Lanny Gordin
O documentário Inaudito se esforça por penetrar na mente turbulenta do guitarrista tropicalista Lanny Gordin, um dos loucos notórios da Tropicália de 1968

Um documentário se esforça por penetrar na mente turbulenta do guitarrista tropicalista Lanny Gordin

Um dos mistérios centrais da tropicália era a loucura, e um dos loucos notórios do movimento de 1968 chama-se Lanny Gordin, celebrado cinco décadas mais tarde no filme documental Inaudito, dirigido por Gregorio Gananian. Guitarrista turbulento de trabalhos experimentais históricos de Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé, Rita Lee, Tim Maia, Erasmo Carlos e outros, Lanny ressurge aos 68 anos, ainda amalgamado com a guitarra, como protagonista absoluto de um filme incômodo e inquietante. 

Nascido na China, filho de pai russo e mãe polonesa, o artista virou brasileiro aos 6 anos, quando o pai se radicou no País e, mais adiante, tornou-se proprietário da casa noturna Stardust, em São Paulo. Em Inaudito, Lanny aparece, no Brasil e na China, tocando sua guitarra dissonante e filosofando sobre a vida e a música. “As notas que estão sendo tocadas vão pro universo e pro divino e pro além da existência e da não existência e além da eternidade e além do infinito e além do além”, exclama, como quem vive numa frequência distinta da dos meros mortais. “O universo é que nem uma plantinha que vai crescendo, vai crescendo, até chegar ao léu.”

A narrativa de Lanny é fragmentária, mas aos poucos ela vai tomando forma. “Eu ouço as vozes, mas eu não sei de onde elas vêm nem pra onde elas vão. Essas vozes somem, quando eu toco elas somem.” Suavemente, ele descreve internações, remédios, injeções, choques elétricos: “Eu achei tudo um barato”. Nesse espírito, o guitarrista primordial define a tropicália: um elefante que voa ao vento e acorda num zoológico. Homem-antídoto ao racionalismo extremo de Caetano e Gil, Lanny Gordin revela-se, ainda hoje, o lado escuro do sol tropicalista.

Inaudito. De Gregorio Gananian. Brasil, 2017, 87 min.
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