GAUCHISMO

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Que bem acima de nós só vai imperar o que a gente quiser.




O mapa que eu fiz pra gente se perder.



Como é que a gente não morreu ao se conhecer?



É quando a gente morre um pouco mais pra sentir. É quando a gente sente que não quer mais ficar.



Meu coração não sai do seu peito e você nunca irá muito além de mim.



Isso que estanca a morte em mim, isso sim é o amor.

Há dias venho fazendo anotações sobre o disco novo do Juliano Gauche.

Mas nada parece se encaixar. Tinha de achar um jeito simples de falar dele, mas não tem nem jeito complicado que dê jeito.

Não poderia falar sobre esse disco de forma cartesiana, porque não daria conta.

Não poderia pirar na batatinha, porque não daria conta.

Há dias eu tento seguir a movimentação feérica em torno de sua estreia em disco solo.

Ele é o cantor da banda Solana, que eu já conheci.

E vestiu a pele de Sérgio Sampaio no disco tributo Hoje Não (2009).

Recebi um convite do Juliano.

“Segue aqui o convite pra audição do meu primeiro disco solo. Que será no Bixiga, na próxima quarta. Na casa MUNDO PENSANTE. Muito feliz em poder dividir isso. Obrigado”.

Respondi: “Do que ouvi até agora, estou amando. Tentaremos ir, Nana está grávida…”

Não deu, acabamos não indo.

No dia 6, sexta-feira, ele lança o disco no Sesc Belenzinho, às 21h.

Juliano Gauche não tem nada a ver com a escola paulistana.

Não é resultado dos lobbies paulistanos (embora viva bem no meio deles desde que largou sua Vitória para instalar-se aqui).

Não tem nada a ver com a dependência química do folk que escraviza nossa jovem música popular da MTV.

Não tem nada a ver com o fascínio pela cultura anglo-saxofônica que domina nosso pop desde os anos 1980 – ele parece ter vindo de uma época anterior aos solos de sax de Nove e Meia Semanas de Amor. Não está em busca de efeito, mas de sinceridade.

Se eu acabasse morrendo tentando explicar o que sinto da vida eu diria: valeu sim.

Veio o release do Juliano, muito bem explicadinho, suas referências e tentativas estão ali expostas.

Vejo nomes como Yoko Ono, Roberto Carlos, Mautner, Geraldo Vandré, Paul McCartney, Reginaldo Rossi, Raulzito.

Concordo com tudo – é a fonte que está falando, quem sou eu para discordar?

Mas concordo mais com algumas coisas do que com outras.

Por exemplo: Jeff Buckley. Concordo muito.

Como Jeff, Juliano não tem medo da intensidade emocional.

Quem faz isso hoje em dia?

Está quase todo mundo escondido atrás de tiradas espirituosas, de colagens pós-modernas, de ironia defensiva.

Juliano entra de peito aberto no fogo cruzado dos franco atiradores.

É quase irônico que Jeff Buckley apareça de cara na canção que parecia mais autoexplicativa, Sérgio Sampaio Volta.

Ouço suas músicas como se fizesse um curioso percurso entre Marcio Greyck e Itamar Assumpção.

Não é pouco produzido, é muito bem produzido. Seu parceiro é o Tatá Aeroplano.

Há uma certa busca da psicodelia, especialmente na faixa Como a Falta de Ar, mas parece que a voz de Juliano não permite que uma coisa se instale sem que seu sentido se instale antes. Não se dobra ao efeito.

Tem versos lindos e quase todos falam de amor, como os que selecionei no começo desse texto.

Um romantismo que desafia a dificuldade de ser simples e original num campo em que muito se diz e quase nada se diz.

Acho o lançamento do disco do Juliano uma coisa tremendamente importante.

Mas ainda falta um tantinho para conseguir escrever algo mais útil sobre ele.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter desde 1986 e escritor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019), Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021) e O Último Pau de Arara (Grafatório, 2021)

1 COMENTÁRIO

  1. completamente apaixonada por esse trabalho tão lindo.
    querendo que o mundo inteiro descubra-o e ao mesmo tempo temendo que sejam incapazes de sentir a profundidade dessa carícia na alma. e que um dia eu possa sentir essa carícia ao vivo, transcender ainda mais.

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