ai, dá licença de implicar?

obrigado.

então. dos modismos todos que sempre costumam nos invadir, o da hora se chama “tsunami”. veio lá na ásia um treco que a gente não sabia que existia (feito assim a freira dorothy, para quem não é ambientalista, sem-terra, grileiro ou posseiro), arrasou tudo (a gente gosta quando arrasa?) e aí a coisa ganhou existência, não só porque aconteceu, assustou e arrasou, mas também porque foi batizada, porque a água benta maldita aspergiu: tsunami.

aí chegamos nós, os jornalistas, de rádio, vídeo e papel, de terra, mar e ar.

não mais que de repente, tudo nos vira, num espirro, tsunami. se a câmara federal é invadida por uma “onda” (ó, marola mansa da maré) de votos imprevistos: é um tsunami de severinos (oxe, santo preconceito irredutível contra severinos, raimundos e sebastiões). se a tv filma a pororoca: é um tsunami de águas selvagens. se saem dois livros sobre um mesmo assunto: deu-se um tsunami editorial. se ronaldo se casa: ronaldinho, o felômeno, se converteu num tsunami. se, se, se…

pois isso me irrita de um tanto, te contei, não? quantos tsunamis de araque ainda teremos que suportar, ó, eternas ondas? é muita retórica robótica, recurso fácil, preguiça rotorizada. não é índice de falta de criatividade, é índice de inércia, mesmo. para que gastar outras imagens menos mastigadas, se tsunami todo mundo tá entendendo?

impliquei: em sua vigorosa mediocridade, a banalização do “tsunamismo” é, por estes 15 minutos de voga, igualzinha ao amor que o rei andava sentindo por sua esposa morta: sem limites. e tão mórbida quanto.

abaixo a vitrola furada. chega de (m)água. abaixo a morbidez.

p.s.: sou jornalista, e neste texto a palavra “tsunami” fora flexionada dez (d-e-z) vezes. agora já são onze (o-n-z-e)! cáspita (alô, mariana)!

pronto, desimpliquei.

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