Um espetáculo com personagens que mais parecem saídos de um filme de terror do que de uma facção criminosa deu origem ao neoproibidão. MCs de funk vêm buscando inspiração em jogos de videogame, vilões de histórias em quadrinhos e filmes de horror para escreverem a mais nova página do gênero musical.

MC Bin Laden - Foto: Renato Barreiros
MC Bin Laden – Foto: Renato Barreiros

O maior expoente do estilo é MC Bin Laden, que vem fazendo com que o neoproibidão ganhe destaque e adeptos. Suas músicas principais do estilo são “Iraquiana” e o clipe curta metragem “Bin Laden não morreu”. Nos shows, MC Bin Laden se apresenta com atores fantasiados, vestindo roupas que têm como referência membros da Al Qaeda ou do Estado Islâmico.

Os figurino e estilo próprios de Bin Laden já são copiados por fãs, como o cabelo metade amarelo e metade preto (lado bem e lado mal), a sobrancelha chaviada (com falhas feitas por uma gilete), além de usar uma meia de cada cor (em um pé usa branca e no outro preta).

Jefferson Cristian, o verdadeiro nome de MC Bin Laden, sintetiza bem boa parte da juventude que frequenta os fluxos de hoje. Fã de videogame, anda sempre rodeado de amigos, usa boné e jaqueta de um time europeu de futebol e sabe de cor os passinhos da moda e as músicas que os carros passam tocando nos fluxos de rua. Não fosse sua fama como MC poderia ser confundido com qualquer um dos garotos que estavam no fluxo de Heliópolis, onde o encontrei.

Em sua casa, em um conjunto popular Cingapura na zona sul de São Paulo, que ele comprou com o dinheiro do funk, recebe o tratamento carinhoso dos moradores. Crianças pedem para tirar fotos e senhoras levam tortas e outras comidas ao seu apartamento e são recebidas com abraços e mil beijos de gratidão. A rotina de Jefferson nada tem haver com o crime e sim com esse mundo fantasioso de vilões e heróis dos jogos de videogame e dos filmes que assiste. Esta é a origem de MC Bin Laden e o neoproibidão.

Mas ele não é único. O neoproibidão já conta com, pelo menos, duas representantes femininas, a MC Veroki com as músicas “Fuga tipo GTA” e “Filha do Coringa” e a MC Mina, com “Bonde das Arlequinas”.

Os shows do neoproibidão para parecem encenações teatrais. Os artistas sobem ao palco com máscaras assustadoras e cabelos pintados. As letras invocam vilões – e não os heróis. Nada novo para a música mundial. Vale lembrar as performances da banda de rock Kiss ou de Ozzy Osbourne, que no início de carreira projetava uma imagem maligna mordendo morcegos e degolando pombas.

Na esteira do declínio do funk ostentação, o neoproibidão surge como uma das fortes tendências do funk atual. Mas não é uma mera reedição do proibidão original, conhecido por suas letras que relatam o consumo de drogas, o mundo do crime e das facções criminosas. Segundo o antropólogo Hermano Vianna, o funk proibidão havia sido criado quando o poder público no Rio fechou os bailes de clubes, expulsando assim as festas para dentro das favelas.

“O poder público entregou o novo ouro cultural (a nova música que iria encantar cada vez mais a cidade) para o novo bandido (que naquele tempo estava tomando o controle, com armamento pesado, de muitas favelas cariocas). O poder público, nesse sentido, pode ser acusado de coinventor do proibidão, algo que não existia nos bailes de clubes”, escreveu Vianna, em texto de 2009. Assim, as letras de diversos “hits” superpopulares, eram relatos de feitos das facções criminosas ou mesmo gritos de guerra das mesmas .

Alguns proibidões dos bailes funks cariocas são conhecidos até hoje e se tornaram parte do imaginário coletivo da população das comunidades cariocas como “Toque da Cadeia”, “Chatuba 157” e “Caminhão da Light”.

Em São Paulo, o proibidão fez sua estreia pela Baixada Santista. Divulgado apenas em CDs e rádios piratas, teve seus hits “157 Consciente”, “Se mexer com nois” e “Taliban”.

O proibidão subiu a serra do mar e chegou à capital paulista. Carregava uma herança majoritariamente da Baixada Santista e do Rio. Alguns nomes como o MC Zoio de Gato chegaram a fazer sucesso antes da onda do funk ostentação.

Vale dizer que o proibidão hoje existe no Brasil inteiro e já foi citado em casos polêmicos, como em Porto Alegre, onde o funk foi usado pela polícia para tentar provar que um grafite homenageava um suposto traficante, ou no Maranhão, onde músicos passaram a ser investigados por incitação ao crime, dentro da guerra entre as facções no Presídio de Pedrinhas.

Em São Paulo, com o surgimento do funk ostentação, o proibidão perdeu força e apenas MC Kauan continuou fazendo sucesso. Influenciado por toda uma geração da Baixada Santista, Kauan assumiu a identidade de Koringa (o inimigo do Batman) e introduziu em seus shows elementos teatrais, como atores com máscaras de palhaços macabros. Consolidou-se como um dos principais MCs de funk de São Paulo, justamente no momento em que a ostentação se tornava um fenômeno nacional e ocupava todos os espaços. Kauan, em janeiro do ano passado, foi preso por tráfico de drogas, já está solto e alegou ser usuário.

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34 COMENTÁRIOS

  1. Tu é um merda mesmo…

    O cabelo em duas cores, bem como toda e qualquer referência ao “bem e mal” é uma referência direta ao ying yang símbolo do PCC… isso que dá nego alienado querer endeusar coisa errrada da periferia…

    esses caras ‘do mal’ só fazem o mal nas periferias… pergunte aos moradores do Eliza Maria, por exemplo, quem está lá há 40 anos o que acha do fluxo…

    PS1: até onde sei o KISS degolar pombos ou matar pintinhos é fake (se informe melhor) e o Ozzy só mordeu o morcego por achar que era cenográfico…. periferia curte metal…

    PS2: se for pra refutar meu comentário refute-o inteiro e não apenas o “PS1” como deve ter passado pela sua cabecinha…

  2. Por que vocês que não gostam de funk entram na notícia e comentam reclamando? O funk é uma expressão cultural sim. Cultura não é a cultura que a elite produz, todo tipo de expressão artística é uma forma de cultura. O funk representa a cultura da periferia, independente da qualidade musical (leia-se qualidade técnica e não gosto pessoal) e das letras, é possível fazer uma leitura desse estilo musical a partir das influencias da cultura de massa e da indústria cultural sobre a periferia. As músicas são uma forma desses jovens se expressarem e mostrarem ao resto da população o que está na mente deles. Muita influência que eles têm é a elite que passa, pelos meios de comunicação em massa como canais de televisão. Os protestos e a apresentação da realidade mostrados por alguns funks são mais importantes do que qualquer notícia de jornal possa tentar retratar. Portanto, repito: TODA EXPRESSÃO ARTÍSTICA É CULTURA!

    • Sim, representa bem a cabeça dos filhos e netos daqueles que um dia dançaram ao som dos hits do Furacão 2000, do freestyle, do house, do disco…

      Esses de ontem não deixaram coisa boa pros seus descendentes… uma pena.

      Voltei à SP há 1 ano; fiquei 28 fora. Culturalmente, socialmente e urbanisticamente foi reduzida à lama no poço de possibilidades. Lamentável.

    • Apoiado, Miguel!!!!

      É bem difícil mesmo entender esses chatos de galocha que só ficam de butuca tentando censurar os temas de que não gostam. Não vão conseguir.

  3. Miguel, seu ato falho está evidente como não conhecedor da questão… ao comentar:

    “As músicas são uma forma desses jovens se expressarem e mostrarem ao resto da população o que está na mente deles”

    Você quer entender os jovens mas fica aparente seu distanciamento, sendo resto da população…

    Deixe eu lhe explicar uma coisa… moro na “periferia central” há 27 anos… ando por aqui e acolá… já morei na baixada do Glicério, Pari, Brás, Cambuci e tals… inclusive já andei muito (hoje estou distante) com um tal de Eduardo ex-Facção Central….

    Você como incentivador da cultura deve conhecer o Facção Central… deve saber também que onde o bixo pega Racionais MCs não são tão respeitados como as pessoas da ponte pra lá acham que são… o bang mesmo, é Facção Central, Dexter e etc… … …

    O fato é que vai olhar o que o Eduardo do Facção Central e Dexter tem a falar do Funk em geral…

    O Eduardo do Facção Central faz PALESTRAS na Fundação Casa informando o perigo desse estilo de vida, nas palavras dele mesmo: “antes dessa geração, vinha parar na febem muleque que roubava comida ou um ou outro bem para sustentar o vício… hoje em dia, a maioria da geração que tá aqui rouba carro, moto e roupa de luxo para ir pro baile… o funk tá matando os muleque da periferia e acabando com qualquer consciência que o rap construiu um dia…”

    Procure e verá as inúmeras críticas (deve ter até vídeo no youtube)…

    Já o Dexter fez uma música que mereceria atenção deste site inclusive… ex-presidiário o rapper critica e muito o funk e suas vertentes… escreveu até uma música para criticar a ostentação, chama-se “não vejo nada”…

    Por favor, segue um trecho:

    “…. Na verdade esse seu mundo é um conto de fada, você pinta um quadro onde eu não vejo nada. É muito glamour, muita ostentação, rua Carlos Abadias do Rap .. sei não. Talvez você seja um cara pra frente demais e eu apenas um zero à esquerda ineficaz que não faz nada mais do que se preocupar com o futuro, as pessoas um mundo melhor pra viver, criar os filhos, ser feliz, lutar pra conquistar, ser um bom aprendiz pois na vida todo dia se aprende mais um pouco, acomodado não sou simplesmente mais um louco.

    …ultimamente não to vendo motivos pra rir, porém eu vejo bem o que você não consegue ver, o veneno te matando e te fazendo ser um lesado nato que nada fortalece iludido com aquilo que o sistema oferece, parece qté que to vendo nero queimando roma, irmão essa geração ta entrando em coma….”

    Quem considera o funk cultura são apenas os funkeiros e setores da mídia que estão COMPLETAMENTE distantes da realidade…

    Pergunte a qualquer rapper das antigas e de verdade o que acha do funk…

    O funk matou o rap na periferia… uma periferia que se construia consciente, unida em torno do hip-hop foi desmoronada pelo funk…

    Tenho familiares no Eliza Maria / Brasilândia… o bairro nunca foi bom, confeço… mas depois dessa geração funkeira a segurança piorou e MUITO… inclusive dos próprios moradores que são roubados e até agredidos em dias de “FLUXO”

    Mesmo tendo andado e jogado muita bola com os caras do facção… sou head-banger (metaleiro)…

    Mas não odeio o funk por estilo musical que é… o rap eu mesmo não gosto, mas respeito… vejo que só trouxe benefício nos anos 90/2000… agora o funk ACABOU com tudo na periferia…

    De qualquer modo, reflita, pense e converse com “os tiozão da perifa” para você verificar…

    O que acontece nas cadeiras da USP não é o que acontece aqui… venha ver na pele, confesso que entenderá…

    • Cara esse seu comentário é exatamente 100% do que eu penso. Não tenho nada a acrescentar é isso aí mesmo. Sou fã de Façção Central, final dos anos 90 e início dos anos 2000, o rap dominava a periferia de SP, que saudades tenho dessa época!!

      Hj continuo convivendo na periferia, converso com a mulekada e vejo quanta imbecilidade em seus pensamentos. Essas letras de funk são vazias e infelizmente nos últimos anos dominou a mente dos jovens e estão os alienando ainda mais, acreditando que podem viver nesse mundo de ilusão. Como não tem um salário digno para consumir essas marcas citadas nas músicas, caem no mundo do crime para viver essa tal ostentação.
      Estou falando isso não na teoria, vivo na prática essa realidade, já fui em fluxos e os muleke chegam com motos, carros roubados somente para ostentar.
      Só quem vive na periferia sabe o quanto esse estilo musical está fazendo mau para os jovens.

      Lógico o crime não existe por causa do funk, longe disso, só quero dizer que essas músicas não agregam nada para o povo da ponte pra cá!

      Saudades do Rap nacional, ele ainda sobrevive RZO voltou fui no show deles, isso sim é música consciente, cantam a nossa realidade, pois de alienação já basta o sistema em si.

      O sistema faz o povo lutar contra o povo, mas na verdade o nosso inimigo é outro!!

    • Comentário que colocou a própria matéria no chinelo.
      Essa crítica da cultura de rabo entre as pernas quer fechar os olhos para a apropriação e prostituição da cultura da periferia inculcando consumismo e coquetismo como narrativa jovem.

      Aí ficam chamando de produção cultural essa imitação barata de rappers norteamericanos que negam o passado e a história.

  4. Redneck e RDO,

    reli meu comentário e li o de vocês e vejo que me expressei de forma muito ruim. Continuo afirmando que toda expressão artística é cultura, mas complementando, eu não quero afirmar se ela é boa e ruim. Pelos comentários de vocês vejo que o funk não foi bom para a periferia, algo que realmente não posso afirmar, pois como o Redneck acertou não vivo nela, mas também não sou da elite.

    Conheço facção central e Dexter, mas pouca coisa e concordo com eles que o funk não chega nem aos pés da crítica social que o RAP faz. Vou tentar explicar aquela minha frase. É uma forma de mostrar o que está na mente deles, mas isso não é necessariamente bom. Pelas letras das músicas dá pra perceber que o que está na cabeça dos funkeiros é um consumismo e um distanciamento dos problemas sociais. Mas nisso dá pra ver que a indústria cultural de massa (novelas, canais de televisão, revistas, e agora a internet) engoliu a música que era da periferia e transformou no funk que só prega um consumismo. Isso é algo que eu critico. Eles podiam usar a influência deles pra fazer letras como as do RAP de antigamente que falam de problemas reais e não ficam falando sobre como gastar dinheiro é bom. RAP de antigamente, pois diversos rappers atualmente que se dizem da periferia também só sabem cantar sobre ostentação, esqueceram as letras de protesto.

    O RDO acertou em cheio na questão, o sistema faz com que eles lutem entre si, e não contra o sistema que oprime. O problema do funk é o capitalismo, pq agora Globo coloca esses funks ostentação na TV e fala que isso é bom, e quando a Globo fala que algo é bom, é pra desconfiar. O capitalismo é o problema quando pega algo e começa a vender pra todo mundo. O funk virou um produto pra se ganhar dinheiro em cima, diferente dos RAPs antigos.

    Não sei se consegui me explicar muito bem, mas obrigado pelas observações, vou procurar mais sobre Dexter e Facção Central. E por favor, se não concordarem com algo no meu comentário sintam-se a vontade para criticar.

    • Miguel,
      Entendi seu ponto de vista, cultura não é só algo bom e sim uma maneira de se expressar, a cultura pode ser boa ou ruim, nesse aspecto eu concordo!!

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