Zema Ribeiro, garimpeiro das novidades musicais, revela mais que uma surpresa na cena brasileira. As Bahia e a Cozinha Mineira é transrevolucionário

O grupo As Bahias e a Cozinha Mineira fez um dos mais surpreendentes discos da música brasileira em 2015. O álbum intitula-se simplesmente “Mulher”, o que por si só pode parecer provocação: as duas vocalistas são transexuais.

Assucena Assucena é baiana de Vitória da Conquista; Raquel Virgínia é paulistana, mas morou em Salvador, onde chegou a cantar em trios elétricos em carnavais. Ambas têm 27 anos, cursam história na USP e o mesmo apelido: Bahia – são as cantoras as Bahias do nome do grupo.

As Bahias Raquel Virgínia (de vermelho) e Assucena Assucena (de azul) e a Cozinha Mineira. Foto: Julieta Benoit
As Bahias Raquel Virgínia (de vermelho) e Assucena Assucena (de azul) e a Cozinha Mineira. Foto: Julieta Benoit

Entre suas principais referências musicais estão a Gal Costa tropicalista e o Clube da Esquina mineiro – hoje, apenas um músico da formação é da terra de Beto Guedes; antes, eram todos, daí vem a segunda parte do nome do grupo.

Capa de As Bahias e a Cozinha MineiraA capa do disco, do artista plástico Will Cega, outra provocação, traz uma textura rubro-negra, que evoca símbolos femininos: um púbis que parece contrariar a ditadura da depilação total, arrodeado pela menstruação nossa de cada mês.

As letras, outra provocação, tapas na cara de uma sociedade que ousa abordar senhores compositores – literalmente – apenas por conta de suas (coerentes) convicções políticas. Sua música transita entre o carnaval e o protesto. Mulher está plenamente sintonizado com as discussões feministas que ocuparam sobretudo as redes sociais nos últimos meses.

Apologia às virgens mães, “Josefa Maria”, “Lavadeira água” e “Uma canção pra você (Jaqueta amarela) “contam as histórias de mulheres simples, com rara beleza e força poética. “Quantos tempos teceram teus vestidos de lã?/ Quantas tranças os tempos fizeram traçar teus cabelos?/ Quantos beiços beberam do teu peito o afã?/ e dos seios sugaram o suco sem dor, dos teus zelos/ Senhora de saia, de ventre pré-destino/ quantos tempos cruzaram num ponto de cruz teu destino?”, perguntam-se na primeira.

Além de Assucena e Raquel, As Bahias e a Cozinha Mineira é formado pelos músicos Carlos Eduardo Samuel (eletroacústica), Danilo Moura (percussão), Rafael Acerbi (guitarra e violão), único mineiro da formação, Rob Ashttofen (contrabaixo elétrico e fretless) e Vitor Coimbra (bateria). Produtor musical da banda, Deivid Santos gravou piano e teclado no disco.

Mulher é recheado de participações especiais: André Andrade (beat e programações), Chico Ceará (acordeom), Joabe Reis (trombone), João Paulo Ramos Barbosa (saxofone tenor), Marcel Martins (cavaquinho), Mestre Dinho Nascimento (berimbau), Sarah Alencar (flauta e vocais), Sérgio Barba (cuíca), Sidmar Vieira Souza (trompete) e Vinicius Chagas (saxofone tenor).

Uma primeira tiragem promocional do disco está esgotada. Mulher pode ser ouvido na íntegra no Youtube.

* Publicado originalmente no blog Homem de Vícios Antigos, de Zema Ribeiro

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6 COMENTÁRIOS

  1. Mais um vez, peço ,por gentileza, que NÃO enviem mais Materias para mim.
    O ” professor e mestre” , que comprou um Diploma na USP, o agressivo , o mal educado , o idiota , EDUARDO NUNOMURA, e um excremento do jornalismo, um LIXO , um nojo.
    Espero que desta vez, me respeitem e NÃO enviem mais nenhuma Materia.
    RESPEITO E BOM E EU EXIJO.
    EU não respeito pessoas canalhas e mal educadas , e e o que mais existe no FAROFAFA.
    São brasileiros, esta justificado.
    Grato.

    ITO CAVALCANTI
    CALIFORNIA , U.S.A.

    • Sr. Cavalcanti, as suas ofensas, acusações e injúrias estão sendo registradas, apenas para seu registro. Não estamos enviando matérias para o senhor, nem para ninguém. O que deve ter feito é inscrever o nosso RSS em algum agregador de notícias. O problema é do senhor, não nosso. Sugiro que resolva os seus problemas por conta própria.

  2. Esse é o problema: “Mulher está plenamente sintonizado com as discussões feministas que ocuparam sobretudo as redes sociais nos últimos meses.”
    Não sabia não escutei não conheço, Mas já não gostei.
    Sem machismo, sem !feminismo!…a música se faz como ela bate no coração
    ou no ouvido do ouvinte. Independe das “redes sociais” independe dos críticos
    criticadores ou dos críticos apologistas. O feminismo de hoje é a contracultura
    que nem sabia por que existia. Ou porquê existe.

    No meu ouvido não soou essa música. E nem vai soar. Desculpe mas a culpa
    não é só minha, os críticos aqui…me fizeram ir por esse lado…

    Att.
    Edirani Airton

    • Se uma critica te faz deixar de ouvir algo, não és um grande apreciador musical, portanto seu comentario é nada já que nem conhece a obra. Ja criticou um quadro sem vê-lo? E quem é voce para dizer como a música deve ser feita?

      O feminismo é uma luta por igualdade e é o que bate no coração delas, querida. O feminismo de hoje é o feminismo de sempre, com mais vozes e melhor: com as redes sociais. E nao só Mulher, mas todos nós estamos sintonizados com isso não só nos últimos meses, mas pelo tempo que for necessário e não vai ser pouco.

      Crítica mal construída. Rótulo desnecessário.
      Lindo álbum. Linda banda. Lindas vozes. Lindas mulheres.

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