Mestres e mestras do Pará duelam no 17º In-Edit

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Grupo de Carimbó Sereia do Mar
O Grupo de Carimbó Sereia do Mar, de Marapanim

Em seu segundo dia de programação em São Paulo, a 17ª edição do In-Edit – Festival Internacional do Documentário Musical viaja ao Pará e investiga os mestres tradicionais da riquíssima música local, sob dois vieses distintos.

Os instrumentos (quase sempre) masculinos dos mestres da guitarrada, em “Clube da Guitarrada”

Em O Clube da Guitarrada (às 15h, no CineSesc, com exibições nos dias 18, na Cinemateca Brasileira, e 21, na Matilha Cultural), a diretora Tânia Menezes aborda os mestres da guitarrada a partir da memória do Mestre Vieira e de depoimentos de Mestre Curica, Mestre Solano e Aldo Sena. A tradição é o caminho para que o documentário chegue ao presente Clube da Guitarrada, idealizado em Belém por Félix Robatto, um modernizador da guitarrada e da lambada desde a criação da banda La Pupuña, em 2004.

Iolanda do Pilão é uma das artistas iluminadas por Aíla e Roberta Carvalho em “Mestras”

Já em Mestras (às 19h, na Cinemateca Brasileira, dia 19 no CCSP, dia 20 no Spcine Olido), a cantora e compositora Aíla e a artista visual Roberta Carvalho ampliam o raio da maestria para os folguedos de boi e de carimbó e chamam atenção para o masculinismo no culto aos “mestres”. Viajam aos interiores do Pará e apresentam Mestra Miloca, de Ourém, Mestra Iolanda do Pilão, de Cametá, e Mestra Bigica e seu Grupo de Carimbó Sereia do Mar, de Marapanim. O filme segue essa trilha para desembocar na história da única mestra paraense que furou a bolha local para ser conhecida nacionalmente, a genial Dona Onete.

O boi de Mestra Miloca, em Ourém

Um dos momentos mais eloquentes de Mestras acontece durante a entrevista de Bigica, agricultora, compositora e carambozeira de 60 anos e nove filhos, na Praça dos Artistas de Marapanim. Ela observa as diversas estátuas ao redor e constata que nenhuma mulher está representada nos monumentos em homenagem aos artistas. Como constatam Bigica e as diretoras do filme, muitas outras mestras estão escondidas por aí, enquanto seus pares masculinos ganham estátuas e o mundo. De um modo ou de outro, todas as mestras ouvidas no documentário relatam a luta de superação de tradições masculinas que historicamente proibiam a presença feminina nas brincadeiras, nas composições e na condução de instrumentos como tambor, pandeiro, reco-reco, maraca etc.

Em imagens de grande carga visual e simbólica de Mestras, as cantoras e instrumentistas do Sereia do Mar apresentam-se ao ar livre em seus instrumentos e seus uniformes rosa e azul. É como se declarassem que, para poder se impor e ser rosa no carimbó para além da dança e da figuração, é necessário aglutinar o azul que nem sempre gosta da presença ou deseja a existência feminina fora das famigeradas quatro paredes (ou, diriam outros, das “quatro linhas da Constituição”).

Belém de Belém e Layse comandam os instrumentos no Espaço Cultural Apoena

O filme de Tânia Menezes dedica mais tempo aos mestres masculinos tocadores de guitarra, mas acaba por se revelar complementar ao de Aíla e Roberta Carvalho, quando, após apresentar os mestres, dá destaque às mulheres que, sim, também fazem parte do universo masculino da guitarrada, no passado e no presente: a pioneira Luzirene, o grupo GDM (Guitarrada das Manas), as guitarreiras de nova geração Layse, Camila Barbalho e Belém de Belém, que intregam o coletivo misto batizado Clube da Guitarrada. No Espaço Cultural Apoena, onde se desenvolve o projeto, artistas de várias idades evoluem com seus bonés de Lula e do MST, velados, ao fundo do palco, pela placa da simbólica Rua Marielle Franco.

O Clube da Guitarrada em ação, sob as bênçãos do MST e de Marielle Franco

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