Segue abaixo, com o mesmo enunciado, mas em versão mais comprida, a entrevista concedida por Inezita Barroso no finalzinho do ano passado, e publicada originalmente no Yahoo! Brasil, sob o título “Inezita, rainha da música caipira, fala de funk, rap, tecnobrega e política“. (Até falamos sobre os “novos sertanejos”, mas o paranaense Michel Teló ainda não havia virado o alvoroço da hora por ter sido abordado pela revista milionariófila estadunidense Forbes, e essa chance me escapou pelos dedos…)

Capa de Vamos Falar de Brasil, de 1958

Com 86 anos de vida e 60 de carreira profissional, Inezita Barroso é rainha incontestável do folclore musical brasileiro, como demonstra o grande número de clássicos enfileirados na caixa recém-lançada O Brasil de Inezita Barroso, que agrupa seis de seus primeiros discos, lançados originalmente entre 1955 e 1961.

Da São Paulo de “Lampião de Gás” ao Pará de “Uirapuru”, do Ceará de “Luar do Sertão” ao Rio Grande do Sul de “Prenda Minha”, parece não haver estado do país que ela não tenha acariciado com sua voz de trovão. Cantora de todas as regiões, ela unificou os interiores todos do Brasil, sob o apelido de “cantora caipira” – mesmo sendo uma paulistana da Barra Funda, de família rica de fazendeiros.

Vanguardista desde pelo menos 1954, quando terminava a “Moda da Pinga” trançando as pernas “de braço dado com dois sordado”, Inezita nunca abriu mão da luta em favor da condição feminina na música brasileira. Do mesmo modo, misturou cantos indígenas, africanos e europeus sem preconceitos e sem criar falsas hierarquias entre eles.

Tampouco parou no tempo em qualquer tempo de sua história – nem agora, quando, oitentona, participou da entrega do Troféu Sexo MPB e assistiu, sorridente e feliz, a apresentações do rapper mineiro Flávio Renegado e da tecnobrega paraense Gaby Amarantos. Na entrevista a seguir, Inezita fala do passado, do presente e do futuro do Brasil.

Pedro Alexandre Sanches: Nos encartes dos CDs, você conta que é descendente de índios e de paraenses. Pode contar um pouco sobre as origens da sua família?

Inezita Barroso: Pois não. A minha mãe é do interior de São Paulo, de várias cidades. Meu avô tinha 18 filhos, homens e mulheres, e os homens foram todos pra fazendas, depois de terem se formado em farmácia, que era o chique. Largaram o diploma e foram embora pra fazenda. E as mulheres se casaram por aqui, ficaram por São Paulo mesmo, ou foram morar em fazenda e de vez em quando vinham pra cá. Numa dessas vindas da minha mãe, eu nasci aqui, na capital, aí fiquei paulistana também. A descendência dos índios é do lado da minha mãe e do lado do meu pai. Tenho muito orgulho disso, acho lindo. Gosto muito de ser descendente deles. É uma coisa muito bonita, a gente traz no sangue isso aí, né? Tenho várias amigas indígenas, inclusive uma que é advogada, formou-se e tal, prima do Juruna. É uma doçura de criatura, está sempre enrolada também com folclore, artesanato.

PAS: É pela descendência indígena que você tem tanta afinidade com o folclore de várias partes do Brasil?

IB: Tem muito, muito a ver. Meu pai era filho de paraense com paulista. Meu avô paraense morreu muito cedo, era jornalista, escritor, professor de grego e latim, ói que cabecinha. Ele era neto de índia. Então tenho índio dos dois lados, mãe diaba louca. Não me deixem brava que vem à tona (gargalha), ai. Eu pesquisei muito, fiz viagens de jipe, fiquei dois meses girando pelo Brasil. Conheço o Brasil como a minha mão.

PAS: Também tem descendência europeia, africana? [Obs.: como vários leitores do Yahoo denunciaram, o termo usado na pergunta deveria ser “ascendência”, e não “descendência”.]

IB: Não, africana não tem. É tudo espanholada louca, espanhol e índio dos dois lados.

PAS: Você gostava muito de gravar congadas, cantos de escravos.

IB: Muito, por causa do ritmo, que é lindo. Foram eles que trouxeram o verdadeiro ritmo brasileiro, o samba, os tambores. Os índios eram muito suaves na música, na flautinha, nas danças religiosas. As mulheres não tomavam muito parte, eles eram bem machistas – ainda são, os caipiras descendentes. A gente brinca que você está andando numa estrada nova, bonita, de carro, e no acostamento tem o pessoalzinho. Você diminui a marcha, é o caipira no cavalo com um filho na garupa. Aí, lá pra trás do cavalo, é o cachorro. Atrás do cachorro (ri), são a mulher e as meninas carregando a mudança inteira. Puxa, já começou mal.

PAS: Falando em machismo, no disco Inezita Apresenta (1958), você cantava músicas de cinco mulheres compositoras, fazia questão de fazer isso. Por quê?

IB: Porque ninguém queria gravar as composições das mulheres. Isso é muito injusto, por que não? Vou gravar! E foi um sucesso, o lançamento da Zica Bergami, do “Lampião de Gás”, e de outras compositoras que não tinham nem gravado nem eram muito cantadas. Ah, não, vamos levantar essa gente aí.

PAS: Era uma batalha que você mesma travava, sua família não era muito simpática a que você cantasse e tocasse violão.

IB: Não era nada simpática. Enquanto eu era criança era muito engraçadinho, porque era na quermesse, na igreja, na escola, no aniversário de uma colega… Mas quando fiz 11 anos, meu pai: “Chega, não vai pisar em palco nenhum, fica cantando assim”. Eu sofria com isso, porque meu sonho era pisar no palco. E pisei.

PAS: Mas teve que enfrentar o pai pra conseguir ir adiante?

IB: Ah, com jeito foi… Meu pai era pessoa muito boa, inteligente, compreendia tudo. Depois ele afinava meu violão. Não sabia tocar, mas sabia afinar (ri). Eu, de manha, dizia: “Ah, afina meu violão…”. E ele afinava direitinho (ri). E a minha avó, mãe dele, cantava muito bem.

PAS: Era ela que tinha a voz parecida com a sua?

IB: Igualzinha. Depois visitei parentes dela em Paraty, Ubatuba. Nossa, choravam quando eu chegava lá. Até de físico eu era parecida com ela.

PAS: Se não fosse o machismo da época talvez sua avó teria sido a verdadeira Inezita Barroso?

IB: Não, foi mais sério. Em Belém do Pará, tinha uma festa de caridade no teatrão lá deles, e pediram para minha avó cantar na festa. Ela tocava piano muito bem também. E ele sempre de olho, sempre ciumentão. Ela fez um vestido lindo, ensaiou em casa. No dia da festa, o teatro lotado, ela desceu uma escadinha, isso ela contava e até chorava. “Ele olhou pra mim e falou: ‘Nós não vamos nessa festa. Você está muito bonita, não vai não, não vai cantar nada’”. Foi um vexame. Ela ficou tão louca que falou: “Tá bem, não vou cantar, vou trocar de roupa, o povo vai ficar esperando, vocês vão dar uma desculpa lá”. Tirou aquela roupa e foi pro mar, e jogou a chave do piano no mar. “Nunca mais você vai me ouvir enquanto você viver”. O avô ficou louco da cabeça (ri). Você vê o que é o ciúme, o machismo.

PAS: Você passou por alguma cena parecida?

IB: Não, só comecei a carreira profissional por causa do meu marido. Ele era do Ceará, lá a cultura era totalmente diferente. Aqui em São Paulo é que era aquela história de que mulher não pode ser artista, mulher que é artista não presta, não pode subir no palco que não presta – umas bobagens de bolor aí de família antiga.

PAS: Então o cearense era mais avançado que o paulista nisso?

IB: Super-aberto! Completamente diferente! Adolfo Cabral Barroso, morreu faz uns cinco anos.

PAS: Você estava casada com ele ainda?

IB: Não, me desquitei lá atrás, há muito tempo já.

PAS: Foi avançada nisso também?

IB: Também, mas fui muito apontada como louca (gargalha). Mas passei por cima de tudo, porque o que eu queria era cantar. Faria qualquer sacrifício pra isso, é o que faço até hoje, com 60 anos de carreira, sem contar a parte de criança.

PAS: A “Moda da Pinga” foi um choque, por ser uma mulher cantando?

IB: Foi um escândalo (gargalha), um escândalo. Mas eu não ligava, não, e eles achavam muito engraçado. Falava de bêbado, e eu mais ou menos imito uma bêbada cantando, então chocava muito. Agora, não, dou show pra 5 mil pessoas e já tem um grupinho cercando, “canta ‘Moda da Pinga’!”. Nem comecei o show ainda, deixa pro fim, rapaz! E sempre tem um bêbado na plateia (gargalha), é muito engraçado.

PAS: Você gostava de bebida, ou era só um personagem?

IB: Não, era só um personagem. Eu gosto de cerveja – quente, por causa da voz. É horrível. Não, não é horrível, já acostumei. E, quando estou com um pigarrinho, tomo um golinho de uísque, também puro. Só.

PAS: Qual é sua avaliação sobre o papel da mulher na música hoje?

IB: Olha, eu gravei até Dolores Duran, viu? Engraçado, a música brasileira misturou tudo, né? Antigamente você ficava naquele estilo, cantava naquele estilo, aí ia ficando famosa. Agora, não, você vê compositoras boas, mas elas ficam indecisas pra encarar um estilo. O meu foi de raiva, né? (ri), encarei a música caipira e falei: “Acabou, agora é só caipira”. Esses discos todos que saíram são anteriores a essa fase em que comecei a ser caipira, graças a Deus.

PAS: É como se a caipira tivesse virado uma personagem sua? Por que você virou uma artista importante para a música caipira, e não além disso?

IB: Porque a música foi se diluindo. Do jeito que estava, parecia que a música brasileira ia morrer. Viola, nem pensar. Caipira era xingação. Ainda tem umas cidades do interior, meio metidas a bestas, que não aceitam. Então era assim: “Vamos fazer um show com a Inezita?”. “Ai, não, ela é caipira, ela canta música caipira”. Mas era lá que eu ia com a minha viola pra irritar todo mundo (gargalha). Eu sou briguenta, viu?

PAS: Às vezes parece que o Brasil quer ser só litoral, como se o interior não fosse a maior parte do país.

IB: É que não conhecem. É uma falta de aprender, de pesquisar essas coisas, que são lindas. Não é só na música, é tudo. “Ih, comida caipira não presta!”, quando a moça é malvestida é caipira. Que que é isso? Não é um palavrão. As minhas palestras eu começo, cumprimento a plateia, e já falo: “Caipira não é um mendigo, e vamos em frente agora”. Aí eu descasco mesmo.

PAS: Muitos brasileiros têm vergonha das próprias origens?

IB: Mas têm! Ainda têm, e muito! É um pouquinho velado, mas tem muito.

PAS: Paulistas, por exemplo, não?

IB: Que é isso? João Pacífico era um dos maiores caipiras, compositores, fez três anos de escola rural. Com dez anos fazia poesias pra professora. Fez “Cabocla Tereza”, “Pingo d’Água”, “Mourão da Porteira”, tudo sucesso. E morreu bem velhinho, ainda compondo, trabalhando com Adauto Santos. A gente vem brigando há muitos anos, há muitos anos.

PAS: Mas São Paulo, a capital, tem essa imagem de moderna – os paulistanos não tentam abafar sua face interiorana, caipira?

IB: É verdade. Agora (ri), quem mais prestigia esse estilo e conhece é estrangeiro. Dou recitais só de música caipira, com viola, a casa lotada, 90% são estrangeiros. Muitos japoneses. Aí tira a máscara, né?

PAS: Como nasceu em você o amor pela música do Brasil inteiro, e não especificamente deste ou daquele estado?

IB: Porque acho que a música brasileira é diferente das outras. É muito boa, pela nossa mistura justamente. Temos um ritmo que ninguém mais tem. Se manda uma cantora de samba pra Europa, tem que mandar pandeirista, percussionista, porque lá eles não conseguem, é uma coisa que não se escreve na pauta. É de bossa, de raça, uma coisa muito séria. E tem gente que não enxerga. Também tem gente que canta música caipira, um ritmo só. São 500 mil (ri), não dá nem pra levantar tudo. Nossas danças são muito importantes, do Brasil inteiro.

PAS: Tratam o sul como se fosse só europeu, e não caipira, e o disco Danças Gaúchas (1961) mostra que não é verdade.

IB: Não, não é verdade. Eles se defendem muito, né? Já fui muitas vezes pra lá, eles gostam demais de mim. Gravei as danças gaúchas, do interior do Rio Grande do Sul. Ninguém queria gravar lá. Barbosa Lessa fez uma peça sobre o interior do Rio Grande, e foi levada no teatro em Porto Alegre, fui assisti e já fiquei louca de cara. Fazia um frio do cão, os atores todos de poncho. Antes de eu entrar no palco, mandaram esperar um pouquinho e forraram o palco com os ponchos pra eu passar. Tem umas coisas que não troco por nada, isso aí eu não esqueço. Fazem apostas, “não é possível, ela é gaúcha”, “não, ela é paulista” (ri). Como comecei a carreira em Pernambuco, na Rádio Clube, com Capiba, lá até hoje eles não admitem que eu fale que sou paulista (ri).

PAS: No dia do Troféu Sexo MPB, estava lá Gaby Amarantos, do Pará, e depois eu soube que você foi muito carinhosa com ela, elogiou ela como artista. Como foi isso?

IB: Gostei. A música me tocou, está no sangue da gente. Ninguém troca de sangue, nasceu daquele jeito, é daquele jeito. Também, quem nasceu pra não gostar não gosta, até morrer.

PAS: A música dela é misturada, eletrônica, chamam tecnobrega. Sua sensibilidade está aberta pras invenções da molecada?

IB: Eu sou xereta, vou pesquisar, dei aula bastante tempo, tive muito contato com jovem. Ou eles iam numa festa folclórica comigo, e às vezes eu ia numa festa deles, muito pobrinhos os ritmos (ri), aí eu forçava na aula: “Com tanto ritmo brasileiro, vocês só tocam esse?”. E eles com aquelas desculpas de jovem… Mas catequizei muita gente (ri).

PAS: Gaby parece uma índia amazônica…

IB: É, ela é muito charmosa no palco, né? Tem muita classe, eu adorei a apresentação dela.

PAS: Também fiquei olhando embevecido você acompanhar o show do Flávio Renegado, um rapper, com o DJ mexendo no toca-discos…

IB: Ah, eu conheço, sou muito xereta. O que é pesquisador, meu filho! Se mete em qualquer lugar pra saber das coisas. E eu gostei, gostei, porque, apesar de ser uma coisa estranha estragar o disco (ri), dá numa coisa boa, um ritmo gostoso. Ele estava fazendo com toda seriedade, você não vai dizer “não gosto”. Mas eu gostei mesmo, tem que conhecer tudo em matéria de música pra dizer “isso presta e aquilo não”.

PAS: O que os meninos pobres das periferias fazem não é, de algum modo, o folclore urbano de atualmente?

IB: Não, não chega a ser tão importante, no meu jeito de ver. Tem muita coisa estranha, por exemplo aqueles conjuntos que apareceram na prisão. Fui ver também, a gente às vezes vai cantar por aí no Natal, na cadeia. Quero fuçar tudo. Quando tem baile de forró aqui perto eu vou (ri). É muito gozado que eles acham estranho, põem aquela ideia na cabeça, não sabem muito definir folclore, acham que é coisa de rico, e é justamente o contrário. Aí ficam admirados, “você gosta?”. Falo: “Gosto! Fui casada com cearense, não vou gostar de forró?”. É muito bom. Alguns ritmos já alteraram muito, mas deixa pra lá, pelo menos é baseado numa coisa brasileira. Não tenho nada contra música estrangeira, conheço muito e gosto de muitas, principalmente a espanhola. Então não tenho preconceito nenhum, quero ver, e aí sempre chego à conclusão de que a nossa é melhor (ri), por causa da mistura.

PAS: O rap, o funk carioca, ainda que às vezes não sejam ricos musicalmente, expressam a realidade de quem faz. Não é um pouco o que o maracatu ou o samba significam pra quem pratica esses ritmos?

IB: É… Acho bonito isso, muito sério.

PAS: Foi muito bonito também ver você ali aceitando a moça do tecnobrega, o moço do rap…

IB: Com música eu vou até o fim (ri), eu vou ver o que é. Mas tem umas que eu não gosto, decididamente, porque acho meio tapeação. Por exemplo, música não-sei-o-quê universitária. Já teve forró universitário no Nordeste, pra que fazer aqui? É samba universitáiro? Não sei qual é o primeiro nome.

PAS: Tem o sertanejo universitário também.

IB: É, mas não casa, né? Precisa casar.

PAS: Mas não é porque os caipiras de hoje em dia já nasceram mesmo nas cidades? A música caipira deles é urbana, não é mais o rapaz que veio do sítio.

IB: É, mas aquele que cantou lá, do “suave” (Renegado), nossa, como ele é legal. Gostei até da música (ri). Está bem-feito, a gente gosta. Agora, se você está vendo que é uma exploração, que não é nada, que inventou aquilo…

PAS: Isso que chamam sertanejo universitário, talvez os bisnetos de João Pacífico, você acha tapeação?

IB: É totalmente, tem tanto bisneto do Pacífico que a gente põe no programa. O povo ama, ama. Outro dia foi uma dupla lá, ninguém conhecia. Eu ouço tudo antes de por no ar, ouvi e falei: esses aqui são bons. “Ah, mas é uma duplinha nova.” Quem vai substituir os velhos? Tem que começar, vamos por no palco, vamos ver. Eu gostei, um toca viola, o outro violão. Entraram no palco, humildes, dava até dó, calça jeans bem gasta. Um preto e o outro branquinho. O branquinho começou a cantar, tá vendo como a voz dele é afinada, boa? Aí entrou o neguinho, tocando viola, pelo amor de Deus!, que maravilha. Dá vontade de sair da cadeira e dar um beijo!

PAS: Como é o nome deles?

IB: Não lembro agora, foi há uns quatro programas. A gente está puxando essa gente. Fabinho, que era do Raul Gil, toca uma viola de morrer. Catei a dupla, levei no programa, ele já gravou um disco, está todo importante, agradece. “Você merece, pensa na tua carreira, não tem que agradecer.” Vão lá, me beijam, me abraçam, é tão gostoso isso aí. É o que eles podem dar pra gente, é gente muito pobre. Mas o neguinho deu um baile! Está aparecendo muita gente boa, a Bruna Viola, lá de Cuiabá, nossa senhora. É bonita, tem uma baita presença de palco, toca uma viola de morrer. Quando ela vai, agora, o auditório vai abaixo, mas desde a primeira vez falei: essa menina vai, essa vai.

PAS: E Paula Fernandes? É uma mulher compositora, como as que você lançava…

IB: Já ouvi. Eu acho um pouquinho fraco.

PAS: Por quê?

IB: Não sei, acho que é o tipo de música. Não sei, acho que pensaram muito, muito depressa. Não pode ser rápido, sabe? A Globo tem essa mania. É chato, a obrigação da gente é fazer o artista quando é bom.

PAS: Mas não é bacana ser uma mulher que compõe suas próprias músicas? É o que você lutava pra ter muitos anos atrás.

IB: É, é… Tem valor, claro. Mas no nosso estilo tem muita gente boa, violeiras, Juliana Andrade, uma violeira de primeira, de mão cheia, começou no Viola, Minha Viola. Outro dia fizemos um programa só de mulheres violeiras. Nós temos vários afilhados…

PAS: Você, que lutou tanto pela emancipação feminina, como se sente tendo uma presidenta mulher no Brasil?

IB: Eu não tomo conhecimento de política (ri). São duas coisas que eu odeio: matemática e política.

PAS: Puxa, mas não acredito que você não fique nem um pouquinho curiosa de ver como ela (Dilma Rousseff) está se saindo.

IB: Não, eu acho ela simpática, mas ela ainda não mostrou tudo que é, não. Acho que está muito no começo.

PAS: Quer dizer, você está olhando, só não quer comentar, é isso?

IB: É, porque a gente não tem certeza, é um fato muito novo, muito novo. Eu gosto do jeito dela, gosto. Mas não dá muito tempo da gente ficar assistindo discurso. Discurso é horrível.

PAS: É um fato novo, mas Inezita já fazia algo parecido cantando a “Moda da Pinga” em 1954, não?

IB: É isso mesmo, é. Falo que nasci com a espada na mão. Já nasci brigando (ri).

Capa de Eu Me Agarro na Viola..., de 1960

 

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