Single anuncia disco em que Jorge du Peixe se dedica a repertório de Luiz Gonzaga. Foto: José de Holanda/ Divulgação
Single anuncia disco em que Jorge du Peixe se dedica a repertório de Luiz Gonzaga. Foto: José de Holanda/ Divulgação

Dúvidas pairavam sobre o futuro de Chico Science e Nação Zumbi quando o noticiário do dia de Iemanjá em 1997 deu conta da morte precoce do líder da banda, em um acidente automobilístico.

Com dois discos lançados, os revolucionários “Da lama ao caos” (1994) e “Afrociberdelia” (1996), o grupo havia extrapolado a zona do mangue onde haviam enfiado suas parabólicas, Pernambuco falando para o mundo a partir do movimento manguebit, fazia sucesso em todo o Brasil e já percorria o circuito de festivais internacionais.

Jorge du Peixe encarou a responsabilidade e o desafio e tem cumprido bem o papel de sucessor natural de Science na condição de frontman da banda, desde “Rádio S.Amb.A.” (2000), primeiro disco da banda sem seu mentor.

De lá para cá, muita água rolou pelos rios, pontes e overdrives e Jorge du Peixe se envolveu também em projetos paralelos, como a banda Los Sebosos Postizos, em que integrantes da Nação Zumbi dedicam-se ao repertório de Jorge Benjor (quase escrevo simplesmente Ben).

O músico disponibilizou hoje (30) nas plataformas de streaming o single “Rei Bantu” (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas), que antecipa “Baião granfino”, disco que Jorge du Peixe lança em setembro, com 11 releituras do repertório de Luiz Gonzaga, produzido por Fábio Pinczowski.

A escolha da música é acertada: pouco conhecida mesmo de gonzaguianos experimentados, o que garante certo ar de ineditismo, a releitura de Jorge du Peixe funde o baião do rei com um maracatu amaxixado, conduzido por uma cozinha dos sonhos: Carlos Malta (sopros), Mestrinho (sanfona), Pupillo (ex-Nação Zumbi, bateria e percussão) e Swami Jr. (violão sete cordas), além do coro formado por Naloana Lima, Sthe Araújo e Victória dos Santos, que remete a clássicos do samba, outro acento e acerto da faixa.

“Eu tô ligado nessa música. Fala de herança afro-brasileira, de resistência cultural, da cultura popular enquanto espaço de afirmação de dignidade e diferença, né? Quer dizer, é como eu entendo ela hoje, nesse contexto que a gente tá vivendo. Porque antes eu achava que era apenas uma música bonita sobre o maracatu pernambucano. Engraçado como uma música pode mudar com o tempo. Ou será que o que muda é a gente? O nosso jeito de ouvir, ver, entender?”, questiona-se o cantor, compositor e instrumentista Siba, em seu hilariante diálogo com Jorge du Peixe, divulgado à guisa de release. O ex-Mestre Ambrósio, outra banda fundamental do movimento manguebit, é um dos maiores nomes do maracatu.

“Faz parte da minha memória afetiva. Quem é do Nordeste cresce ouvindo as melodias de Luiz Gonzaga”, Jorge du Peixe comenta a escolha, no material de divulgação enviado à imprensa.

Não é a primeira vez que o músico adentra essa picada: com ele à frente, a Nação Zumbi colocou sua versão de “O fole roncou” (Luiz Gonzaga/ Nelson Valença) em “Baião de Viramundo – Tributo a Luiz Gonzaga” (2000), em que artistas e bandas – pernambucanos em sua maioria absoluta – reliam clássicos e lados b do Velho Lua.

“Gonzaga meteu bronca em 73, ano do corcel de Raul Seixas e do “Brasil nunca mais”, David Byrne tocou fogo na coletânea anos 90 do Luaka Bop e Jorge du Peixe esquentou a bolacha como dj da greia recifense. Agora o groove é nosso, Valentina é dele, e salve a Nação!”, anotou um entusiasmado Xico Sá, em texto sobre a faixa, no encarte do disco.

“Meu avô lá no Congo/ foi Rei Bantu/ mas aqui eu sou rei/ do maracatu”, diz a letra, cuja interpretação de Jorge du Peixe a faz tão sua, que a nós resta apenas coroá-lo. Ao som do single e do disco que vem por aí.

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Ouça “Rei Bantu”:

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