O homem que ri. Frame. Reprodução
O homem que ri. Frame. Reprodução

Antropóloga de formação e professora universitária, após 16 filme etnográficos, a franco-paraibana Rose Panet ganhou certa notoriedade com o documentário “Manuel Bernardino: o Lênin da Matta” [2017, 52 min.], narrado por Zeca Baleiro, exibido em tevês públicas e no circuito nacional de festivais. Em seguida, aventurou-se pela ficção, com “Amniogênese” [2018, 10 min.], experimental que ainda encontra-se no circuito – participará do CineFantasy, em São Paulo, em setembro que vem.

A cineasta Rose Panet em debate sobre cinema, na Feira do Livro de São Luís (FeliS) 2018. Foto: Ascom/Secult São Luís

A cineasta lança amanhã (13), em São Luís, seu novo curta-metragem: “O homem que ri” [2019, 11 min.], escancaradamente uma obra de resistência ao governo do neofascista Jair Bolsonaro – a sessão acontece na programação Iema no Cinema, às 8h30, no Cine Praia Grande (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, Praia Grande), com entrada franca.

O filme se vale da ambivalência social tão brasileira: enquanto o circo literalmente pega fogo, tornamo-nos a “memecracia”, o povo capaz de rir de tudo, inclusive, ou principalmente, de sua própria desgraça.

O cineasta Murilo Santos (diretor de fotografia de “Manuel Bernardino”) e o músico Beto Ehongue (que assina a trilha sonora de “O homem que ri” e havia estreado como ator em “Avesso” [2018, 9 min.], de Francisco Colombo) são o elenco firme do curta, que se vale do mito da caverna, de Platão, para tentar explicar (ou entender? Ou confundir?) o Brasil sob a égide militar/izada do (des)governo do capitão.

Beto Ehongue (o matador de aluguel Matias em “Avesso”) literalmente cai da tela do cinema – vindo daquele filme – e encontra o personagem de Murilo Santos, “artista em decadência”, como se apresenta, e passam a travar um diálogo. Já nesta cena se evidenciam as críticas de Rose Panet à política armamentista do pesselista e à falta de uma política de cultura, com a extinção do Ministério da Cultura – “O homem que ri” foi todo realizado com recursos próprios e boa vontade de atores, figurantes e a equipe da Freela Conteúdo, produtora parceira na empreitada.

Sagaz, Rose Panet, professora de universidade pública, se vale de cenas de “Ascenção do nazismo – Marcha das tochas (Fackelzug)”, para ilustrar o paralelo já comprovado entre o nazismo de Adolph Hitler e o patriotismo para boi dormir de Jair Bolsonaro. O filme é tão atual que já revela imagens dos protestos realizados nos últimos dias 15 e 30 de maio, contra os cortes de recursos federais para a educação.

Também aparecem pronunciamentos esdrúxulos de um Bolsonaro ao mesmo tempo patético e perigoso. A claque ri, adestrada, no que a cineasta também é feliz em sua crítica ao bolsonarismo.

Nos créditos, o recado também é direto: “Este filme é uma resposta engasgada a todos aqueles que elegeram um fascista e dedicado a todos que lutam contra isso. Lula preso político”. Seja qual for a carreira de “O homem que ri”, já temos uma certeza: fascistas, neonazistas e simpatizantes detestarão.

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Assista:

[post editado em 24 de julho de 2019, às 12h49, para inclusão do vídeo]

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1 COMENTÁRIO

  1. Os regimes mais opressivo das artes foram os marxista-leninistas: URSS, CHINA, Vietnam, Cuba etc.

    Nos dias de hoje, há escritores cubanos impedidos de escrever, cerceados e exilados.

    Lógico que para vocês, vermelhos, esse tipo de acto não se configura “censura”. Mas é pura censura!

    Mas para ser sincero: TODA FORMA DE PODER pratica censuras. A Democracia Iluminista está cheíssima de censuras também.

    A treta que tenho com a esquerdas é a seguinte: defendem os regimes mais opressivos das Artes ao longo da História ao passo que reclamam de governos direitistas autoritários que sequer podem ser comparados às barbaridades anti-artísticas de Lenin, Stalin, Mao, Fidel e afins.

    O Governo Bolsonaro não censura a esquerda de nada. É pura viagem esquerdosa dizer o contrário.

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