A MORTE DO JORNALISMO
(como o Gawker garfou minha matéria e como isso está destruindo o jornalismo)
By Ian Shapira
Sunday, August 2, 2009
Algumas semanas atrás, eu me dei conta do que vem a ser nos dias de hoje um dos maiores golpes do jornalismo, e usufruí da pesada sentença que impacta os jornais impressos na era da Internet. O Gawker, sarcástico web site de cultura e mídia de Nova York, tinha acabado de postar a matéria que eu publicara naquele dia no Washington Post.
Confesso que me senti um tantinho triunfante. Meu artigo, que fora cruamente chupado pela fome de draga da blogosfera, era um perfil de uma profissional de Washington, uma “domadora de negócios”, Anne Loehr, que cobrava de US$ 500 a US$ 2.500 de clientes (das gerações) Generation X e Boomer para explicar como a geração do milênio (a maior parte pessoas de 20 anos ou ainda teens) se comportava no seu local de trabalho.
O post do Gawker reproduzia diversas citações da “domadora” e de um cliente, e filtrava trechos da biografia de Anne – informação inteiramente chupada da minha matéria. Eu estava honrado.
Mas quando eu contei ao meu editor, ele me escreveu de volta: “Eles roubaram sua história. Onde estão os teus brios, cara?”
Quanto mais eu relia o e-mail do meu editor e os 8 parágrafos do post do Gawker, mais raivoso eu ficava, e mais desencantado me tornava com os rumos do jornalismo. Eu me divertia lendo o Gawker e o crescente número de sites como ele – tipo o Huffington Post, o Daily Beast e outros. Mas ultimamente eles estavam me deixando nervoso a respeito da minha precária carreira como repórter de jornal diário impresso que se satisfaz, ao menos por agora, com um salário, um plano de aposentadoria e um seguro de saúde.
Comecei a refletir sobre todo o trabalho que tive para produzir meu artigo de 1.500 palavras. A história não ne daria um Pulitzer, era apenas uma modesta reportagem sobre uma pessoa que capitalizava sobre a angústia nos locais de trabalho. Com toda as especulações sobre o futuro dos jornais na mídia e no Congresso, comecei a imaginar se muitos dos leitores têm a percepção do que custa produzir uma história que tenha qualidade para ser publicada no Washington Post. Jornalismo em grandes jornais é diferente desse que é usualmente requerido no mundo selvagem e telegráfico da Internet – o tipo de trabalho praticado por entidades não-lucrativas, alguns blogs e outras lojinhas de notícias.
A versão do Gawker da minha matéria, com o título Consultora geracional examina os mais fajutos empregos da América, começa dizendo ao seus leitores: “Conheça Anne Loehr”, com um link para minha matéria, mas sem mencionar o Post. Aí então condensa a biografia dela: “Loehr tem 44. Ela gastou a década de 90 inteira correndo entre hotéis e safáris no Quênia”. Essa informação eu obtive após uma hora ou mais pendurado no telefone com Anne e depois de anotar cerca de 3 mil palavras em um bloco de notas.
O miolo do post consiste nas declarações de Anne, os pensamentos dela sobre sua afinidade geracional com reality shows de TV e sua suposta aversão por produtos da Nike. Para obter essas informações, eu dirigi meia hora de carro até o Tower Club de Fairfax, e assisti a uma palestra de duas horas da executiva intitulada Fique Sábio com a Geração Ys, que também gravei com o gravador. Foi aí que o trabalho se tornou mais doloroso: custou-me cerca de quatro horas para transcrever a palestra (você, leitor, ainda está tocando canções melancólicas no seu violino?).
(…) Depois de toda a apuração, eu levei um dia para escrever a matéria de 1.500 palavras. Quanto tempo o Gawker levou para reescrever e republicar, pinçando as citações mais divertidas, emoldurando com anúncios publicitários e (até o momento) conseguindo 9,5 mil page views?
N.DO R. – Achei esse artigo num dos blogs do Washington Post, e julguei uma interessante reflexão sobre a natureza do jornalismo em mutação (ou em chupação) na era da internet
Acho foda, Jotabê. Vou te confessar uma coisa. Você que trabalha no Estadão deve conhecer uma campanha publicitária do site do jornal. Aquela que "chama blogueiros de macacos". Então, eu que fiz. Uma campanha que foi considerada um fiasco. A blogosfera distorceu a mensagem e meteu o pau até o Estadão e a agência voltarem atrás e tirarem a campanha do ar. Apesar de tudo fico feliz de ter feito a campanha. Lendo esse texto fico ainda mais. Por que era uma coisa que eu acreditava e acredito, mesmo tendo meus. Quem quer informação séria (leitor do Estadão) não deveria buscar em sites como esses que o post cita. Na época, o Estadão tinha que ter tido coragem e insistido. Foda-se o Interney, o Brainstorm9. Mas até pra fazer publicidade, veja você, é preciso ter coragem.
Salve, Jotabê!
Sou de Cachoeiro de Itapemirim-ES, terra do Sérjão Sampaio, sobre o qual há um projeto querendo sair do forno e do qual gostaria de tratar contigo (não é lobby, fique tranquilo .. (risos).
Leia esta matéria que fiz sobre o assunto que tenho a tratar, com as bençãos etílicas do Helinho Sampaio, irmão encarnado do Maldito. Eis o link: http://www.folhadocaparao.com.br/caparao/fl-conteudo.asp?codigo=64
Assim que puder, por favor, mande uma mensagem ao meu endereço (rondinellits@yahoo.com.br)
Aqui no ES só tenho acesso ao Estadão via web. Achei teu blog já há algum tempo, lendo, no Overmundo, uma matéria do colega capixaba Vitor Lopes sobre o Sérgio.
Aguardarei seu contato.
Se tiver tempo, deixe uma mensagem no meu blog (estacaoimpressa.blogspot.com)
Abraços cachoeiro-sampaístas
Rondinelli
Cachoeiro de Itapemirim/ES