Leandro Lehart fala sobre seu amor pelo suíngue da capital e a nostalgia dos sucessos do pagode dos anos 90

“Eu me sinto um representante da cultura do samba da cidade de São Paulo”, diz Leandro Lehart, com a tranquilidade de quem sabe o que está falando e que nunca vai concordar com a ideia de que a capital paulistana não combina com batucada. Nascido na Zona Norte de São Paulo, Leandro cresceu ouvindo samba e black music. Para ele, juntar as duas influências em uma coisa só foi algo natural. Senhor do seu suíngue, Leandro Lehart ganhou o Brasil inteiro com o grupo de pagode Art Popular e conquistou números impressionantes: cerca de 10 milhões de discos vendidos e quase 10 anos no topo da lista dos compositores brasileiros mais executados nas rádios.

Mesmo dominando o Brasil, o centro das atenções do cantor e compositor não saiu de São Paulo e o mistério da sua cultura plural e miscigenada. Ele pesquisou durante anos a história dos sambas-enredo paulistanos, reunindo cerca de 150 músicas de todas as épocas. Trabalho que o levou a produzir um CD e DVD chamado “Ensaio de Escolas de Samba”, com 13 regravações de sambas-enredo que ele considera importantes para o retrato da cultura da Terra da Garoa.

O lançamento deste CD tornou-se mais uma tentativa de mostrar a força e o tamanho da importância do samba para São Paulo. Em 2011, Leandro Lehart convidou todos os mestres de baterias das escolas de samba da capital para reger mais de mil ritmistas tocando juntos. “A Maior Bateria de Escola de Samba do Mundo” se apresentou em uma ensolarada tarde da Virada Cultural daquele ano e entrou para o Livro dos Recordes. O palco foi a Praça da República, no coração da capital, mesmo local onde Leandro Lehart vai fazer seu show nesta edição da Virada Cultural, no sábado (18), às 20 horas, ao lado de nomes como Almir Guineto, Jorge Aragão e Fundo de Quintal, figuras que ele diz terem “grande responsabilidade” sobre a sua formação musical.

Leandro Lehart conta que no show vai apresentar as músicas novas do seu novo CD, “Sambadelic”, cujas faixas misturam ritmos como samba e soul com música eletrônica. Incluindo “Eu Ainda Acredito”, que integra a trilha sonora de “Sangue Bom”, a nova novela das sete da Globo. Os sucessos da sua época de Art Popular, como “Agamamou” e “Pimpolho” também vão estar lá.

“Acho que vai ser emocionante ver as pessoas cantando minha música em um palco bem no centro da minha cidade. Vai passar um filme na minha cabeça”, diz Leandro, em entrevista exclusiva para o site da Virada 2013. Além das suas expectativas para sua apresentação, o cantor e compositor falou sobre o seu amor pela diversidade cultural de São Paulo, seus projetos atuais e a nostalgia do público que não deixa juntar poeira sobre os seus trabalhos anteriores. Confira a seguir.

Virada Cultural – Essa não é sua primeira Virada. Na verdade, sua primeira participação no evento foi gigante, com direito a inscrição no Livro dos Recordes e tudo, não é?

Leandro Lehart – Sim, em 2011 fiz a maior bateria do mundo lá na Virada, na mesma praça da República, no mesmo palco que vai receber meu show nesta edição. Foi o lançamento do meu disco chamado “Ensaio de Escolas de Samba” e eu convidei todas as baterias das escolas de São Paulo. Foi muito legal, foi uma coisa muito grande e teve uma repercussão espetacular. Tem até um minidocumentário no Youtube sobre essa experiência.

VC — E qual sua expectativa para esta edição?
LL — Bem, essa vai ser a minha primeira Virada, de fato. Tocar na Virada agora, na Praça da República, que é um lugar muito emblemático da cidade, vai ser demais. Eu lembro que, quando eu era pequeno, adolescente, eu passava ali como office-boy para entregar correspondências para toda aquela região. E, de repente, fazer parte de um evento tão importante naquele lugar, e que envolve tanta gente, vai fazer passar um filme na minha cabeça. Fora isso, vou estar ao lado dos artistas que sempre ouvi e admiro muito, como Jorge Aragão e Fundo de Quintal. Acho que vai ser inesquecível para mim. Quem sabe também vai ser inesquecível para quem fez parte da minha geração e acompanhou meu trabalho.

VC — Você pode adiantar o que vai levar para este show?
LL — Eu quero cantar todos os meus sucessos e também pincelar umas coisas do meu disco novo, chamado Sambadelic. Eu convidei uma rapaziada para tocar comigo, como o Bukassa, da banda Booka Mutoto e o Dj Pow, que vai fazer uns scratches lá para a gente, além de outras participações. Então, vou lançar as coisas do disco novo, que vem com essa proposta do eletrônico, algo bem vanguarda, a cara de São Paulo — que sempre tem que ser vanguarda em alguma coisa. Além disso, vou cantar os sucessos da minha carreira porque as pessoas querem cantar junto, né?

VC — E, sobre o seu disco novo, qual a proposta dele e o que podemos esperar desse seu novo trabalho?
LL — Bom, primeiro eu fiquei quatro anos fazendo esse disco. É quase que impensável fazer isso no Brasil, ninguém demora tanto assim trabalhando em um só album. Mas eu fiz isso porque eu acho que eu já consegui tudo o que eu podia com o Art Popular, vendemos quase 10 milhões de cópias e eu fiquei por muito tempo entre os compositores mais executados. O que eu quero agora é continuar sendo um artista popular, mas mostrar coisas novas para o público. Além das canções boas que eu pretendo escrever, eu quero propor uma sonoridade nova. O público gosta disso e está pronto para isso. Eu acho que a música brasileira anda meio óbvia ultimamente e eu quero propor algo diferente.

VC — Duas músicas suas fazem parte da trilha da novela “Sangue Bom”. Quais são elas? Essa sonoridade “nova” já aparece nelas?
LL — Sim. Inclusive, eu fui chamado para ser uma espécie de consultor da novela, mostrar como é a cultura da Zona Norte, de bairros como a Casa Verde e esse mistério da música feita ali. Depois disso, me convidaram para participar da trilha sonora da novela com duas músicas. Uma delas é o sucesso “Agamamou”, que agora eu regravei com uma pegada nova feita com bases eletrônicas e a participação do Emicida [rapper que também se apresenta na Virada Cultural 2013]. Ela foi gravada especialmente para trilha da novela. A outra é a “Eu Ainda Acredito”, uma música nova que eu fiz pensando em ser um hino do povo brasileiro, uma música para impulsionar as pessoas.

VC — Embora tenha saído do Art Popular há um bom tempo, você ainda mantém uma relação com o grupo. Como funciona isso?
LL — Saí do Art Popular há cinco anos, mas nunca vão deixar de me associar ao grupo. Em todo o lugar que eu vou, as pessoas ainda relacionam a minha imagem com a do Art Popular, não tem como. Atualmente eu estou apoiando eles, produzi o disco novo que foi gravado em Florianópolis e que será lançado em breve, e dirijo os vocalistas novos, tentando colocar o Art Popular no presente. Além desse trabalho de produção, neste ano também fui convidado para produzir o primeiro disco de samba do Olodum. Você sabia que o Olodum não tem nenhum disco de samba? Agora, imagina o cara sair da Zona Norte de São Paulo para dirigir o bloco mais famoso da Bahia, ouvindo aquelas batidas no Pelourinho? Vai ser muito, muito legal.

VC — Você tem reparado que as pessoas estão voltando a ouvir os sucessos do pagode dos anos 90, como uma espécie de nostalgia? O que você acha disso?
LL — Nossa, tenho visto muito disto! Eu acho que essa geração da década de 90 até mais ou menos 2004, a gente tinha muita coisa, muitos sucessos, e acabamos envolvendo duas ou três gerações nisso. Ultimamente, as pessoas começaram a querer ouvir as músicas de novo e às vezes dizem para mim que as músicas dos anos 90 eram mais legais do que as que são feitas hoje em dia. Eu sei que existem até festas apenas para tocar músicas dos anos 90. Eu nunca fui em uma, mas queria ir [risos]. Eu ia achar muito engraçado. Mas, é claro que a gente tem orgulho disso. A gente levou o samba onde o samba nunca teve, levou para gente que não tinha acesso ou para aqueles que torciam o nariz. Eu acho que as pessoas estão percebendo hoje em dia o que a gente fez naquela época. Eu acho isso muito legal.

(Texto publicado originalmente no blog da Virada Cultural)

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