Era uma vez o Mato Grosso, que a ditadura dos Estados Unidos do Brazil decidiu fatiar em duas metades, instituindo, em 1º de janeiro de 1979, o estado do Mato Grosso do Sul. Na parte sulista dos Matos Grossos desembarquei em 27 de julho de 2017, para participar como observador convidado do 18º Festival de Inverno de Bonito, evento multicultural sediado numa estância turística que conheço desde os anos 1990, um mar de água doce que jorra do Aquífero Guarany para a superfície da Terra, num pedaço de terra à parte do mar de gado e do mar de soja que é o Mato Grosso do Sul, que é o Mato Grosso do Norte dos indígenas do Parque Indígena do Xingu, que são os Matos Grossos todos.

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É árduo para um forasteiro desinformado decifrar o Mato Grosso do Sul, ainda mais se o forasteiro, como é meu caso, for um paranaense do norte, interiorano, que se converteu a fórceps em paulista metropolitano, em paulistano dito cosmopolita, em filhote desgarrado do prefeiturista João Doria Jr. do PSDB. Cumpre aqui lembrar que a província do Paraná foi instituída pelo imperador Dom Pedro II em 1853, como um abcesso de terra expulso do seio da província de São Paulo – poderia se chamar hoje em dia Província de São Paulo do Sul, presidida pelo governador-ditador Sergio Moro, também do PSDB em coligação com o (P)MDB tieteense do paulista do norte Michel Temer. Numa mesma natureza de fenômeno, em 1988 o pós-ditador acidental (?) José Sarney, do PMDB (ex e futuro MDB), separou Goiás em Goiás e Goiás do Norte, ou melhor, Tocantins, um estado hoje nortista que foi arrancado não apenas do corpo de Goiás como da região Centro-Oeste dos matos grossos todos, de cerrados, pantanais, aquíferos, parques indígenas, florestas e mares de soja e gado. A ruralista Kátia Abreu é goiana que virou tocantinense, tal qual a violeira Helena Meirelles e a atriz Aracy Balabanian são mato-grossenses que viraram do sul e o poeta Manoel de Barros é cuiabano do norte que viveu sempre no (Mato Grosso do) sul.

Logo comecei a me perguntar em que natureza de divisão eu estava penetrando, ao chegar ao MS convidado pelo Festival de Inverno de Bonito, na figura de Jerry Espíndola (um dos muitos filhos músicos da extraordinária família campo-grandense Espíndola), sob patrocínio do governo tucano sul-mato-grossense (e a um custo total de R$ 2,5 milhões, segundo os organizadores, divididos em R$ 2,2 milhões do governo estadual, R$ 150 mil em emendas parlamentares, R$ 100 mil da prefeitura também peessedebista de Bonito e R$ 50 mil da Fundação do Turismo do estado). Onde estava eu? Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul? Direita ou esquerda? América ou América (apenas) do Sul? Sudeste ou Nordeste? Pátria Grande ou Pátria Pequena? Ocidente ou Oriente? Fascismo ou comunismo? Carnívoros ou vegetarianos? Gado ou soja? Norte ou sul? Guerra ou paz?

Como diria a compositora paraibana Roberta Miranda, talvez fosse melhor nem pensar, apenas sentir.

MST à margem da rodovia Campo Grande-Bonito
MST à margem da rodovia Campo Grande-Bonito

Os sentidos ficaram de fato aguçados, desde a visão de dois tamanduás-bandeira em pontos distintos do trajeto terrestre de 280 quilômetros entre a capital Campo Grande e Bonito, até o encontro institucional com Ney Matogrosso, outro sul-mato-grossense nascido apenas mato-grossense, em 1941, na pantaneira Bela Vista, próxima de Bonito e fronteiriça com o Paraguay.

Ney, cantor do brado seco & molhado “desperta, América do Sul!” (1975), se apresentaria como astro principal da praça da Liberdade na noite do sábado 29, num show 100% marcado e sem surpresas preparadas sob medida para a ocasião, por um cachê de R$ 118,5 mil. É difícil saber quantos sul-mato-grossenses (etc.) o assistiram na vila turística com rede hoteleira lotada (e repleta de gringos), mas a organização estima em 38 mil os espectadores dos quatro dias de festival (contra 23 mil do ano anterior), distribuídos em 211 atrações de várias áreas artísticas.

Na resistência em se afirmar sul-mato-grossense ou só mato-grossense (como, afinal de contas, delata o sobrenome-fantasia hiperfantástico), Ney parecia ostentar a divisão e o isolamento que separa os Matos Grossos do resto do Brasil, mesmo que parte substancial das divisas nacionais atuais sejam obtidas a partir dos mares de água doce, gado, soja e música sertaneja universitária. (A indústria de massa que sustenta essa última modalidade de riqueza se concentra fortemente em Campo Grande, segundo me contam, nos bastidores da produção do festival, os músicos e produtores culturais Jerry Espíndola e Rodrigo Teixeira. Luan Santana, por exemplo, é campo-grandense; João Bosco & Vinicius nasceram cada num Mato Grosso; Michel Teló é paranaense criado no MS).

A negação da raiz pode soar como teimosia de Matogrosso, mas a divisão e o separatismo guardam profundas raízes históricas. Houvesse o Paraguay vencido a guerra (1864-1870) que lhe levou o nome em desfavor da tríplice aliança formada por Argentina, Brasil e Uruguay, toda a região que envolve as águas de Bonito, as neymatogrossices de Bela Vista e os pântanos fronteiriços (com a Bolívia) de Corumbá não seriam Brasil, mas sim Paraguay.

Como cantou o campo-grandense Almir Sater (“lembrando o que não se diz”) na linda “Sonhos Guaranis” (1982), se os brasileiros tivéssemos perdido a sangrenta Guerra do Paraguai Ney Matogrosso não seria nosso, mas sim um rebelde cantor andrógino revolucionário subversivo paraguayo. De certa forma, a área de divisão em que se encontra este desinformado forasteiro paranaense sul-paulista é uma gigantesca zona de fronteira. Conflagrada ou pacata? Isolada ou universal? Brasil ou Paraguay? Portugal ou Espanha? Estados Unidos ou Brazil?

Melhor nem pensar, apenas sentir.

IMG_5144Divisões e fronteiras à parte, há uma mágica estranha no ar, desde o cortejo de abertura das festividades com um grupo de adolescentes bonitenses que dançam à moda indiana de Bollywood. A curadoria artística desta edição do evento optou por um lance ousado: na parte musical (Bonito nesses dias está povoada também por teatro, circo, cinema e dança), o Festival de Inverno se fechou quase exclusivamente no próprio umbigo sul-mato-grossense, num ato de autoelogio pelos 40 anos de criação do estado pós-guarany. Exceção solitária é Karol Conka, rapper funkeira paranaense (de Curitiba, atual capitania sul-paulista de Moro), hoje estrela global, que passa feito foguete fechando a noite pop de sexta-feira 28. Karol não fala com imprensa nem atende à imensa fila de fãs Brasil-profundenses carentes de um mínimo de atenção cultural.

Exceções bem delimitadas, a identidade aflora na programação de rua, uma identidade que nem é exclusivamente sul-mato-grossense ou mato-grossense. É, bem mais que isso, paraguaya, boliviana, pan-americana, fronteiriça, caipira, sertaneja, sertanejo-universitária, bollywoodiana, euro-indígena.

A surpresa, para este forasteiro, é mais vasta que essa provocada pelo apego identitário com as coisas do MS. Apesar de filiado a um partido que flerta com  a direita mais reacionária, quando não com o fascismo propriamente dito, e enroscado com delações carnívoras da Friboi/JBS, o governador tucano Reinaldo Azambuja deixa que as equipes artística, turística e de cidadania do festival evoluam com desenvoltura pelo território das identidades ditas minoritárias. Os sul-mato-grossenses orgulham-se de abrigar em seu seio a primeira secretaria estadual indígena das tristes terras do Pau Brasil. PSDB ou PT? Caubóis ou índios? Genocídio ou identidade?

As comunidades LGBT, feminina e indígena protagonizam lindamente grande parte do 18º Festival de Inverno de Bonito, seja em momentos festivos (como num multicolorido, multissexual e multiétnico desfile de modas bonitenses) ou em instantes graves de militância, como quando a jovem cantora e compositora campo-grandense de reggae Marina Peralta (cachê de R$ 20 mil) eleva-se altiva no palco para cantar e discursar de peito aberto e rasgado contra o feminicídio. “Hoje, irmãs presentes, o que eu tenho pra dizer é: cuidado. Encontre força em você. Conheça você mesma. E não vai se seu coração disser pra não ir. Cuidado”, diz, entre cânticos repetidos em coral pela plateia, do tipo “lugar de mulher/ é onde ela quiser” e “deus é mulher“.

IMG_9966Dividindo vizinhança com a tenda LGBT, a Tenda dos Saberes Indígenas dá guarida fraternal a guaranis-kaiowás, kinikinaus, ofaiés, guatós, atikuns, terenas, kadiwéus e guaranis-ñandevas. Ali, brilha o jornalista indígena Sidney Terena, que faz entrevistas e transmissões ao vivo por TV comunitária e recebe, na manhã do sábado, a visita solidária de um Ney Matogrosso que se move pela cidade à paisana, tão (declaradamente) preocupado com as identidades indígenas quanto (aparentemente) desapaixonado pelas digitais centro-ocidentais do Matogrosso, do Brasil e da América do Sul.

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Embora mais voltada à chamada MPB de extração (sul)mato-grossense, a curadoria opta por não discriminar o sertanejo universitário. Formada por irmãos nascidos paranaenses em Catanduva e criados sul-mato-grossenses fronteiriços com o Paraguay em Ponta Porã, a dupla Jads & Jadson fecha triunfalmente a primeira noite, misturando sertanejo urbano, caipirice pantaneira e rock’n’roll paulista e brasiliense, sob cachê de R$ 170 mil.

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(Sim, a cultura sul-mato-grossense existe e viceja para além dos modismos de massa, mesmo sob brutal ignorância dos Estados Unidos do Brazil Litorâneo. Além de músico e produtor, Rodrigo Teixeira é jornalista e autor dos belos livros históricos Os Pioneiros – A Origem da Música Sertaneja de Mato Grosso do Sul, de 2010, e Prata da Casa – Um Marco da Música Sul-Mato-Grossense, de 2016. Em barraca montada ao lado de um dos palcos na praça da Liberdade, o pesquisador Carlos Luz exibe com orgulho uma formidável coleção de discos sul-mato-grossenses em vinil.)

A memória transborda em Bonito, e rapidamente se percebe que os pós-sertanejos pop-roqueiros Jads & Jadson configuram menos regra que exceção. O orgulho sul-mato-grossense aflora em apresentações delicadas, de inspiração tradicional-emepebista, como a do cantor e compositor (e ator global) Gabriel Sater (cachê de R$ 20 mil). Filho de Almir, ele nasceu paulistano, mas foi criado sul-mato-grossense e ostenta identidade musical fortemente pantaneira.

Numa espécie de duelo entre irmãos-em-música, o multiinstrumentista Marcelo Loureiro (R$ 20 mil) sucede Gabriel e fecha a programação da edição 2017 com uma apresentação de final de domingo esvaziada, mas espetacular, fundada nos saberes modernizados da viola caipira e da harpa paraguaia. Nascido carioca, mas filho de sul-mato-grossenses de Guia Lopes da Laguna e de Caracol e neto de paraguayos e argentinos, Marcelo cresceu no interior do MS e aqui recolheu o amor devotado por viola, violão e harpa.

Tal qual fariam um Luiz Gonzaga e um Renato Borghetti na sanfona, ou um Raphael Rabello e um Yamandú Costa ao violão, Marcelo povoa de virtuosismo e nobreza seus já nobres instrumentos e musicalidades de eleição. A influência indígena na harpa europeia é o grande mistério, ele afirma: “Quando chega na América do Sul, com a influência indígena, aquela coisa do povo, a coisa começa a mudar. Aí tem algo diferente”.

Na fila do gargarejo, este observador desinformado e emburrecido pelos preconceitos da vida lembra-se de quando, criança, no colo dos pais, reclamava de desgosto pela “música portuguesa” (querendo me referir aos sons àquela altura desagradáveis a meus ouvidos, das harpas paraguaias paranaenses de Chitãozinho & outros Xororós). Marcelo confirma a impressão ao mencionar a influência do paraguayo Luis Bordón, intérprete de temas natalinos instrumentais cerzidos à base de harpa, mais onipresentes que a baiana Simone nos finais de ano das décadas de 1970 e 1980. Ao mesmo tempo, o artista contrapõe a lembrança da presença da harpa paraguaia na gravação de Almir Sater  do “Trem do Pantanal” (1982), dos cariocas tornados sul-mato-grossenses Paulo Simões Geraldo Roca.

“Este é o melhor caminho/ pra quem é, como eu,/ mais um fugitivo da guerra”, canta o mitológico “Trem do Pantanal”. Caipira ou universal? Erudito ou brega? Europeu ou americano? Uma conversa com Loureiro deslinda um assombroso universo subterrâneo (qual o Aquífero Guarany), profundo, fronteiriço, paraguaybrasileiramente pan-americano.

Os filhotes Gabriel e Marcelo haviam sido representados antes pelo suprassumo de identidade histórica chamado Dino Rocha, veterano sanfoneiro interiorano de Juti, rei do chamamé, que na abertura do festival explicou, traduziu e decifrou toda e qualquer divisão, toda e qualquer guerra de fronteira: à sua esquerda, na banda, todos são paraguayos (harpista incluído); à sua direita, todos são brasileiros. Do lado de cá do muro que separou o Brasil da América, não somos todos nós que assimilamos tal musicalidade – alguns de nós só a assimilam quando traduzida ao idioma e à ideologia sertanejo-universitária, alguns menos ainda nesse caso.

Em Bonito, essa natureza de embate vem à flor da pele no show conjunto das irmãs Tetê Espíndola e Alzira E (cachê de R$ 30 mil), campo-grandenses nascidas respectivamente em 1954 e 1957 que, migrantes, vieram a São Paulo constituir, com o paranaense de Londrina Arrigo Barnabé e o paulista de Tietê (com raízes paranaenses em Arapongas) Itamar Assumpção, o movimento cosmopolita, ~maldito~, excêntrico, urbaníssimo que veio a se denominar vanguarda paulista (ou paulistana). É desconcertante o túnel sub-aquífero que liga pântanos, matos grossos e vilas velhas à província travestida de megalópole SP.

Alzira e Tetê têm trabalhado sempre na interface entre a vanguarda e a origem. Alzira, apesar de iniciada na carreira discográfica em 1983 com títulos caboclos como “Terra Boa” (de Almir Sater e Paulo Simões) e “Nossa Senhora do Pantanal”, aproximou-se progressivamente do experimentalismo urbano, em parcerias com Itamar, a paranaense Alice Ruiz, a mato-grossense Lucina, o paulistano arrudA, a banda pós-afrobeat paulistana Bixiga 70 (no álbum recém-lançado Corte).

Tetê também oscilou dialeticamente entre os dois extremos do pêndulo, entre temas rurais-aquáticos-errantes do irmão Geraldo Espíndola (saiba mais sobre o autor das obras-primas “Cunhataiporã”, “Vida Cigana”, 1980, e “Deixei Meu Matão”, 1986, na entrevista abaixo), sonoridades desafiadoras de vanguarda paulista (“Londrina”, 1981, de Arrigo), experimentalismo passarinheiro (os álbuns Pássaros na Garganta, de 1982, Gaiola, 1986 e Birds, de 1991), vitória pop passageira em festival da Globo (“Escrito nas Estrelas”, 1985, de Carlos Rennó Arnaldo Black), até o encontro musical com o alagoano Hermeto Pascoal em Asas do Etéreo (2014).

Sem jamais abdicar da identidade pantaneira, ambas se uniram em 1998 para o projeto Anahí, um disco pós-caipira, pós-sertanejo, pós-universitário (mas pré-sertanejo universitário) de modernização respeitosa do cancioneiro de matas, águas, cerrados e sertões, entre clássicos antes celebrizados pela dupla paulista Cascatinha & Inhana (as brasiguayas “Índia”, “Meu Primeiro Amor – Lejania” e “Anahí – Leyenda de la Flor del Ceibo”), pela fluminense Angela Maria (“Garota Solitária”) & pelo gaúcho Nelson Gonçalves (“Mágoas de Caboclo”). A apresentação no Festival de Bonito se baseia nesse trabalho, com direito a aparições especiais do espetacular e quase anônimo álbum Água dos Matos (2015, dividido por ambas com Lucina e Jerry Espíndola e resultante de uma expedição pantaneira pelo leito do rio Paraguai).

Pela própria natureza, está tudo armado para o grande encontro das irmãs Alzira & Tetê com as irmãs decanas Beth & Betinha, filhas de uruguaio criadas em Ponta Porã, rainhas pré-sertanejas do chamamé que ficaram alcunhadas “princesinhas da fronteira”. Hoje octogenárias, Beth e Betinha são as homenageadas da edição sul-mato-grossense do festival sul-mato-grossense, e surgem esfuziantes de alegria no palco de Tetê e Alzira para cantar “Boneca Cobiçada” (sucesso de 1956 na voz da dupla paulisto-mineira Palmeira & Biá) e mais um punhado de joias fronteiriças.

Das coxias, a apresentadora (e cantora e compositora paulistana e filha de Itamar) Anelis Assumpção assiste às lágrimas à pororoca musical que desagua sobre nós. O encontro quádruplo é de fato emocionante, mas oscila entre a harmonia e o choque cultural, como se o vanguardismo das Espíndola se assustasse diante do espelho do tradicionalismo das Beths: pura antropofagia hispano-indígena-portuguesa. Os estados d’alma se reconfirmam desunidos como dois estados que um dia foram um só, como dois países que em tempos imemoriais foram um continente. Tradição ou vanguarda? Urbanas ou florestais? Concreto armado ou natureza em flor? Itamar ou Inhana? Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul? Mato Grosso ou Paraguay? Brasil ou América Hispânica? Estados Unidos do Brazil ou Brasil sob golpe de Estado?

A sensação de desarmonia harmônica deste forasteiro se consolida quando Jerry, o Espíndola caçula, brincalhão, puxa um senhor que passa pelo calçadão para apresentá-lo ao repórter desavisado. Trata-se de David Cardoso, mito da pornochanchada nacional, símbolo sexual da minha adolescência paranaense, pária do cinema brasileiro, filhote artístico antiglauberiano do paulistano acaipirado Mazzaropi, brasiguayo ruralista e ecologista, ícone da Boca do Lixo paulistana que nasceu no (e retornou ao) interior sul-mato-grossense, em Maracaju.

Conversando caoticamente com David, concluo além de tudo que o Aquífero Guarany legou ao Brasil dois de seus maiores símbolos sexuais masculinos, um mais dedicado à heterossexualidade (ele, David), outro, à antinormatividade (Ney Matogrosso). Os mistérios, que queriam se dissolver, se retransformam e se consolidam nos mais puros… mistérios. Hétero ou gay? Homem ou mulher? Índia ou branco? Africana ou europeu? Cidade ou mato grosso? Ruralismo ou ecologia? Eucalipto ou alface? Ditadura ou democracia? Casca ou seiva? Identidade ou auto-esquecimento?

Somos todos um só organismo? Ou seremos para sempre um exército de incompatibilidades mutuamente autodestrutivas?

(O jornalista viajou a convite da organização do 18º Festival de Inverno de Bonito, que cobriu despesas de transporte, hospedagem e alimentação.)

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2 COMENTÁRIOS

  1. Paulo, teu artigo me tocou muito. Matogrossense que sou, apaixonado pela cultura fronteiriça, te digo que nunca li artigo que sintetize tão bem esta mistura cultural mais hispânica que brasileira… somos uma alma platina e como diz a bela música supra-citada, “na fronteira onde o Brasil foi Paraguay”.

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