Mario Frias e André Porciuncula com o deputado Daniel Silveira, preso pelo STF e que foi obrigado a recolocar nesta quinta, 31, a recolocar tornozeleira eletrônica por desrespeitar decisão judicial

Na próxima semana, o governo federal vai enviar Mario Frias, secretário Especial de Cultura, André Porciuncula, secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, e Gustavo Sousa Torres, coordenador de relações multilaterais, para participar de reuniões sobre políticas audiovisuais em Los Angeles, na Califórnia, de 19 a 23 de janeiro próximos.

Curioso é que, além de não levar ninguém da área audiovisual propriamente dita (a Ancine, que define as políticas para a área, nem foi convidada a participar), dar carona ao troglodítico secretário de Fomento (que não é responsável pelo setor), o “bonde da alegria” da secretaria de Cultura não tem muito o que apresentar em reuniões sobre o tema do audiovisual. A deliberada falta de regulação do streaming no Brasil, por exemplo, tem causado um prejuízo incalculável ao setor – diretores da Ancine defendem “livre concorrência” no Brasil, enquanto países europeus estão há anos à frente na regulação.

Segundo apurou o FAROFAFÁ,  vão colados na comitiva “Dumb & Dumber” bolsonarista, para fazer negócios privados, dois executivos da Rede Record, lobistas do setor cultural, um advogado e consultor de empresas, um conhecido roteirista-empreendedor,  entre outros.

A própria Ancine vive um dos piores momentos de sua História. Sua direção passou os primeiros anos sob o bolsonarismo incrementando um processo de aparelhamento político e censura ideológica e anunciando que se dedicaria primordialmente ao passivo de análise de prestações de contas que havia na agência. Soterraram as políticas públicas de fomento em prol de uma ação retroativa de fiscalização, para a qual direcionaram um quarto do total de servidores, e o resultado é que, até agora, só analisaram 15% do passivo (isso em número de projetos, o que não representa nada em termos de valor ou quantidade de documentos analisados).

Talvez a Ancine brasileira só tenha a oferecer, como experiência na gestão audiovisual, o know-how de usar cargos terceirizados como moeda de troca política e desmonte de políticas de proteção de mercado interno. Também pode levar estatísticas adulteradas ou inflacionadas, como já se tornou hábito nesse governo. Por exemplo: há alguns dias, a agência de cinema informou que o Brasil produziu cerca de 700 obras documentais em 2021. Só não informou que a maior parte é de curtas regionais, produzidos sem fomento público. Os novos agentes econômicos agindo na área são, em grande parte, empresas publicitárias, plataformas de streaming e empresas de infraestrutura, que atuam à revelia da ação da Ancine.

Até 2019, o Brasil lançava 150 filmes por ano, em média. Em 2021, um dos raros filmes brasileiros lançados nos cinemas (os outros apenas cumpriram uma passagem pelo cinema antes de irem para o streaming) foi justamente o mais combatido (covardemente) pelo bolsonarismo, Marighella, de Wagner Moura, que conquistou um desempenho excepcional, mesmo estreando com dois anos de atraso. Teve 296 mil espectadores e 5,7 milhões de reais de renda.

Há alguns dias, Portugal decidiu que os serviços de streaming em atividade no País deverão pagar 1% dos seus lucros ao Instituto de Cinema e Audiovisual, a Ancine portuguesa. Além da taxa, há obrigações de investimento em produção e promoção de obras europeias e e língua portuguesa, bem como produções independentes. No Brasil, não há nada.

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