O universo indie lança um tributo respeitoso ao grupo paulista de pagode (foto) em atividade desde 1991 e tenta demolir barreiras de classe e estética que separam o rock e o samba.
A ideia é lúdica e libertária. É lúdica porque o site independente Fita Bruta sincronizou a publicação para download gratuito do álbum virtual Jeito Felindie com o dia das crianças. É lúdica porque há de fato algo de infantil em um conglomerado de 12 bandas e/ou artistas ditos indies se unir para cravar um tributo à banda paulista de pagode Raça Negra, que estreou em disco em 1991 e segue em atividade até hoje.

Há algum tempo, uma brincadeira via Tumblr vem perguntando qual é a diferença entre indies e sertanejos, já que ambos os microcosmos são parecidíssimos, por exemplo, na indumentária povoada de xadrezes. A pergunta poderia se estender, por várias razões, aos universos indie e pagodeiro. Afinal, qual é a diferença entre o charme e o funk?
Feita de outras maneiras, a pergunta pode virar afirmação. Há 20 anos, crianças, adolescentes e jovens brasileiros cresciam sob influência dupla, aparentemente divergente, do grunge norte-americano e do pagode pop emanado de São Paulo (Art Popular, Negritude Jr., Exaltasamba), Minas Gerais (Só pra Contrariar) e Rio de Janeiro (Molejo, Grupo Raça, Só Preto sem Preconceito). A população indie, como é seu hábito, demonstrava preferir a identificação gringa e não raro hostilizava o movimento pop local – mas isso nunca quis dizer que influência oculta fosse equivalente a influência inexistente.
O que o irregular Jeito Felindie faz é tentar demolir a barreira artificial entre o pop gringo e o pop local no imaginário dos jovens de ontem, hoje e sempre. Não chega a soar novo frente a iniciativas anteriores como os tributos, também mais ou menos indies, a Odair José, ao Ultraje a Rigor ou às Ceguinhas de Campina Grande. A fórmula é sempre mais ou menos a mesma.

São, em outras palavras, tudo que muito indie gostaria de ser e ainda não alcançou. A união entre diversos, opostos e/ou divergentes pode ser um ótimo prenúncio de mudança, rumo a tempos menos intolerantes, obscurantistas e separatistas. Indies ou não, temos muito a aprender com o Raça Negra.
(Texto publicado originalmente no blog Ultrapop, do Yahoo! Brasil.)




O vocalista deste grupo tem ou tinha uma voz tão melodiosa,pena que sumiu do mundo.