e contribuindo, tenho minhas dúvidas também mas acho que o cantor referenciado é Um Sabiá e não Uma Sabiá pela particularidade de na maioria das espécies de pássaros quem canta é o macho, mostrando os seus dotes à fêmea.
A outra discussão, ruído e canto, não preciso definir partido, sou do interior.
Só faltou o clássico Uirápuru, do maestro Waldemar Henrrique. http://letras.mus.br/waldemar-henrique/388715/ http://www.youtube.com/watch?v=dzGSQzG0v6k
Matheus.
Cara, vc se esqueceu de “Sabiá”, de Chico Buarque, ganhadora do Festival da Globo!
Vou voltar, sei que ainda vou voltar, para o meu lugar….
Perfeito. Obrigado demais PAS. Aliás, deu a bruta vontade de ver as outras. Eu ia reclamar da navegabilidade nenhuma do 8track mas fui tomando feliz um calaboca em forma de sorriso ao começo de cada música da lista. De novo, perfeito. De novo, obrigado.
Também acho péssima a navegabilidade, Chei, mas sou tão ruim em fuçar alternativas tecnológias melhores.. 🙂
(obrigado eu!!!!)
UM DIA COMO TODOS E TANTOS OUTROS ESCREVI ASSIM……. EM 2010…CONTAGEM…MG
……………………………ESTÁ NO PRIMEIRO LIVRO QUE SERÁ LANÇADO EM OUTUBRO 2013…………………………………………
O CANTO DO SABIÁ
Se um sabiá canta na mangueira
O sabiá do jequitibá escuta
E leva no bico o canto primeiro
Pro sabiá da laranjeira
Que junta os três cantos no coração
E leva pro sabiá da palmeira
Sábios sabiás que sabem cantar em quatro
Nesse caminho de cantos todos cantam
Todos levam o cantar de um ao cantar do outro
Cantos lindos que montanhas levantam
Cantam a beleza da mata e o calor da amada
Cantam o nascer de mais um filho fora do ninho
Cantam o chegar de nova estação e noite estrelada
Cantam no fim o voar vindo do céu, de tão sozinho.
Sabiás!
Elba Ramalho é paraibana.
Obrigado pela correção, Eliane, acertei lá!
A Zabelê cantada pela Gal, também é um pássaro… Boa pesquisa!
<3