Eu não sabia, mas está rolando um debate muito bacana lá no blog do Alexandre Matias (http://ow.ly/1qREQ), a partir do texto que escrevi sobre a Mallu Magalhães. Não acho que caiba muito eu ficar contestando, tem bastante coisa sensata dita ali, inclusive de gente discordando do que escrevi.
As únicas coisas que eu (@pdralex) falei pro Matias (@trabalhosujo) lá no Twitter, e que quero repetir aqui, são as seguintes:
@pdralex Ô, @trabalhosujo… O Michael Jackson é justamente o exemplo “perfeito” pro tipo de preocupação que eu quis exprimir…
@pdralex @trabalhosujo O mundo ganhou um gênio, o gênio ganhou toneladas de Demerol. A gente deve fingir que isso não existe?
Quanto a esse último ponto, eu adoro e respeito o Matias, mas esse papo de deixar a Mallu pra lá porque o Michael Jackson e o Bob Dylan também foram crianças precoces… É essa mesma retórica do calaboca, do deixa-como-está, que anda muito em voga em diversos setores, do BBB à relação entre o governo e a mídia.
Da minha parte, eu acho que “the times they are a-changing”…
E, porque the times they are a-changing, deixo um outro pitaco aqui, do blog do Luiz Carlos Azenha, pertencente à retórica do não-calaboca, nada a ver com a Mallu Magalhães (ou algo a ver com a Mallu Magalhães? existe terrorismo midiático?). É um texto chamado Rose Nogueira: prisão, e contém trechos que os ditabrandos (aqueles mesmos que estão muito “indignados” com a greve de fome de ativistas políticos cubanos) adorariam manter sepultados para sempre, como os seguintes:
“– Vocês estão presos. E o bebê vai para o Juizado de Menores.
– O bebê não vai. E eu só vou com vocês se puder deixá-lo com a minha família.
– Terrorista não tem família, não tem que ter filho. E eu sou curador de menores – ironizou.
– Não sou comunista.
– Olha, moça, eu posso usar violência.”
“O leite que eu tirava do seio ainda insistia em vazar e minha blusa cheirava a azedo. A febre aparecia todo dia. O leite me fazia pensar que, enquanto estivesse ali, brotando, eu estaria ligada ao meu filho. Dias depois veio o diminutivo do dia me buscar para depoimento. Empurrava-me pela escada, enquanto gritava: ‘ai, miss Brasil! Sobe essa escada logo, sobe!’
Miss Brasil era o nome de uma vaca leiteira que havia sido premiada. E na sala para onde me levou, o ‘inho’ chamava os outros: ‘Olha a miss Brasil, pessoal! Tá cheia de leite! É a vaca terrorista!’. Eles riam e me beliscavam nas coxas, nas nádegas. Eu gritava e perguntava pelo bebê.
– Pergunta quem faz aqui sou eu. E vamos ver se o nenê chora mais do que você quando a gente for buscar ele de novo.
Era o que eles queriam: que eu soubesse que o bebê esteve lá, que poderiam fazer qualquer coisa. Meu Deus, eles não tinham limites! Ao voltar para a cela, o homem me olhou com ironia e disse: ‘Mas esse leitinho esse nenê não vai ter mais, não’.”
“Ao buscar, agora, nos arquivos da Folha de S. Paulo a minha ficha funcional, descubro que, em 9 de dezembro de 1969, quando estava presa no DEOPS, incomunicável, ‘abandonei’ meu emprego de repórter do jornal. Escrito à mão, no alto: ABANDONO. E uma observação oficial: Dispensada de acordo com o artigo 482 – letra ‘i’ da CLT – abandono de emprego’. Por que essa data, 9 de dezembro? Ela coincide exatamente com esse período mais negro, já que eles me ‘esqueceram’ por um mês na cela.
Como é que eu poderia abandonar o emprego, mesmo que quisesse? Todos sabiam que eu estava lá, a alguns quarteirões, no prédio vermelho da praça General Osório. Isso era e continua sendo ilegal em relação às leis trabalhistas e a qualquer outra lei, mesmo na ditadura dos decretos secretos. Além do mais, nesse período, caso estivesse trabalhando, eu estaria em licença-maternidade.”