O texto de Bia Abramo sobre a morte de Magro, somado às conversas de Twitter com Bia, Walter Hupsel e outros compadres, assanhou por aqui a saudade de ouvir MPB 4.

É o velho e deletério vício de sempre: só nos damos conta do quanto gostamos de alguém quando o perdemos. Em contraponto a Hupsel, no Twitter, Bia e eu concluímos que há uma má vontade, alimentada pelo desconhecimento, com conjuntos vocais tipo MPB 4 e Quarteto em Cy. Mas ambos os grupos têm discos sensacionais, sobretudo nos bicudos anos 1970.

Anos atrás, durante uma entrevista, o homem de samba Eduardo Gudin me provocava sobre o descaso da imprensa musical com esses artistas que Bia classifica como “nacional-populares”. Citava justamente o MPB 4 como exemplo. Escutei a crítica gentil do Gudin, assimilei e nunca mais me esqueci o recado que ele havia me passado. Fui conhecer mais a fundo a discografia do quarteto. (Ironia: os downloads clandestinos, que Ana de Hollanda tanto discrimina, são a única alterrnativa além dos sebos de vinil para quem quiser entender para lá dos clichês o grupo que nutriu boa parte da identidade musical, artística e política do irmão mais famoso da ministra.)

Fui ouvir mais MPB 4, mas nunca os entrevistei, e acredito que Bia também não. Nunca mais teremos o Jumento, mas ainda não é tarde para reparar essa grosseira injustiça – vamos aí, professora Bia?!!

Enquanto seu lobo não vem, apelo para o YouTube (outra ferramenta que não conta com declarações de simpatia dos Buarque de Hollanda) para fazer um compilado de algumas de minhas canções prediletas nas vozes exímias do MPB 4.

Para começar, uma de meu ídolo Jorge Ben, do álbum Cicatrizes, de 1972: “Bom Dia, Boa Tarde, Boa Noite”. Faça o doce favor de reparar nas harmonizações vocais, que transformam Jorge Ben em MPB 4.
 

 
Do mesmo disco é “Ilu Ayê (Terra da Vida)”, versão em arranjo meio samba-rock do samba-enredo da Portela em 1972, mais conhecido na voz de Clara Nunes.
 

 
Em Palhaços & Reis (1974) está a primeira e suingada versão de “Fé Cega, Faca Amolada”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, que serviria de matriz para a releitura em quarteto vocal dos Doces Bárbaros (você sabe quem são), em 1976.
 
O álbum 10 Anos Depois, de 1975, é um quem-é-quem da MPB da época, com nada menos que (entre outras) “De Frente pro Crime”, de João Bosco e Aldir Blanc, “Galope”, de Gonzaguinha (amo, mas não encontrei vídeo da versão original), e “Passaredo”, de Chico Buarque, que seria aproveitada pela Globo na sensacional trilha sonora do infantil Sítio do Picapau Amarelo, em 1977.
 

 

 
Atualmente no ar no remake global de Gabriela, “Porto”, de Dori Caymmi, vem da primeira versão da novela, de 1975 – soa como uma trilha sonora possível da Bahia, do Brasil.
 

 
No maravilhoso Canto dos Homens (1976) está “O Ronco da Cuíca”, de Bosco & Blanc, tradutores do Brasil de Lula 30 anos de Lula virar presidente. (Esse disco contém, também de Bosco & Blanc, o forró debochado “Foi-Se o Que Era Doce“, com crítica frontal ao jabá entre gravadoras e veículos de mídia: “Jabaculê, vixe!, espetacular/ assunto assim às vez é mió calar”; infelizmente, não se encontra no YouTube, nem na versão MPB 4 nem na de Maria Alcina, de 1974.)
 

 
No LP Bons Tempos, Hein?! (1979), o ex-Quarteto CPC regravou a paradigmática “Cebola Cortada”, lançada por Fagner três anos antes, em releitura mais suave que a original, mas ainda assim bastante eloquente.
 
Em Vira Virou, de 1980, surgiu “A Lua”, de lirismo absoluto, reaproveitada no ano seguinte no álbum Adivinha o Que É, feliz incursão infantil do MPB 4 após o êxito das participações no Sítio do Picapau Amarelo, na Arca de Noé de Vinicius de Moraes e no Flicts de Ziraldo e Sérgio Ricardo.
 

 
Antes de terminar, pra não dizer que não falei das flores, deixo a voz solo de Magro em Os Saltimbancos, tema do Jumento, o predileto da Bia – e de todos nós que sabemos bem o que é trabalhar de graça, ou a troco de banana.
 

 

 
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