retomando a discussão aberta pelo leo nas nossas caixas de diálogo, hoje gostei da justificativa prestada pelo ministro celso amorim (cê já parou para ouvir o celso?) sobre a gritaria em torno do modo como a palavra “democracia” foi (não)utilizada pela cúpula das arábias. olha o amorim aí, gente:
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“ficamos aqui falando de democracia como se, nos últimos 50 anos, tudo tivesse sido uma maravilha para os nossos países. nós tivemos problemas. aliás, continuamos tendo até hoje. o importante é que foi um encontro entre duas regiões em desenvolvimento, com países voltados para reformas, para o desenvolvimento e para a democracia. é um contato muito útil, até para mostrar que democracia não é um luxo apenas do norte. democracia é algo que existe também no sul.”
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não tem razão o ministro? vejo pefelistas (e outras pessoas bem mais “esclarecidas”) berrando contra a suposta mudez do brasil diante de atos antidemocráticos partidos de cuba, da venezuela, das arábias… mas, escuta aqui, não é o mesmo pessoal que emudeceu ou foi conivente, daqui de dentro mesmo, com a ditadura brasileira? tem espelho na sua casa? você combateu a ditadura militar brasileira que durou 20 anos, a partir de 1964, e terminou ontem mesmo? você luta pessoalmente pela manutenção da estabilidade institucional que começou com itamar franco, cresceu com fhc e se agiganta com o “ex-comedor de criancinha” lula? ou você acha que lula deve se engalfinhar feito galo de briga com fidel, com chávez, com o “presidente” do iraque?
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pois, olhe, eu acho que, numa rinha, sempre que dois galos do mesmo porte são instigados a se bicar de frente para ver quem vai furar primeiro o olho do outro, seria de bom tom erguermos aos céus nossos próprios olhares caolhos – lá em cima, no topo da arena, vai haver, sempre, um duda mendonça comandando com muito júbilo a algazarra dos galinhos de rinha.
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no período acima, se quiser, pode trocar “duda mendonça” por “antonio ermirio de moraes”, “george w. bush” etc. etc. etc.
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no período acima, se puder, troque “galos de briga” por “zé pequeno & mané galinha”, “brasil & venezuela”, “deize tigrona & tati quebra barraco”, “brasil & cuba”, “mano brown & mv bill”, “brasil & argentina”, “grafite & desábato” etc. etc. etc.
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um lugar onde, na semana passada, não houve propriamente uma rinha (embora persistisse, sim, o desconforto pela novidade da relação horizontal – e não vertical – entre os participantes) foi o excêntrico sesc ipiranga, durante a série “romântico ou cafona?”. houve nando reis cantando & compondo com wando, houve paulinho moska se integrando com peninha, houve wander wildner rock-rebolando com sidney magal. houve wanderléa deslocada, houve rosana revoltada (ah, as mulheres, esses nossos eternos bodes expiatórios), houve hyldon sem voz.
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atraída pela mistura, uma senhorinha que é fã incondicional (e intelectual) de chico buarque se desabou às várias programações da “romântico ou cafona?” (que tem curadoria do jornalista e escritor carlos calado). durante um debate dominical para discutir todo esse emaranhado, ela, que antes só aceitava e freqüentava o chico, demonstrou sua surpresa por ter adorado wando e magal, por ter se imiscuído naquela euforia, por ter se sentido pessoalmente seduzida por magal. e chegou, a própria senhorinha, a lindas conclusões. disse que vai continuar gostando do buarque de hollanda, mas que a partir dali passou a refletir sobre se os caras cujos shows ela sempre habita (ou seja, nossos eternos heróis mpb de classes abc) não têm lá um certo medo da platéia… viu wando e magal como artistas que não se sentem intimidados pelo público, que o encaram olhos nos olhos, que seduzem, que vão lá no fundo. a senhorinha horizontalizou, mirou wando e magal e conseguiu se ver naquele espelho tão, er, cafona.
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e depois querem me dizer que o brasil não vai pra frente…
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ah, e a peça “transex”, em cartaz no coração de são paulão, plena praça roosevelt, por obra & força da companhia dos satyros, também soa como um tratado sobre esses dilemas todos sobre que temos tanto falado. é uma história (real) sobre um travesti que se flagra apaixonado por um extraterrestre e passa a dedicar sua vida & seus sonhos a esse amor transtornado. empregando no elenco dois travestis que são excelentes atores (um deles, por sinal, é o tal que gamou no ser interplanetário), traz o dado incrível & novo em folha de refletir sobre a invisibilidade do travesti, que vai se espelhar na paixão por um et e, mais tarde, desembocar na paixão trágica e suicida por um revólver – lindo, lírico, triste, chocante, real… (mas, hey, ivam cabral & bravos satyros, continuem olhando bem que o brasil está mudando, com o auxílio luxuoso de vocês! nóis tá menos invisíver a cada dia, podiscrê, amizades!)
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onde escrevi “travesti apaixonado por um et”, tente ler “brasileiro que quer a deposição do chávez”, “analista que acredita no fracasso da cúpula das arábias”, “pensador esquerdista que se sente traído pelo pt”, “brasileiro apaixonado pelos white stripes”, “intelectual que odeia roberto carlos” etc. etc. etc.
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eu ia terminar com uma citação a helio santos, de seu livro “em busca de um caminho para o brasil – a trilha do círculo vicioso”, quando fala do brasil como um país que tem dificuldades para se assumir por inteiro. mas é que o livro ficou lá em casa, e eu estou aqui no trabalho. então tá combinado: volta amanhã a este mesmo tópico, que o final de “não o rubrancor da vergonha” estará transformado e helio santos, pluft!, estará visível neste mesmo batlocal. o bom da internet é que ela se move.
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p.s.: eis, eis o que diz o helio santos. “se estivéssemos falando de uma pessoa e não de um país, como fazemos aqui, isso equivaleria a dizer o seguinte: um indivíduo, para funcionar bem, ser feliz e útil, deve assumir a sua missão no mundo. para isso, a pessoa tem que ser aquilo que ela efetivamente é (a psicologia ensina que isso é fundamental na vida de uma pessoa). por que deveria ser diferente para um país, já que este tem em seu cerne a missão de impulsionar seus cidadãos? será visto também que o brasil é um país que não se assume por inteiro. as conseqüências dessa atitude impedem o surgimento de uma identidade nacional autóctone – plenamente vinculada às nossas verdadeiras raízes. sem isso uma nação não é plenamente viável.” pronto, tudo se transformou (como cantaria paulinho da viola).
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[* um pirulito para quem lembrar de onde sampleei o título desse tópico… (ei, péra, pára, eu disse “lembrar”, e não “dar um google”!)]

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