O baiano Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Môa do Katendê, tem sido tratado como capoeirista no obituário sobre seu assassinato a facadas por um eleitor de Jair Bolsonaro, numa discussão na madrugada pós-eleitoral de 8 de outubro, em Salvador. Moa é, além disso, o primeiro artista a sucumbir à onda protofascista que emerge das urnas no Brasil de 2018. Compositor ligado a blocos afro como Ilê Aiyê e Badauê, ele foi iluminado nacionalmente primeiro por Caetano Veloso, que gravou uma vinheta de “Badauê” no disco Cinema Transcendental, de 1979: “Misteriosamente/ o badauê surgiu/ sua expressão cultural/ o povo aplaudiu”. (À época, o nome do artista foi grafado como Môa do Catendê.)
Caetano citou o Badauê e o Ilê de Môa noutras canções daquele período, como as espontaneamente antifascistas “Beleza Pura” (“não me amarra dinheiro, não,/ mas elegância/ não me amarra dinheiro, não,/ mas a cultura/ dinheiro não/ a pele escura/ dinheiro não/ a carne dura/ dinheiro não/ moço lindo do Badauê/ beleza pura/ do Ilê Aiyê/ Beleza pura”), também de 1979, e “Sim/Não” (“No Badauê/ gira menina, macumba, beleza, escravidão/ no Badauê/ toda a grandeza da vida no sim/não”), de 1981.
O Ilê Aiyê gravou outro “Badauê” de Môa: “Na Liberdade/ e na cidade/ sua crioulada engalanada/ 100% emocionada/ delirando toda a massa cantando assim/ badauê”. Num contexto ainda mais explícito que o da execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes, em março passado, Môa foi assassinado pelo barbeiro Pedro Sérgio Ferreira de Santana, militante do PSL de Bolsonaro, após defender voto no PT. Na terça-feira 9, o jornalista Ricardo Boechat disse ao vivo, na BandNews FM, que não vê agressividade na presente campanha eleitoral e classificou o assassinato de Môa do Katendê de “uma bobagem, minha gente”.
Veículos comprometidos com a frente antifascista em formação, como Opera Mundi e CartaCapital, têm publicado material de fundamental importância para o enfrentamento da onda fascista. A mídia internacional já repercute o Mapa da Violência Política elaborado de forma colaborativa a partir do site Opera Mundi.
(Este texto foi produzido originalmente para a edição 1.025 da revista CartaCapital.)