Ninguém entende se eu sou cantor ou MC, canta o rapper paulistano Rashid, aos 31 anos, na faixa Não Pode, de seu terceiro álbum de estúdio, Tão Real. O tema são as proibições tácitas que se impõem aos artistas do hip-hop e/ou da periferia, negros em sua grande maioria. Entre essas, está a tese de que não são músicos nem cantores os MCs – mestres de cerimônia – do rap, quase sempre imersos em rimas faladas, quebradas, fragmentadas. Não Pode reflete a evolução e os dilemas do gênero, bem tematizados por Emicida no recém-lançado AmarElo, e desenvolvidos de modo mais tenso e concentrado por Rashid.
No álbum Tão Real, as melodias do rapper paulistano crescem com discrição, em faixas como A Busca, a grave Bem Loko (em dupla com Rincon Sapiência, sobre o vício alcoólico), Sobrou Silêncio (com a pernambucana Duda Beat) e Pipa Voada (com Emicida e Lukinhas). A dureza do dia a dia persiste em Todo Dia, fundada no verso luto todo dia, que cruza propositalmente a condição do luto e o verbo lutar. Dá pra sentir que o luto ribomba a cada acorde, mas é o verbo que conduz e irradia a força de Tão Real.