Com a edição do livro histórico “Massafeira 30 Anos – Som-Imagem-Movimento-Gente” (Aura Editora) e o relançamento em CD do álbum duplo coletivo “Massafeira” (Sony), de 1980, o cantor e compositor Ednardo faz um ajuste de contas com o seu passado e, de modo mais amplo, com a música popular de sua terra natal – e do Brasil como um todo.
Enquanto isso, o autor de “Terral” (1973), “Pavão Mysteriozo” (1974) e “Berro” (1976) afirma possuir quatro CDs e dois DVDs inéditos prontos para virem à luz, e expõe o dilema que o cerca: “O pessoal da minha produção pergunta como vamos lançar, se no dia seguinte tudo vai estar diluído na internet. Não tem mais como controlar, nem é função do artista vigiar”.
Sua fala guarda um tom de lamento quanto ao estado de coisas que arruinou o sistema mundial de música gravada, mas nem por isso Ednardo se coloca em antagonismo com os novos e desgovernados modos de produção e difusão. “Sei que a internet é fundamental, é uma faca de dois legumes”, brinca. “Estamos pensando na possibilidade de liberar tudo, para as pessoas baixarem e pagarem o que for justo. Se for se preocupar com tudo, o artista para de fazer música.”
Sabedor de que hoje CD físico é mais cartão de visita que fonte de receita, Ednardo cita o caso do mais recente disco de Chico Buarque, disseminado pela internet assim que foi lançado. E brinca com depoimento também recente do artista carioca: “Foi fato novo para o Chico descobrir na internet que não é tão amado como pensava, que é odiado também. Ele ficou triste pra caramba, e muito afetado. Os risos dele naquele vídeo são nervosos, a gente vê isso”.
Ainda zombeteiro, o artista se coloca diante da mesma questão: “Como desde muito menino tomei muita porrada e nunca tive unanimidade, eu já me acostumei com isso, desde cedo”.