Ao contrário do que pensa e escreve o jornalista Gilberto Dimenstein, o ex-ministro Juca Ferreira tem todas credenciais para ocupar a Secretaria da Cultura na cidade de São Paulo.
Em 21 de março de 2012, Juca Ferreira concedeu uma entrevista exclusiva ao FAROFAFÁ na qual ele falou publicamente, pela primeira vez, do embate que existe hoje no Brasil entre dois projetos político-culturais que disputam corações e mentes tupiniquins. Pode-se dar o nome que quiser a esses dois grupos, tropicalista versus nacionalista, PT versus PSDB, Gil-Juca versus Chico-Ana de Hollanda, pobres versus ricos. Não importa. O fato é que, embora “aqui tudo é misturado”, há uma clara disputa de poder em curso no Brasil opondo dois blocos antagônicos e é natural que cada um puxe a sardinha para o lado que achar mais conveniente.
O título deste texto é uma provocação explícita ao título da coluna do jornalista Gilberto Dimenstein, que questionou: “Haddad precisa importar um baiano?” Sim, precisamos de um baiano, tanto quanto precisaríamos de um paulistano da Mooca. Ou de um sergipano de Ermelino Matarazzo ou de um capixaba do M´Boi Mirim. Precisamos de um tropicalista, que pense fora dos esquadros e tenha vontade de arquitetar culturalmente uma nova São Paulo do século 21. Que não reduza a política cultural a 24 horas de atividades a perder de vista.
São Paulo dos tempos tucanos, com José Serra como prefeito, escolheu justamente um baiano, o artista Emanoel Araújo (ex-Pinacoteca) para a Secretaria Municipal de Cultura, lembra Dimenstein? O problema, que o colunista não torna público, é ver dois ex-ministros de Luiz Inácio Lula da Silva assumindo o poder no outrora ninho tucano. Essa é a real ameaça, e não o fato de mais um baiano ocupar a importante pasta da Cultura.
Na entrevista de Juca Ferreira, ele já dizia que havia se filiado ao PT não para ser candidato e que acreditava que não se opera individualmente na política. Mas dizia que tinha vontade enorme de voltar da Espanha, onde estava trabalhando, para desenvolver um novo trabalho no Brasil. Sua frase completa: “A língua portuguesa separa ‘ser’ e ‘estar’, tem línguas que não separam. Não sei como essas poderiam expressar isto que vou dizer: sou daqui, estou lá, mas meu lugar é aqui.” Denominando-se um “velhinho de esquerda”, Juca chega ao novíssimo governo de Fernando Haddad com o frescor de renovar o jogo de cartas marcadas que sempre é posto à mesa nesses momentos de indicações políticas. O baiano é uma grata surpresa.
O que se espera (e deve-se cobrar) dele não é pouco. Segundo o programa de governo de Haddad, haverá “cultura em toda parte”, traduzida numa política de descentralização que vai procurar conferir visibilidade de produções até agora marginalizadas. Alô, alô, periferia! O novo ocupante do cargo deverá estar à frente da construção de dois centros culturais e duas escolas municipais de artes, nas zonas leste e sul, e de núcleos culturais nas 31 subprefeituras. O novo prefeito paulistano prometeu ainda democratizar o uso do Teatro Municipal. Alô, alô, Danuza, nem no teatro você vai poder ir mais. Favorecer a criação e desenvolvimentos de Pontos de Cultura (política de Gil-Juca), mapear a diversidade de produção cultural (para muito além da Praça Roosevelt), implementar o fundo de fomento, aderir ao Sistema Nacional de Cultura, criar o projeto Internet Popular e a Cidade Digital Livre. Ufa, é trabalho que não acaba mais.
Por mais boa vontade que se tenha, não dá para acreditar que tal empreitada pudesse ser tocada por um paulistano como o atual secretário Carlos Augusto Calil. Afinal, essa não é uma tarefa que possa ser resumida a 24 horas de duração, pois será preciso uma “virada” sem precedentes de políticas públicas. Tampouco esperamos que Juca Ferreira, um baiano educado e preparado para a crítica, vai se dar ao trabalho de construir uma unanimidade artificial ao longo de sua gestão.
Certamente esse tipo de reação contrária a um baiano não teria sido despertada se, por um surto de psicose, Haddad tivesse escolhido a paulistana Ana de Hollanda para o cargo. Mas, como se viu em Brasília, no governo federal, ser de São Paulo não fez a menor diferença. Precisamos importar um baiano, sim, porque, acima de tudo, a metrópole não é, nem deve ser, bairrista, elitista ou preconceituosa, como pensam e defendem alguns.
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Olha, eu li umas três vezes o artigo do Dimenstein. E terminei sempre com a mesma conclusão: ele responde à pergunta do título – que não é assumida por ele, e sim atribuída a “setores da inteligência paulistana” dizendo que que SIM, o baiano Juca é uma ótima ideia para a Secretaria de Cultura.
Considere, apenas por hipótese, que a abertura do artigo é uma crítica aos que se opõem a Juca. Tente ler dessa forma. O texto inteiro passa a fazer muito mais sentido.
Marcos, também li três vezes o texto do Dimenstein e, ao meu ver, ele foi, no mínimo, infeliz com a escolha do título. É indutor, porque sua argumentação inicial é a de que não precisamos de um forasteiro para administrar a pasta da Cultura. Depois inverte sua proposta, ao dizer que sim, isto é, um baiano poderia fazer diferença. Considerando o histórico do autor, bastante favorável às políticas tucanas nos últimos anos, de forma quase acrítica, eu arriscaria dizer que a intenção era a de criticar a indicação de Juca Ferreira. Mas posso estar completamente errado, meu caro.
Imagino que o ilustre sr. Dimenstein esteja preocupado com o desenvolvimento de políticas públicas que empoderem a “gente diferenciada”. Ah, eles são um perigo!
Ai, ai! Valha-nos, Nosso Senhor da Diversidade Cultural!