Cantora e compositora teve carreira curta, mas intensa, e tinha repertório de músicas tristes

Em 1951 gravou seu primeiro disco pela gravadora Star com os sambas “Que Bom Será”, de Alice Chaves, Salvador Miceli e Paulo Marquez, e “Já Não Interessa”, de Domício Costa e Roberto Faissal. No ano seguinte, fincou o pé na dor de cotovelo, ao gravar o samba-canção “Um Amor Assim”, de Dora Lopes, e o samba “Outono”, de Billy Blanco. A vocação para a fossa, que começava a dominar a cena noturna da velha capital federal, ficou patente no samba-canção antológico “Canção da Volta”, que ela gravou com sucesso em 1954, imprimindo seu estilo sofrido à dolorida poesia de Antonio Maria:
Nunca mais vou fazer
O que o meu coração pedir
Nunca mais vou ouvir
O que o meu coração mandar
O coração fala muito
E não sabe ajudar
Sem refletir
Qualquer um vai errar, penar
Nanda Costa dubla Dolores:

Se é por falta de adeus
Vá-se embora desde já
Se é por falta de adeus
Não precisa mais ficar
Com Jobim ela faria uma das melhores canções do período: “Por Causa de Você”, um clássico da dor de cotovelo pré-bossa nova:
Ah! Você está vendo só
Do jeito que eu fiquei
E que tudo ficou
Uma tristeza tão grande
Nas coisas mais simples que você tocou
A nossa casa, querido
Já estava acostumada aguardando você
As flores na janela
Sorriam, cantavam por causa de você
Quando a morte a encontrou na sala de seu apartamento de Ipanema, ela estava no auge, tinha um programa na TV Rio e suas músicas faziam chorar as mulheres apaixonadas com canções como “A Noite do Meu Bem” (“Hoje eu quero a rosa mais linda que houver/ E a primeira estrela que vier/ Para enfeitar a noite do meu bem”) e “Fim de Caso” (“Eu desconfio que o nosso caso está na hora de acabar/ Há um adeus em cada gesto, em cada olhar/ Mas nós não temos nem coragem de falar”). Ela morreu deixando uma marca forte na música daquela década. O ambiente aconchegante das boates, que pedia uma interpretação menos arrebatada do que a que predominou na música brasileira ao longo das décadas, forjou o jeito intimista e fez de Dolores uma precursora dos intérpretes da nascente Bossa Nova. No dia de sua morte, ela chegou em casa às 7 horas da manhã, depois de cantar a noite toda no Little Club, e ordenou à empregada: “Não me acorde. Vou dormir até morrer.”
* Julio Cesar de Barros é editor-sênior de VEJA, onde publicou a coluna “Passarela” no site da revista com perfis de artistas, crítica de livros e discos, roteiro de escolas de samba e shows musicais, de Osesp a samba. Aos poucos, vai migrando esse conteúdo para seu blog, o Música Boa do Brasil. Este texto foi atualizado e republicado em 26 de março de 2012 e originalmente na VEJA.com em 27 de setembro de 2010
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Se Dolores duran não tivesse morrido tão jovem,com certeza iria dar “trabalho” pra Elis regina,na sua ânsia de ser sempre a melhor,pois essa também cantava mesmo.”Vou dormir até morrer”,mulher de palavra.