Cena de
Cena de "Round 6", da Netflix - Foto: Youngkyu Park

Muitos motivos explicam o estrondoso sucesso da série Round 6, de Hwang Dong-hyuk, em cartaz na Netflix. Enumerar alguns deles pode conferir algum sentido para esse fenômeno mundial do streaming:

  • a cultura K-pop e também os K-drama abriram espaço para que essa série produzida na Coreia do Sul tenha alcançado o primeiro lugar em quase 100 países, sendo que 95% dos espectadores sejam de fora do país do BTS.
  • Round 6 é uma série estupidamente violenta, mas que em vez de mobilizar por sustos e cenas macabras, aterrorizantes até, faz o público questionar qual é o preço que pagaríamos por nossas vidas.
  • A premissa da série é simples e engenhosa: 456 pessoas terrivelmente endividadas competem por uma quantia de dinheiro capaz de pagar a dívida de países, mas só os sobreviventes levam o prêmio. O irônico é que a competição envolve jogos infantis, como cabo de guerra ou “batatinha frita.. 1,2,3”.

    Cena de "Round 6", da Netflix - Foto: Youngkyu Park
    Cena de “Round 6”, da Netflix – Foto: Youngkyu Park
  • Não é spoiler dizer que embora os competidores de Round 6 possam optar por abandonar o jogo, eles sabem que a vida “lá fora”, sem um tostão e com agiotas e cobradores de dívidas no seu encalço, é muito pior. O que, afinal, têm a perder? Encarar os problemas como um jogo de vida ou morte não raras vezes é como as pessoas reagem.
  • A carnificina que o diretor Hwang Dong-hyuk faz questão de expor quase que com prazer sádico é suplantada pela torcida que move a audiência em torno de alguns de seus personagens. Sabemos que se trata de ficção, totalmente distópica. Então tudo bem de torcer pelo protagonista Seong Gi-hun (Lee Jung-jae), que é um fanfarrão de bom coração que luta para não ver a filha de 10 anos ir embora para os Estados Unidos, com a mãe e o padrasto. Como em um reality show, outros personagens precisam ser “cancelados”, porque esta é a cultura atual.
  • Cada episódio de Round 6 subverte o anterior, pelo menos nesta primeira temporada. O que se inicia como uma luta individual, logo se descobre que em grupo as chances de sobreviver aumentam. Porém, isso até que se percebe que quanto mais violência for produzida, mais o prêmio aumenta – que é da ordem de 45,6 bilhões de wones, a moeda sul-coreana.
  • Mais do que a ambição por um polpudo prêmio bilionário, Round 6 propicia um clima de torcida em torno de seus personagens favoritos. Os valentões terão seus clones para torcer, e até destilar um pouco de sua raiva contida por uma pandemia. Os mais fracos vibrarão quando saem vitoriosos de um dos jogos infantis, a despeito de já começarem com a perspectiva de derrota.
  • Se o “lá fora é tão ruim quanto aqui”, diz um dos competidores, o que dizer das bilhões de pessoas que se viram obrigadas a jogar sem jogar durante o confinamento da pandemia? Round 6 nos faz lembrar que o mundo exterior é abusivo, injusto e cruel, e não só para endividados e loosers. O quanto de nós aceitamos, nos convencemos ou nos sentimos obrigados a participar de mais uma rodada de abre e fecha sem critério algum?
  • Poucas plataformas são capazes de distribuir, rápida e tão globalmente, uma produção quanto a Netflix, que chega hoje a mais de 200 milhões de lares de 90 países. A empresa de streaming oferece legendas em 37 idiomas e dublagem em 34. Mesmo que não tenha feito uma campanha massiva de propaganda, o famoso boca-a-boca pelas redes sociais impulsionou Round 6.
  • Produções anteriores como Narcos, La Casa de Papel, Elite e até a brasileira 3% provaram que é possível fazer sucesso mundial apesar de o idioma não ser da língua inglesa. E é provável que em pouco tempo Round 6 seja a série de maior sucesso, superando Stranger Things.
  • Round 6 segue os trilhos já percorridos pela indústria cultural americana, que já produziu blockbusters como Jogos Vorazes, praticamente uma série.

Haveria, claro, uma série de outros motivos para explicar o auê em torno dessa série original da Netflix. No caso do Brasil, ela acabou ganhando um impulso extra com a infeliz troca do título. Squid Game, o original, virou Round 6, sob a justificativa da empresa de que sempre foi essa a intenção para atrair o público brasileiro. Não demorou para que desde o episódio 1 as pessoas discutissem que havia algo estranho no ar: a tradução correta do título seria Jogo da Lula, e Lula todos sabemos que no Brasil quem é. Na Espanha, a série ficou El Juego del Calamar. Na França, Le Jeu du Calmar. Se se mantivesse Squid Game, como na maioria dos países, essa questão nem seria uma questão.

Round 6. De Hwang Dong-hyuk. Série em 9 episódios na Netflix.

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