A noite caía em São Bernardo quando Lucas Felix e Caio LRO subiram no palco do Duet’s Bar, no centro da cidade. No domingo 26 de janeiro, o calor era intenso. Os quatro ventiladores espalhados pela casa de nada adiantavam. Mas, mesmo assim, cerca de 150 pessoas aguardavam ansiosas: em alguns instantes, teria início a decisão da etapa de estreia do 1º Circuito ABC de MCs. O campeão levaria seis camisetas e uma gravação no estúdio de LRO. Por isso, antes da final, LRO concedeu a gravação a Felix, e eles resolveram dividir o restante da premiação.

O circuito foi idealizado e realizado pelo Itinerário RAP – coletivo de MCs organizado por Felipe Correa, Guilherme Genereze, Hugo Jacob e Danilo Corradi –, com apoio das organizações das batalhas da Matrix (São Bernardo), da Viela (Santo André), das Pistas (Mauá) e da Central (Diadema). As cidades compõem o ABC paulista, berço do sindicalismo brasileiro. Os 16 MCs que mais vencessem as batalhas garantirão vaga para o circuito. Serão 12 etapas ao longo do ano – uma por mês. Santo André será sede da segunda, seguida por Mauá e Diadema. Esta sequência se repetirá por mais duas vezes.

Quando o MC ganha uma batalha classificatória, garante a vaga no circuito e um ponto no ranking. Se vencer outra batalha, o vice-campeão se classifica para o circuito, sem pontuar. Já nas etapas do circuito, o campeão acumula cinco pontos e o vice, três. Quem tiver mais pontos até a última etapa do circuito, em dezembro, será considerado o melhor MC do ABC.


Já passava das 9 horas da noite. Os dois rappers que improvisaram as melhores rimas do dia aguardavam ao início da final. À direita, LRO, MC de Mauá que há pouco cantara em show de lançamento de seu EP “Prefácio” – o primeiro álbum do Nadidoiz, composto também pelos rappers Skiter e Piolho. À esquerda estava Felix, integrante do coletivo Alma (Alma Lírica Musical da Alma) e o único paulistano no circuito. O rapper de Ipiranga foi o último a se classificar, ao vencer naquela semana a Batalha das Pistas – que tem LRO como um dos organizadores.

O primeiro round começa. Em 30 segundos, Felix ataca com um vocabulário amplo, pouca repetição de palavras, mostrando que, como se diz quando a batalha é boa, os próximos minutos seriam de sangue. No direito de resposta, LRO respondeu à altura. Felipe Correa – ou Neno –, na sequência, pediu para que o público fizesse barulho por ordem de rima. Primeiro, para Felix. Depois, para LRO – para quem os gritos foram mais altos e, com isso, lhe renderam vitória no Round 1.

“LRO terminou…”, introduziu Neno. “LRO começa”, completou o resto da galera. Com mais 30 segundos de improvisação, LRO arrancou barulho com a rima: “Ele quer falar difícil, mas é moleque/ ‘Cê’ quer ser chamado do quê? Professor Pasquale do rap?”. Na resposta, Felix surpreendeu. Variando o ritmo da improvisação – hora pausado, hora acelerado –, tirou ainda mais gritos quando rimou, olhando para o púlico: “Me chamou de professor Pasquale do rap/ E esse aqui também é o Pasquase faz rap”. Felix levou o Round 2.

Com o empate, a final foi definida no Round 3, que tem o estilo chamado “bate-volta” – os rappers improvisam alternadamente, sem pausa; primeiro, fazem quatro rimas; depois, têm direito a outros três ataques com duas rimas por vez. Quando Neno pediu o barulho da galera para definir o campeão, o som foi mais alto para Felix.

Derramamento de sangue

Os 16 MCs proporcionaram batalhas de alto nível, também chamadas de “derramamentos de sangue”. Tanto é que, mesmo em um calor que beirava o insuportável dentro da casa, o público ocupou praticamente o salão inteiro durante as quatro fases (rounds 1 e 2, semi e final).

Kauan (de camiseta laranja) e Caio LRO - Fotos: Gabriel Centurion
Kauan (de camiseta laranja) e Caio LRO – Fotos: Gabriel Centurion
Logo na primeira fase, Kauan e LRO protagonizaram uma das batalhas mais pesadas, decidida no terceiro round, com muito barulho para os dois. O sangue jorrou ainda mais no duelo entre Magrello – que venceu – e Shiru. Daniel MC, organizador da Batalha da Viela e semifinalista da noite, mostrou toda a experiência que acumulou como em rinhas – que inclui 10 vitórias na tradicional Batalha do Santa Cruz.

Também chamaram a atenção as rimas dos rappers do Linha de Frente MCs: Daniell, com raciocínio rápido, explicitava nas respostas o que o rap significa na sua vida; Jorge Mario fez a galera rir com suas rimas bem-humoradas, ao mesmo tempo em que confirmou sua franca evolução desde que começou a rimar na Batalha da Matrix.

O domingo ainda contou com show do MR-13, formado por Lucas do Vale (MC Vale), Guilherme Genezere (MC Genésio), e Diogo de Britto (MC Rato) – os três também integram a organização da Batalha da Matrix. Eles cantaram músicas pesadas da sua primeira mixtape, “Antes de Mais Nada”, como Manicômio Madruga, Soco na Barriga e Crocodilo. Na sequência, os rappers do Nadidoiz cantaram as faixas mais pesadas do recém-lançado EP “Prefácio”.

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3 COMENTÁRIOS

  1. Pô, por quê essa babaquice/macaquice com bobalhões vestidos de norte-americanos? Funkeiros que não fazem funk e MCs rastaqueras. Farofada para gringo? A “música da periferia” brasileira é a que toca no Bronx? Essa antena só capta o que vem dos Estados Unidos? Coxinhas da falsa esquerda…

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