FAROFAFÁ viu o novo Star Wars e conta tudo a respeito – mas sem deslealdade com o espectador

Há algo de muito trágico e romântico nas estrelas. Mas não é apenas isso: o novo filme da franquia Star Wars, Rogue One, é talvez o mais político entre os esforços da LucasFilm até hoje filmados.

O enredo é simples, como no faroeste clássico: numa fazenda erma, um filho é apartado de seus pais por um opressor. O pai está ali se escondendo de sua história pregressa. O filho está predestinado a crescer e retornar para se vingar.

Mas aí está a diferença: primeiro, não é um filho, mas uma filha, Jyn Erso (Felicity Jones). E ela não quer vingança, quer apenas se manter longe do engajamento binário cego que, acredita, tirou a vida de sua mãe e fez de seu pai, Galen Erso (Mads Mikkelsen) um colaboracionista do tirano (O Império).

rogue

Sem teto da galáxia, Jyn Erso é levada de volta ao seu destino e vira líder de uma incursão à nova arma devastadora do Império, a Estrela da Morte. De seu sucesso dependerá o futuro da Galáxia.

Os cenários evocam lutas contemporâneas. A cidade habitada por rebeldes, Jeddah, é uma Meca dos jedi, uma cópia dessas cidades orientais sitiadas pelos talibãs e pelos “xerifes” da galáxia (os americanos?). Parece o Afeganistão ou uma periferia de Bagdá. O piloto desertor do Império, Bodhi Rook (Riz Ahmed), tem deliberadamente sotaque árabe carregado, e resiste não só à doutrinação como também a uma lavagem cerebral.

Tem sempre um robô protagonista. Dessa vez, é o K-2, um robô de guerra do Império reprogramado. A reprogramação o tornou uma espécie de Raymond (Dustin Hoffman) em Rain Man: fica destilando estatísticas das chances dos colegas, o que irrita o Capitão Cassian (Diego Luna). É nobre, heroico, improvisador e também está disposto ao sacrifício.

Porque é disso que se trata: é um filme sobre sacrifícios, sobre o significado de lutar por algo maior, imolando algo muito caro para gente (às vezes, a vida é a menor das renúncias). Reservaram menos espaço para o humor, mas quando ele surge não é enxertado, estranho. Surge com naturalidade. Há um rebelde cego, Chirrutt Imwe (Donnie Yen), que acredita ser um Jedi, mas não é. Tem mais pinta de monge do seriado Kung Fu. Não há forças espetaculares em ação, apenas gente comum buscando acertar. Chirrutt, não se pode esquecer, protagoniza uma das cenas gays mais pungentes do cinema de ação.

Há uma questão central sobre política no filme: a ação da extrema esquerda ajuda ou atrapalha o pragmatismo da esquerda? O legalismo dos conselhos e dos congressos ajuda ou atrapalha na luta contra as ditaduras emergentes? A resposta, segundo o filme, é que talvez somente a ingenuidade e as motivações mais básicas dos jovens sejam capazes de mudar o cenário da política tradicional – alguma coisa a ver com as ações dos secundaristas?

Podia ter começado aqui revelando o seguinte: Darth Vader faz aparição triunfal na bagaça. Os robôs R2D2 e C3PO também fazem uma ponta. A Princesa Leia (Carrie Fischer) surge no final como se tivesse 20 e poucos anos, em estupenda forma – muito diferente de Luke Skywalker (Mark Hammil) no final de O Despertar da Força. Foi montagem ou tecnologia? You tell me. Mas o fato é que a arquitetura do filme é maior do que essas citações. Foi tão bem amarrada que dispensa continuação, e o leitor logo entenderá porque…

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