foto: nan


até os 15, cuidei de cavalos, bodes, charretes e arreios.
não fui bom nisso, meu irmão jack é quem segurava a onda.
para curar garrotilho (um tipo de gripe de cavalo), tinha de fazer inalação do focinho do bicho em lata de óleo de 20 litros.
para curar casco quebradiço, tinha de ferver óleo queimado de carro e fazer imersão.

era dureza pra gente: as meninas não pareciam dar mole para quem já vinha com desodorante cheiro de suor de cavalo.
(sei lá, às vezes podia ser até um charme adicional, quem sabe?).
lúmpens do norte do paraná.

uma vez um dos meus amigos mais punks fez a minha cabeça para “emprestarmos” a charrete do meu pai.
colocamos uma égua chucra e saímos alopradamente pela cidade.
na descida da rua abolição (onde morreu minha mãe), não deu para frear e subimos na carroceria de um fusca.
o homem ficou puto, falou com meu pai, os amigos se pirulitaram e nós fomos para o pelourinho.

(escrevo notas na mercearia, mas se ao menos essa mulher na mesa ao lado, com o poodle, parasse de tossir).

para ler, havia as fotonovelas de minhas irmãs.
tinha uma que eu adorava, era meio um james bond dos pobres: jacques douglas.
revi hoje umas capas de jacques douglas antigas no google images. dei muita risada.

depois de 25 anos sem pátria, acho que tenho um sotaque impreciso.
tem gente que acha que é de minas.
de vez em quando denuncia-se o interiorzão velho do norte novo do paraná, quando pronuncio os erres.
fico parecendo ator da globo em novela caipira.
outro dia, em ipanema, uma vendedora de cangas perguntou de onde eu vinha.
“sou do méierrrrr”, brinquei, e acho que ela tá rindo até hoje.

foi anteontem, na praça panamericana, que flagramos a cena aí da foto.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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