RÁDIO FAROFA convida para um pequeno passeio pela discografia de Odair José e adjacências.
1. Diana, “Vida Que Não Para” (1978) – uma das canções mais otimistas (e fofas) de Odair, de 1972, na versão de sua esposa e colega de estrelato nos anos 1970.
2. Zeca Baleiro, “Eu, Você e a Praça” (2006) – versão arrasa-quarteirão da balada de 1973 por um fã (e mais tarde produtor do ídolo no disco Praça Tiradentes, de 2012). Do álbum-tributo Vou Tirar Você Desse Lugar.
3. Odair José e Caetano Veloso, “Vou Tirar Você Desse Lugar” (1973) – Caetano tira Odair do lugar dos “cafonas”, reinterpretando com ele, no tenso festival Phono 73, a canção na qual o narrador implorava à amada para que trocasse a prostituição pelo casamento.
4. Ney Matogrosso, “Cante uma Canção de Amor” (1976) – lirismo absoluto, de Odair para Ney.
5. Fernando Mendes, “(Para Odair e Diana) Bang-Bang Rock” (1976) – O colega “cafona” homenageia a constância do casal 20 dos anos 1970, não só nas páginas de celebridades, mas também nas policiais.
6. Pato Fu, “Uma Lágrima” (2006) – Fernanda Takai, John Ulhoa & cia. escolhem uma balada tristonha da fase CBS, de 1971, para o tributo a Odair.
7. Columbia, “Eu Queria Ser John Lennon” (2006) – pop perfeito no tributo à balada beatle de 1972.
8. Nenéo, “Seu Pai Tem Que Saber” (1976) – autor de “Quero Ter Você Perto de Mim” (1969) e “O Dia-a-Dia” (1976), para Roberto Carlos, o negro gato Nenéo canta uma de Odair, em tempo de soul-forró.
9. Odair José, “Cristo, Quem É Você?” (1972) – Odair desafia Jesus Cristo, num álbum coletivo de “orações profanas”.
10. Odair José, “Não Me Venda Grilos (Por Direito)” (1977) – um balanço soul e uma das letras mais inofensivas do disco-tabu O Filho de José e Maria (RCA Victor, atual Sony), até hoje inédito nos formatos pós-LP.
11. Odair José, “Forma de Sentir” (1978) – sobra de O Filho de José e Maria, suprimida da ópera-rock original em meio a canções que faziam referências-tabu ao divórcio e à homossexualidade.
12. Diana, “Foi Tudo Culpa do Amor” (1974) – rock sinfônico à moda da Electric Light Orchestra, composta em casal por Diana e Odair.
13. Angela Maria, “Até Parece um Sonho” (1987) – a dama mestiça reinterpreta balada que em 1979 fora tema da novela global Cabocla, na voz do autor.
14. Geraldo Nunes, “Eu Chorei (O Parto)” (1976) – um dramalhão de Odair na voz do forrozeiro Geraldo, popular à época com a satírica “A Velha Embaixo da Cama”.
15. Mombojó, “Ela Voltou Diferente” (2006) – versão pernambucana, manguebit, pós-cafona, da balada de 1974.
16. Jerry Adriani, “Se Arrependimento Matasse” (1975) – de Odair para Jerry.
17. José Augusto, “Mania de Grandeza” (1977) – de Odair para J.A.
18. Odair José, “Vou Sair do Interior” (2012) – de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, para Odair.
19. Odair José e Zeca Baleiro, “E Depois Volte pra Mim” (2012) – de Zeca, para Odair (e vice-versa).
20. Zeca Baleiro, “Como Diria Odair” (2008) – de Zeca, para Odair.
21. Jumbo Elektro, “A Noite Mais Linda do Mundo (Felicidade)” (2006) – “a felicidade não existe/ o que existe na vida são momentos”.
22. Rita Lee, “Arrombou a Festa” (1976) – Rita implica com a música popular brasileira – inclusive a do “terror das empregadas”.
23. Los Hermanos, “Vou Tirar Você Desse Lugar” (2003) – versão pós-rock, de um filme do Casseta & Planeta.
24. Suzana Flag, “Vida Que Não Para” (2006) – versão paraense, repleta de amor, para a balada-síntese de 1972.
Prostituição, drogas, vida na cidade grande, amor, solidão, sexo, medo, felicidade momentânea e que escapa pelos dedos…
Lou Reed todo mundo gosta e tem coragem de gritar em alto e bom som – e em colunas super entendidas dos jornais super antenados. Com efeito, poucos têm a percepção fina e aguda de que – mesmo com todas as inúmeras diferenças, é claro – Odair José foi o cantor no Brasil que encarou esses mesmos temas de forma aberta e primorosa. E, ainda, em um período extremamente difícil para a criação artística e literária – vivíamos sob a censura da moral e dos bons costumes militares. E, para falar a verdade, uma parte dessa censura – mesmo que não explícita – persiste. Esses temas não estão no radar de nenhum músico popular hoje no Brasil – falo isso sem medo de errar.
Eis um dos possíveis caminhos para Michel Teló e Luan Santana amadurecerem – ou seja, encarar temas difíceis e que tem a ver com essa chão histórico em que vivemos, andamos de ônibus, sofremos e nos apaixonamos. Falta, todavia, abandonarem os carrões e a ostentação – falta vivência e ser ombro a ombro com que admira as suas músicas. Odair José era o poeta do povo, porque era povo, do povo, mais um Zé – e as letras do seu nome são irmãs do rádio (O D A I R, R A D I O).
Obrigado, mais uma vez, Pedro e todo pessoal do Farofafá.
Só música boa.Odair José fez músicas do mesmo nível e até melhores do que as dos compositores considerados da nata da ”MPB”.