Cena de
Cena de "Esperando Godot", filme-espetáculo - Foto: Jennifer_Glass

Esperando Godot, drama do irlandês Samuel Beckett encenado pela primeira vez em 1953, é considerado por muitos críticos como a peça mais influente da segunda metade do século 20. A tragicomédia, econômica e cirúrgica nas palavras, mostra os conflitos existenciais do homem no pós-guerra. Encenada e reencenada por diversas companhias teatrais no Brasil e no mundo, a enigmática obra de Beckett se baseia na utopia, na incessante busca daquilo que jamais será alcançado, algo que parece fazer cada vez mais sentido.

É nesse contexto que se insere a montagem filmada por Zé Celso Martinez Corrêa e Monique Gardenberg. Exibido no Sympla Play, a peça apresenta a história de Vladimir (Guilherme Calzavara) e Estragão (Marcelo Drummond), enquanto esperam o misterioso e inexplicado personagem Godot. Diante da inépcia, uma verdadeira encruzilhada em que devem decidir entre ficarem onde estão ou partirem, a dupla de palhaços vagabundos se depara com personagens que os colocarão à prova, como Pozzo (Pascoal da Conceição), que rouba a cena, Lucky (Danilo Grangheia) e O Menino Mensageiro (Raphael Moreira).

No texto original de Esperando Godot, escrito em 1949 e traduzido em mais de 30 idiomas, os personagens principais Vladimir e Estragão não tinham noção do tempo. Apenas se guiavam pelo nascer e pelo por do sol, enquanto divagavam sobre coisas cotidianas da vida. Na versão de Zé Celso e Monique, o tempo fica relegado a um papel secundário, apenas visível pela passagem das horas em que a montagem foi filmada.

É o espaço que prevalece nessa narrativa, que ocupa o histórico e emblemático cenário da casa de José Celso Martinez Corrêa, o Teatro Oficina, em São Paulo. E, para os que têm saudade do teatro físico, o filme-espetáculo, gravado na pandemia com uma parceria entre Itaú Cultural e Spcine, serve como um primeiro ensaio para a retomada das atividades presenciais no Teatro Oficina, no bairro do Bexiga. Esperando Godot foi o último espetáculo de Cacilda Becker, a grande atriz da dramaturgia brasileira.

Se depois da Segunda Guerra Mundial a grande dúvida que pairava no ar era sobre os próximos passos da Humanidade, hoje a espera de um protagonista ausente como Godot soa sintomática de um mundo sem direção e repleto de questionamentos sem respostas. Não estamos, como os personagens da peça, alheios aos absurdos dos nossos tempo e espaço?

Esperando Godot. De Samuel Beckett. Filme-espetáculo no Sympla Play. Ingressos a 30 reais.

 

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