Dizer que é preciso investigar é obviedade. Parafraseando Dylan, ninguém precisa de um jornalista para lhe dizer de que lado sopra o vento.

Mas dizer que não é necessário investigar era novidade, ao menos para mim. Ridicularizar a única hipótese diferente de acidente equivale, na minha lógica, a dizer que é desperdício de tempo investigar. Mas notei que esse foi o comportamento preponderante na imprensa nesse caso da queda do avião que matou o ministro do STF, Teori Zavascki.

Tudo bem. Acredito que a imprensa tem autogestão suficiente para decidir como se posicionar coletivamente num acontecimento dessa dimensão. Mas, conversando com meu filho, ele me chamou a atenção para um outro evento que aconteceu em janeiro de 2015 na Argentina: a morte do promotor Alberto Nisman, encontrado em seu apartamento em Buenos Aires com um tiro na cabeça.

Naquele caso, talvez por se tratar de um governo pouco estimado pela imprensa brasileira, não houve o menor cuidado em se manter a precaução quanto ao conspiracionismo. Ou em estabelecer relação entre efeito e causa.  Durante um ano, li manchetes como as seguintes:

O Globo: “Governo Kirchner está por trás da morte do promotor Nisman, diz ex-espião”

IG: “Promotor argentino que denunciou Cristina Kirchner é encontrado morto”

O Jornal Nacional, que fez uma arte sobre os exageros  na tese do assassinato de Teori, nunca teve dúvidas em usar imagens de arquivo da ex-presidente Cristina Kirchner para ilustrar a relação entre o assassinato de Nisman e sua investigação:

A imprensa argentina teve menos dúvida ainda. Tanto que analistas políticos concluíram que a morte de Nisman teve peso fundamental na derrota eleitoral de Cristina, levando Mauricio Macri ao poder. Até hoje, a imprensa local não se conforma com a decisão da junta médica que analisava o crime:
É compreensível a resistência a um laudo oficial? Claro. Desconfiar sempre. Mas, ao contrário do papel de Zavascki nas investigações em curso no Brasil, o próprio Alberto Nisman tinha declarado que não dispunha de “pruebas” contra o governo argentino. Aqui, provas abundam. Temos dezenas de manchetes com o seguinte teor (sem falar nos personagens periféricos da trama):

É possível então diferenciar Teorias de Conspiração de direita ou de esquerda (admitindo-se, é claro, que a imprensa brasileira seja de direita e afeita a um golpe de Estado, classificação que a imprensa brasileira considera como parte de uma grande Teoria da Conspiração)? Haveria crimes e criminosos diferenciados e hierarquias de participação criminosa nessa estratificação política? Deveríamos investigar isso também?


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