Segue abaixo um apanhado de clássicos e raridades do sanfoneiro e compositor pernambucano Dominguinhos, morto em 23 de julho, em vozes como as de Gal Costa, Marinês e Anastácia, de Gilberto Gil, Chico Buarque e Emílio Santiago – e, no final, duas “faixas bônus” de herdeiros musicais do herdeiro musical de Luiz Gonzaga.
1. A Cor do Som, “Abri a Porta” (1979) – depois do sucesso da parceria de “Lamento Sertanejo” (1975), Gilberto Gil e Dominguinhos repetiram a dose nesse sucesso pop-samba-soul com o grupo carioca nascido das entranhas dos Novos Baianos.
2. Gal Costa, “Relance” (1973) – antes de fazer sucesso na voz de Gil, Dominguinhos brilhou como sanfoneiro pós-tropicalista do álbum Índia, de Gal, imprimindo a sanfona na história de canções como o tema caipira “Índia”, o “Presente Cotidiano” de Luiz Melodia e este “Relance” de Caetano Veloso.
3. Luiz Gonzaga, “Já Vou, Mãe” (1970) – antes de aderir à tropicália, Dominguinhos se viu gravado na voz do seu mestre pernambucano, nesse terno tema materno composito em dupla com Anastácia.
4. Dominguinhos, “Lamento Sertanejo” (1973) – antes de ser iluminado por Gonzagão, Dominguinhos gravou uma série de discos solo quase sempre instrumentais, a partir de 1964. Aí nascia a primeira versão de “Lamento Sertanejo”, que dois anos depois ganharia letra e gravação (e o subtítulo “Forró do Dominguinhos”), por Gilberto Gil.
5. Quinteto Violado, “Forró do Dominguinhos” (1973) – sob outro nome, o “Lamento Sertanejo” ganha versão agreste, modernizada, algo samba-roqueira, do quinteto pernambucano.
6. Gilberto Gil, “Lamento Sertanejo (Forró do Dominguinhos)” (1975) – eis aqui a primeira parceria Gil-Dominguinhos, lançada na esteira da gravação de Gil de “Só Quero um Xodó”, de Dominguinhos e Anastácia, no lado B de um compacto de 1973. No alicerce, um suave protesto acompanhado de uma declaração tímida de identidade nordestina: “Por ser de lá, na certa por isso mesmo/ não gosto de cama mole, não sei comer sem torresmo/ eu quase não falo/ eu quase não sei de nada/ sou como rés desgarrada/ nesssa multidão-boiada caminhando a esmo”.
7. Marinês e Sua Gente, “Eu Quero um Xodó” (1973) – quando provavelmente Gil ainda não previa o sucesso que faria sua versão para “Só Quero um Xodó”, a arretada Marinês o gravou em tempo e pique de puro forró.
8. Doris Monteiro, “Eu Só Quero um Xodó” (1973) – a sanfona brilha na versão de Doris, cuja voz aveludada transforma forró em balada soul.
9. Dominguinhos, “Veja” (1976) – o condão melancólico e romântico do autor, que Elba Ramalho ressaltaria a partir de “De Volta pro Aconchego” (1985), já aparecia esplendoroso na voz dele próprio, dez anos antes.
10. Emílio Santiago, “Preconceito (Pura Tolice)” (1977) – um dos mais belos temas tristes de Dominguinhos e Anastácia surgiu na voz de Emílio, tratando do tema do preconceito, ajustável à pele negra do intérprete, mas também à nordestinidade mestiça dos compositores. “O preconceito não tem valor”, cantava o refrão, em compasso de afro-samba.
11. Claudia Barroso, “Amor Proibido” (1974) – a grande intérprete de Dominguinhos e Anastácia antes da fase tropicalista foi Claudia, cantora romântica derramada que desfiava, aqui, outro tema de preconceito, discriminação e segredo: “Seu nome não digo/ só guardo pra mim/ agindo assim/ faço muito bem/ quem ama em segredo/ sofre muito mais/ amando em silêncio/ perdendo a paz”.
12.Gal Costa, “De Amor Eu Morrerei” (1974) – a veia melancólica de Dominguinhos e Anastácia, sob lirismo em grau máximo de arranjo e voz.
13. Gilberto Gil, “Tenho Sede” (1975) – lirismo máximo na segunda gravação de Gil para uma canção de Dominguinhos e Anastácia.
14. Anastácia, “Tenho Sede” (1978) – a versão autoral, de raiz, da mais importante parceira musical de Dominguinhos.
15. Quinteto Violado e Dominguinhos, “Sete Meninas” (1975) – forró de raiz com os pais da matéria.
16. Dominguinhos, “O Babulina” (1976) – o rei da tristeza faz uma pausa para homenagear o rei da alegria, Jorge Ben (Jor).
17. Jackson do Pandeiro, “Sete Meninas” (1977) – a versão do rei paraibano do coco e da embolada, ainda mais arraigada no sangue e nos saberes do nordeste.
18. Luiz Gonzaga, “Sanfona Sentida” (1976) – a melancolia dominguiniana encontra abrigo e afago na voz do padrinho.
19. Nara Leão e Dominguinhos, “Chegando de Mansinho” (1977) – em seu disco de duetos vocais, Nara converte tristeza em brejeirice.
20. Fagner, “Quem Me Levará Sou Eu” (1980) – adentrando na fase pós-Anastácia, Dominguinhos encontra em Fagner um novo – grande – intérprete.
21. Alceu Valença, “Lava Mágoas” (1982) – parceria Alceu-Dominguinhos, fazendo das tristezas uma limonada de água de chuva.
22. Dominguinhos, “Estrelas Somos Nós” (1982) – a segunda parceria Dominguinhos-Alceu em 1982, refletindo sobre a efemeridade da vida.
23. Dominguinhos e Chico Buarque, “Isso Aqui Tá Bom Demais” (1985) – Dominguinhos traz Chico para o universo do forró, numa parceria sua com Nando Cordel, também coautor do sucesso “De Volta pro Aconchego”, com Elba.
24. Elba Ramalho, “Salve-Se Quem Puder” (1988) – Elba, que demonstrava predileção pela veia triste/romântica de Dominguinhos, se entrega aqui a um forró-canção sobre amor e rancor em parceria com o cearense Fausto Nilo.
25. Fagner, “Pedras Que Cantam” (1991) – o maior sucesso da dupla Dominguinhos-Fausto Nilo, forró sobre (i)mobilidade social que virou tema de abertura de novela da Globo.
26. Fausto Nilo, “Pedras Que Cantam” (2009) – em versão autoral, Fausto transforma forró em melancolia.
27. Portastatic, “Lamento Sertanejo” (2003) – no embalo da lista de músicas de Joyce Moreno, a (pós-)tropicália dominguiniana revista por uma banda indie norte-americana.
28. Marcelo Jeneci, “Pra Sonhar” (2010) – para terminar, o som de um herdeiro da sanfona de Dominguinhos – pernambucano, o pai do músico e compositor paulistano montava sanfonas para o mestre.
29. Michel Teló, “Humilde Residência” (2011) – para terminar, Dominguinhos e todos os sanfoneiros nordestinos dão a volta ao ao mundo por intermédio da música do neo-sertanejo paranaense: o mundo é uma bola.