não tinha ido ao show, e só agora, com o disco, tomo conhecimento por dentro desse evento “três meninas do brasil”, que reuniu no palco, por ordem alfabética, a mineira jussara silveira, a maranhense rita ribeiro e a carioca teresa cristina.


não é daqueles encontros em que um canta três músicas, outro canta três músicos, um terceiro canta três músicas e os três juntos só cantam uma. não, elas cantam juntas de fato, o tempo quase todo, que é o que engrandece o resultado, mas não só.

mais divertida é a seleção de repertório, bem liberta de obviedades (e diz aqui no encarte que a direção artística é de… jean wyllis). nem é a melhor das canções do graaaaaaaande zé ramalho, mas que delícia ouvir de volta o desassombro de “mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor”.

(a propósito do graaaaaaande zé ramalho, estive meio receoso a princípio, mas o disco dele para bob dylan é disparado o meu favorito no momento. o repertório é sinuosamente colhido, os arranjos de robertinho de recife são elegantíssimos e a voz do graaaaande zé ramalho é a voz do graaaaande zé ramalho. e, como escrevi em notinha para a “carta capital”, alguém pode se perturbar com letras como “bate, bate, bate na porta do céu”, mas, ora, não é exatamente isso que mr. dylan diz no “knockin’ on heaven’s door” original?)

outra coisa que esse “três meninas do brasil” poderia (pode?) suscitar são (seriam?) reflexões sobre os preconceitos que rondam (ou não) composições sobre mulheres como as que as três moças reuniram (de moraes moreira, paulinho da viola, tom zé etc.). só a dobradinha entre “na cabecinha de dora” (de antonio vieira e pedro giusti) e “nega do cabelo duro” (de david nasser e rubens soares) já dá pano para manga, misoginias para cá (“na cabecinha da dora/ meu pensamento concentro/ tem muito rolo por fora/ e pouco miolo por dentro”), racismos para lá (“nega do cabelo duro/ qual é o pente que te penteia?”. não?

em tempo: pode até parecer fofoca alcoviteira (e acho que é mesmo), mas eu sempre fico todo curioso por saber como é que se definem as ordens dos nomes nas capas desses discos de parcerias, tipo (nesta ordem) jussara silveira-teresa cristina-rita ribeiro, gilberto gil-milton nascimento, raimundo fagner-zeca baleiro, caetano veloso-jorge mautner e assim por diante (será que é cláusula de contrato?). mas cala-te boca!, que minha profissão não é catucar intriga (não é?)!

(*) esse título é porque, ao ficar nessas de “três meninas”, me veio de volta a versão de daúde para aquele delicioso trava-línguas de domínio público “quatro meninas”, que ela gravou no disco de 1995. por onde anda daúde? era (é) belíssimo o disco “neguinha te amo”, de 2003, que eu saiba o último que ela lançou (foi mesmo?).

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