A partir dos anos 1950, no Norte do Paraná, o imigrante japonês Nenpuku Sato ensinou as técnicas do haicai a seus conterrâneos, japoneses rudes que só tinham a lavoura como modo de vida e vislumbre ético. Dizem que ensinava apesar da resistência dos alunos. Houve um momento em que ele ajudou a impulsionar aqui a maior produção de haicais fora do Japão. Amaciando a dureza dos cafezais com poemas. Em meio à crueza do ouro verde, artesanato.
Conheci no início dos anos 1990 o fotógrafo Haruo Ohara, que entrevistei uma vez para o jornal em que trabalhava (graças ao visionarismo do editor, Evaldo Mocarzel) e cuja excelência foi descoberta décadas depois na gringolândia, pelo NYT. Aquela foi a primeira reportagem na grande imprensa sobre o gênio de Ohara, modéstia às favas. Hoje, Ohara tem acervo no Instituto Moreira Salles e teve sala especial no Masp, na Coleção Pirelli. É um mestre universal.
Também escrevi sobre o poeta japonês que o Rodrigo Garcia Lopes inventou, o Satori Uso, que virou documentário premiado do Rodrigo Grota. Tem tudo a ver com o Nenpuku
Ontem, atrás de ti, por essas ruas, toda
Furiosa, caminhei, nesta Jerusalém;
Mas supondo que eu estivesse douda,
A guarda me espancou e me feriu, meu bem
(Versículos de Sulamita, Emiliano Perneta)
Achei de bom alvitre (rs) mostrar aos amigos uns haicais do Nenpuku:
sementes de algodão
agora são de vento
as minhas mãos
lavrando a terra
plante também
um país de haicai