Como muitos brasileiros consumistas BRANCOS, sou usuário de aparelhos Apple e de serviços da operadora de telefonia celular Vivo. Mesmo apesar de toda a modernidade e eficiência vendidas pela publicidade dessas marcas reluzentes, às vezes rolam uns problemas.

Veja.

Em maio do ano passado, dois adolescentes de periferia (suponho) roubaram meu iPhone durante o baile funk da Virada Cultural. Tive de ir fazer todo o périplo para que a seguradora da Vivo (uma tal de Zurich) me devolvesse a iCoisa subtraída.

O périplo era uma novela digna de Walcyr Carrasco: fazer B.O., emitir documentos para a Zurich via correio (a era do e-mail parece ainda não ter chegado às telefônicas e seguradoras), fazer relatório para a Zurich, esperar a Zurich não sei quantas semanas ou meses. Suponho que o nome Zurich se refira a um padrão suíço, um padrão Fifa, de atendimento. Só suponho.

Enfim, não tive ~paciência~ de esperar o atendimento padrão Fifa do conglomerado Vivo na Apple de Zurich. Comprei outro aparelho enquanto seguia o périplo (meu primeiro erro na jornada – supondo que consumir produtos Apple, Zurich e Vivo constitua um feliz lote de acertos).

Nesse meio tempo, não pude fazer seguro do novo aparelho porque o seguro do anterior estava pendente. Pelo menos assim me explicaram, ou assim entendi, e me conformei (segundo e terceiro e quarto erros).

No decorrer dos meses seguintes, enquanto o novelo se desenrolava, ensaiei várias vezes entrar de novo numa loja da Vivo, para fazer o seguro do celular novo, ou refazer o do ressarcido, ou qualquer atitude que protegesse meus celulares-da-maçã de novelas futuras.

A cada tentativa, encontrei lojas Vivo irremediavelmente lotadas em shopping centers de grife (oi?) como Higienópolis e Iguatemi, onde, segundo consta, nunca houve rolezinhos.

Quase saí gritando que o governo brasileiro é um lixo, mas aí lembrei que a telefonia foi privatizada alguns governos atrás, numa história de terror que você conhece muito bem – e me calei novamente.

Desisti, desisti muito, repetidas vezes eu desisti (quinto erro, o mais fatal de todos, como o futuro breve mostrará).

Acordei 2014 renovado: deste ano meu seguro não passa! De volta dos feriados, fui â Vivo logo no primeiro dia, virado da viagem. Peguei senha, pleno de resoluções e perseverança para o ano novo. Aguardei 1h10 numa fila zoada até perder a paciência e desistir pela 99ª vez.

Dois dias depois, tentei a loja Vivo do shopping Frei Caneca, mais, digamos, popular. Não havia grandes filas, mas tampouco meus amigos da vivolândia ~puderam~ fazer o seguro – porque eu não tinha a nota fiscal em mãos e porque “apenas a loja onde o sr. comprou o aparelho pode reemitir sua nota”.

Acreditei na ~informação~, acatei, baixei a cabeça, adiei mais uma vez (sexto erro, mas fala sério, será que essa montanha de erros é toda e inteirnha minha mesmo?)

Três dias depois derradeira tentativa, perdi o maldito celular num táxi (sétimo “erro”). Sem seguro. Sem assalto. Sem utilidade nenhuma para o formoso serviço de “buscar iPhone” de dona Apple. Sem socorro do taxista. Sem devolução das inúmeras horas que já depositei nas lojas da Vivo a troco de nada ao cubo.

Não vou encompridar ainda mais a historinha, mas os últimos dias têm sido de muitas filas e muitas frustrações, todas por cortesia da @Vivoemrede. Em algum momento de conversas kafkianas, entendi que estou acorrentado numa coisa que a operadora (que antigamente se chamava Telefônica) apelida, escrotamente, de “fidelização” (12.345° erro). Eu pensava que quem era fiel era cachorro, e que eu não sou cachorro, não (erro recorrente).

Agora que Inês é morta e já perdi de vez mais uma iTraquitana, tenho me segurado em filas sofreias, entre velhinhas em pé, crianças berrando e alarmes que disparam dentro dos armários da Vivo – é herrando que se haprende.

(Tenho haprendido muito sobre shopping centers nos últimos dias.)

Conforme resisto nas filas, percebo que a Vivo conta vivamente com as desistências, para diminuir as filas. Funciona assim: quanto mais fila, mais gente desiste de esperar e mais a fila diminui. Suponho que a Vivo esteja satisfeitíssima com as vendas e com os lucros.

Gostaria de saber matemática, para conseguir calcular, na curva senoidal entre o tempo e o dinheiro, quanto$ reai$ eu já paguei por serviços e produtos não entregues pela Vivo, pela Apple etc. É uma medida abstrata, não quantificável, pelo menos não na aritmética dos fãs da #PrivatariaTucana, da #OperaçãoBanqueiro, da Vivo, da Apple, da Zurich, do Obama e da Merkel.

Meu caso segue em aberto. Nos computadores da Vivo e da Apple certamente consta que estou satisfeitíssimo com os serviços deles.

A elite branca consumidora braZileira temos o péssimo costume de enfrentar humildemente, caladamente e bovinamente as humilhações a que tais companhias privadas nos submetem. Acreditam$s que e$tá tudo incluso no preço – menos o café, a água, o alpiste e a alfafa, que não oferecem nas filas de espera do SUS, digo, da Vivo.

De minha parte, continuo por ora meus bisonhos rolezinhos pelos shoppings “bem” de SP. O nome do meu rolezinho é con-su-mo, e na opinião dos meus feitores eu sou um cidadão sa-tis-fei-to.

Atualmente, garotos parecidos com aqueles que levaram meu celular em maio têm entrado em massa em shoppings periféricos para se divertir, paquerar, ir na praça de alimentação e talvez consumir alguma coisa (quem sabe um aparelho Apple numa loja Vivo). Quando acontece esse terrível ato terrorista, o nome do que eles estão fazendo é ro-le-zi-nho.

Aí, se é rolezinho, a polícia bate, os lojistas fecham as portas de pânico de ser pilhados, o dono do shopping exige liminar na Justiça (Oi?) para proibir o rolê e, se tudo der certo, os consumidores da elite branca ficam felizes para sempre.

Polícia, lojistas, donos de shoppings, elite branca, Vivo e Apple são unânimes na plena convicção: falta ~educação~ e civilidade aos funkeiros-ostentação e aos rolezeiros.

P.S.: Meu rolezinho mais recente, pelo Shopping Iguatemi, valeu todas as penas, por conta da linda imagem que se segue.

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22 COMENTÁRIOS

  1. Tinha chegado à mesma conclusão que a sua, PAS, de que essas companhias e empresas enrolam, humilham e agridem a gente de tal forma por saber que não temos tempo/energia/disposição pra investir nos ressarcimentos devidos. E isso ocorre nos mais diversos níveis de serviços.

  2. “Como muitos brasileiros consumistas BRANCOS”
    “Em maio do ano passado, dois adolescentes de PERIFERIA (suponho)”.
    “Polícia, lojistas, donos de shoppings, ELITE BRANCA, Vivo e Apple ”
    Meu Caro, Alexandre Sanches.
    Apesar de termos o mesmo sobrenome não entendi seus comentários com suas frases listadas acima. Achei preconceituosas(SUPONHO)

  3. Mas que diabo te segura nessa Vivo? A livre concorrência está ai para você poder escolher outras operadoras. E nem precisa mudar de número. Lembre-se que não estamos mais no passado onde só tinha uma operadora e não tinha como fugir desse sofrimento. Já tinha saído na 3º tentativa.

      • Infelizmente não posso fazer este “trabalho” pra você, pois não moro na sua região. Mas aprenda a pesquisar, nunca é tarde. Antigamente era comum fazer pesquisa em tempos de inflação descontrolada. Sim, esperando a resposta de por que se mantêm na Vivo? Afinal, pra quem pode ostentar uma maçã, também pode paga uma rescisão de “fidelização”.

          • Fico triste em saber que está faltando,para um jornalista, um pouco de conhecimento de português acerca dos modos verbais. Fica um link, como dica, para ajudar a compreender melhor já que em substantivo próprio você está ótimo. Abraço de seu amigo, A.

            infoescola.com/portugues/imperativo-4/

        • Será que não temos opção mesmo? Algumas vezes, tive internet muito ruim. Troquei, e apenas de não ser perfeita, melhorou muito. Outras vezes que tive problemas com operadoras de telefonia, liguei na anatel e rapidamente a operadora me ligou de volta para resolver o problema. Acho que falta um pouco de conhecimento sobre os seus direitos e poderes de consumidor.

  4. Caro PAS,

    Belíssimo texto. Esta é a realidade brasileira: os serviços privados tem um padrão de serviço público. E o serviço público, ah, o serviço público ainda não atingiu algo que podemos classificar como padrão.

    Esta sua história pode ser repetida para banco, plano de saúde ou qualquer outro serviço no Brasil. Aqui somos reféns (mas o correto não seria o contrário?).

    E cadê as agências reguladoras, que deveriam justamente controlar estas coisas? Ah, deixa eu responder, estão nas mãos de indicados pelas próprias telefonias, bancos, planos de saúde…

    Grande abraço!

    OBS: Se está ruim assim, imagina se ainda fosse público…

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