O calor e o barulho da cela eram infernais. Sandra passou boa parte do tempo dando banhos em Pedro, que tinha pouco mais de seis meses de idade, numa pequena pia, com medo de que ele ficasse desidratado. Além dos ruídos da pista do aeroporto, Sandra chegou a ouvir gritos de presos, torturados em outras dependências do lugar. Apavorada, depois de pedir algumas vezes aos guardas que a deixassem ir ao banheiro, despertou novas suspeitas. Levada a uma sala, quando viu o pau-de-arara Sandra entrou em pânico. Primeiro, os policiais ameaçaram torcer o braço de Pedro.
“Entrega o que você tem aí”, gritavam, achando que ela teria alguma coisa escondida no corpo.
Já aos prantos, Sandra ainda tentou uma última cartada:
“Vocês não sabem com quem estão mexendo. Minha família é toda de militares”, disse, antes de ser violentada.
Só no dia seguinte ela foi solta. Ao saber da prisão, a família conseguiu acionar um parente, ligado ao SNI, que conseguiu libertá-la. Com o filho no braço, embarcou no primeiro vôo para fora do País.
DO LIVRO ‘TROPICÁLIA’, DE CARLOS CALADO, NO TRECHO QUE NARRA A VIOLÊNCIA COMETIDA NO AEROPORTO DO GALEÃO CONTRA A ENTÃO MULHER DE GILBERTO GIL, SANDRA, QUE ESTAVA COM ELE NO EXÍLIO EM LONDRES E VIERA AO BRASIL PARA VER A FAMÍLIA.
COMEMORAM-SE 30 ANOS DA ANISTIA POLÍTICA, MAS AQUELE TIPO DE ANIMAL MERECIA ANISTIA?